Jogo grande em Anfield este sábado, com o Liverpool a receber o Arsenal, num clássico do futebol inglês que marcava a 12.ª jornada da Premier League. Um clássico em que se esperavam, para gáudio dos fãs que viam o jogo sem qualquer pretensão: é que nos últimos 20 jogos entre reds e gunners foram marcados 92 golos. Para quem tinha sim parcialidade a assistir ao jogo desta tarde, os números contavam histórias diferentes, de confiança (Liverpool) e de esperança (Arsenal).
A equipa orientada por Jürgen Klopp apenas perdeu uma vez nos últimos 15 jogos frente ao conjunto de Mikel Arteta, com a equipa londrina a ganhar apenas uma vez desde o verão de 2015. Em 2020, o Arsenal venceu o Liverpool para a Premier League, mas foi uma exceção à regra, visto que o emblema de Merseyside marcou pelo menos três golos nos últimos cinco jogos que venceu em casa frente ao clube da capital inglesa. Klopp tem também um historial positivo frente ao adversário deste sábado desde que chegou a Liverpool, com três empates e sete vitórias.
No entanto, as equipas vinham de resultados e sendas muito diferentes. O Arsenal vivia um excelente momento na temporada, visto que depois de uma derrota por expressivos 5-0, a 28 de agosto no campo do Manchester City, a equipa de Arteta leva 10 jogos sem perder para todas as competições, sendo uma das equipas em melhor forma na Premier League. Já o Liverpool sofreu na passada jornada uma derrota no terreno do West Ham (3-2) que acabou com uma combinação de 20 jogos sem perder para o campeonato. Curiosamente, foi uma equipa de Londres a acabar com a senda red, tal como antes desses mesmo 20 jogos a equipa de Klopp havia perdido consecutivamente para dois londrinos: Chelsea e Fulham. Curiosidades.
When @LFC and @Arsenal meet at Anfield, it's always fun ????#LIVARS pic.twitter.com/rsOjin8DZh
— Premier League (@premierleague) November 20, 2021
Com o jogo deste sábado a surgir depois da pausa para os compromissos internacionais, Jürgen Klopp confessou que não gosta da pausa para as equipas nacionais: “Odeio as pausas para as seleções. Não ajuda nada em relação às lesões. Preferia ter jogado na semana seguinte à derrota frente ao West Ham. Se não tivessem ido às seleções, os jogadores teriam tido folgas. Assim, continuaram a treinar porque os selecionadores têm os seus objetivos e entendem que têm de fazer trabalho físico com os jogadores. A pausa não ajudou”. A corroborar de certa forma esta ideia, o treinador alemão viu dois jogadores importantes ficarem em dúvida, o inglês Henderson (que podia chegar ao jogo 500 na equipa que capitaneia) e o escocês Robertson, lesionarem-se ao serviço das respetivas seleções.
Do lado dos gunners, quem falou recentemente foi um português, Nuno Tavares, que este ano trocou o Benfica pela equipa inglesa. Segundo o jovem, “as pessoas ficaram surpreendidas” com a sua “capacidade física e velocidade”. “Acho que é bom eu trazer essa energia quando estou em campo e acho que tenho ajudado a equipa”, referiu o internacional sub-21 português, que falou também da sua relação com o técnico Arteta: “Fala muito comigo sobre o que eu posso fazer mais na minha posição e ajuda-me a atingir os objetivos em todas as sessões de treino. Acho que isso é perfeito para jovens jogadores em início de carreira”, acrescentou o defesa. E por falar no setor mais recuado, o registo defensivo do Arsenal é positivo, com quatro golos sofridos na última dezena de jogos. “O Arsenal é um clube grande, com grandes jogadores. Queremos estar em primeiro. É normal vencermos jogos, não sei porque é que as pessoas estão tão surpreendidas. Têm de perceber que somos o Arsenal e temos grandes objetivos. Estamos confiantes de que vamos a Anfield para ganhar o jogo, com ou sem clean sheet [sem sofrer golos]. Queremos os três pontos”, garantiu Nuno Tavares, que leva 10 jogos esta temporada.
