Um empate fora com o Liverpool, uma derrota caseira frente ao Manchester City, o resto só vitórias até à décima jornada. Ao contrário do que se tinha passado nas últimas temporadas, o Chelsea recuperou aquilo que o afastou desde 2017 na Premier League – a regularidade. Aliás, é assim desde que o treinador alemão Thomas Tuchel assumiu o comando da equipa e se sagrou mesmo campeão europeu: os blues podem não marcar muito mas sabem dominar jogos, sabem quando marcar e raramente sofrem ou sequer concedem oportunidades. No entanto, e antes da paragem, essas premissas acabaram por ruir, mesmo que sem consequências práticas em termos de liderança do Campeonato pela derrota do Liverpool com o West Ham.

Os ases da Champions foram uns duques pelos ares: Liverpool de Diogo Jota sofre primeira derrota da época com West Ham

Num encontro em que dominou quase por completo, teve 70% de posse, 25 remates entre enquadrados, ao lado ou intercetados e 14 cantos, Havertz adiantou o Chelsea em Stamford Bridge mas Matej Vydra ainda foi a tempo de empatar para o Burnley no último quarto de hora, impondo uma inesperada igualdade ao líder do Campeonato inglês num daqueles jogos que no final das contas são por vezes recordados. Por isso, e no regresso das provas de clubes, o único caminho para dar a volta passava por tentar ganhar num dos campos mais complicados da prova, o do Leicester. Mesmo que se falasse de tudo menos isso.

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Esta semana falou-se por antecipação do duelo com a Juventus que servirá para definir o primeiro lugar do grupo da Liga dos Campeões (e a subida a cabeça de série no sorteio para os oitavos). Falou-se daquele erro muito criticado por Edouard Mendy, guarda-redes que por lapso foi confundido com Benjamin Mendy, o lateral do Manchester City que foi acusado de mais dois crimes de violação. Falou-se do autêntico leilão que parece estar a ser preparado entre PSG, Real Madrid e Bayern pelo central Rüdiger. Falou-se do aumento brutal dos preços para os lugares de época em Stamford Bridge (de 1.490 para 4.640 euros), justificado com as reformulações que foram sendo feitas no recinto entre pontos de venda, wi-fi e cadeiras.

Falou-se de muito sobre o Chelsea mas nem tanto sobre a deslocação a Leicester, pelo menos até chegar a conferência de imprensa de antevisão de Tuchel. “É complicado preparar jogos às 12h30, não estamos habituados e mudámos um pouco as nossas dinâmicas por causa disso. Não haverá muitos treinadores que gostem de receber todos os jogadores após as seleções na sexta-feira e depois jogar logo no sábado às 12h30 mas recuso falar em desculpas e estamos preparados para jogar em Leicester e mostrar como estamos fortes”, destacara o técnico germânico antes da partida que colocava em jogo o primeiro lugar da Premier League por ter o Manchester City e o West Ham apenas a três pontos de distância (26-23).

N’Golo Kanté. O patrão da seleção francesa, que recolhia lixo nas ruas durante a infância

A resposta dificilmente poderia ser melhor e em 45 minutos o Chelsea resolveu praticamente o encontro ligando o “rolo compressor” e atropelando um Leicester que não fez um único remate à baliza. Pelo meio, já depois de Havertz ter acertado no ferro, Rüdiger inaugurou o marcador de cabeça na sequência de uma bola parada aos 14′ (confirmando o especial gosto em marcar aos foxes, que sofreram metade dos oito golos do alemão na Premier) e N’Golo Kanté voltou a mostrar que é jogador para discutir os primeiros lugares da Bola de Ouro, assinalando o regresso ao estádio onde se sagrou campeão em 2016 pela equipa da casa com um grande golo num remate de fora da área sem hipóteses para Kasper Schmeichel (28′).

O médio francês, que em pequeno chegou a apanhar lixo para ajudar a família, foi mais comedido na altura dos festejos por respeito ao antigo clube. E percebe-se porquê: depois de passar pelo Boulogne e pelo Caen, foi no Leicester que fez a temporada que lhe mudou a carreira em 2015/16 e que lhe valeu um milionário contrato com o Chelsea nesse verão depois da final perdida no Europeu de seleções contra Portugal. Agora, e mais uma vez, mostrou que continua agradecido aos foxes pela oportunidade e a melhor maneira de fazer isso foi também arrancar mais uma exibição digna pelo menos de top 10 da Bola de Ouro depois de uma época em que foi o MVP nos oitavos, nos quartos e nas meias da Champions até ao triunfo na final discutida no Estádio do Dragão por 1-0 frente aos também ingleses do Manchester City. E o triunfo ganhou ainda outra expressão no final, com Pulisic a fazer o 3-0 na área após assistência de Ziyech (71′).