Nem todas as estatísticas jogavam a favor do Arsenal, contudo. Primeiro, por várias razões, o Liverpool, por jogar em casa, mas também pelas últimas épocas, era favorito. Além disso, a equipa de Klopp não perdia em casa há nove jogos, apesar de ter empatado os dois últimos encontros caseiros. Estava garantido um espetáculo em Anfield.
Com Diogo Jota de início na frente de ataque do Liverpool, Nuno Tavares à esquerda da defesa do Arsenal e Cédric no banco de Arteta, o jogo arrancou um pouco preso, ainda que, como era de esperar, intenso. Cedo se percebeu que os gunners vinham para tentar jogar o máximo possível, mas conformados com o facto de terem de passar muito tempo no seu meio-campo e apostar no erro dos reds. Aos 17′, Tomiyasu teve um cruzamento perigoso e a partir daí o jogo abriu mais, com a bola mais perto das áreas das equipas. Ou seja, as equipas encolhiam e esticavam mais no campo, não ficando tão presas ao centro.
A partida tanto abanou que acabou por quebrar para um dos lados, o mais provável. O Liverpool não só subiu linhas, ficando a jogar com a bola mais à frente no campo, mas obrigou o adversário a encurtar distâncias, ficando as costas de Van Dijk e Matip praticamente vazias. Nem Lacazette, nem Aubameyang, nenhum avançado dos londrinos conseguia soltar-se. Por volta dos 27′, os reds conseguiram encaixar mais uma velocidade na engrenagem e nos dez minutos seguintes teriam acima de 85% de posse de bola. Nesse intervalo, Ramsdale foi o jogador mais. O guarda-redes do Arsenal negou golos a Thiago e Mané (29′), dois remates de Salah (35′) e Alexander-Arnold (37′).
Levados pelo público presente em Anfield e pelo seu próprio ímpeto, os rapazes de Klopp chegaram mesmo ao 1-0, num lance que paradigmático do que estava a acontecer. Matip, muito subido, tenta fintar Aubameyang, obrigado a estar muito recuado, e sofreu falta do gabonês. Na marcação do livre, Arnold colocou na área e o pequeno Mané marcou de cabeça, fazendo o primeiro da partida. Surgida do sufoco a que o Liverpool obrigou o Arsenal e depois das defesas (difíceis) já feitas por Aaron Ramsdale, a vantagem era merecida.
[Clique nas imagens para ver os golos]
Os visitantes tentaram responder nos últimos minutos e conseguiram o primeiro remate enquadrado com a baliza do Liverpool, mas fácil para Alisson. Foi Lokonga, aos 43′.
Da primeira parte fica ainda um momento em cima da meia hora de jogo, quando se pegaram de forma extemporânea… Klopp e Arteta. Após um lance em que nas alturas Mané acertou em Tomiyasu, os dois treinadores tiveram de ser segurados pelos respetivos bancos. O nervosismo passou para dentro de campo, onde já não era pouca a intensidade, mas Michael Oliver, o árbitro, conseguiu manter o encontro no tom correto.
O segundo tempo começou com um presente de Nuno Tavares para outro português. Como Diogo Jota era o outro representante de Portugal em campo, foi precisamente o avançado do Liverpool que recebeu o passe já dentro da área adversária, deixou passar Ben White, desviou-se bem do guarda-redes Ramsdale e fez o 2-0 (52′). Para quem procurava outro resultado em Anfield, o começo do segundo tempo foi desastroso para o Arsenal.
Durante o remanescente dos segundos 45′, ficou sempre a ideia de que, embora pudesse surgir sempre um golo londrino, o Liverpool tinha o jogo na mão. Sem muita surpresa, o artilheiro mor desta época Salah fez o gosto ao pé para o 3-0 após assistência de Mané (74′). Três minutos depois, Minamino, acabado de entrar para o lugar de Jota, encostou para o 4-0 após cruzamento (mais um) de Alexander-Arnold. Em suma, os três da frente que Klopp apresentou fizeram todos golo e, assim que um saiu de campo, foi o seu substituto a ter o outro remate certeiro. Treinador acredita, precisa de sorte, mas também de conhecer os seus jogadores, algo em que Klopp parece ser mestre.
O Liverpool regressa às vitórias no campeonato e logo com uma goleada num grande clássico do futebol inglês, ficando novamente a quatro pontos do líder Chelsea. O Arsenal vinha em alta rotação, mas não parece ter motor adversários deste calibre.