O Grupo de Ativistas em Tratamentos (GAT) defendeu este domingo que a prescrição da PrEP, tratamento para prevenir a infeção por VIH, deixe de ser exclusiva dos hospitais para abranger mais pessoas e evitar longas esperas para primeira consulta.

A profilaxia pré-exposição (PrEP) está disponível nos hospitais que integram a rede de referenciação hospitalar para a infeção por VIH, sendo a sua prescrição realizada por médicos especialistas, após avaliação do risco de aquisição de infeção por VIH e de outras infeções sexualmente transmissíveis, mediante o consentimento informado da pessoa.

Uma situação que, segundo o diretor-executivo do GAT, deve ser revista para aumentar ou simplificar a prescrição da PrEP a pessoas que não estão infetadas, mas que têm um risco acrescido de adquirir a infeção. “Neste momento a prescrição da PrEP é exclusiva dos médicos que tratam VIH, que já estavam um bocadinho sobrecarregados com o tratamento do VIH e, portanto, há aqui uma incapacidade de os centros de tratamento conseguirem responder a todos os pedidos da comunidade para integrarem pessoas em PrEP, o que faz com que existam esperas em alguns casos de seis meses para uma primeira consulta”, disse Ricardo Fernandes.

Neste período, lamentou, algumas pessoas apanham a infeção “o que é muito triste”, porque sabiam que estavam em risco procuraram “uma alternativa de prevenção muito eficaz e não tiveram acesso a ela”, uma situação que tem impacto para a pessoa e para o país porque é um doente que ficará em tratamento para o resto da vida quando poderia estar só a fazer PrEP, uma intervenção “muito mais barata”.

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Perante esta situação, Ricardo Fernandes defendeu ser necessário rever esta situação no sentido de os centros de saúde sexual comunitários que existem em Lisboa também poderem prescrever este tratamento para abranger mais utentes e fazer um acompanhamento de “maior proximidade”.

Segundo o responsável, existem algumas dificuldades neste momento, sobretudo, na Grande Lisboa, que é também a região onde existem mais infeções pelo vírus da imunodeficiência adquirida (VIH) que provoca a sida. Mas é nesta região que é preciso “ter a certeza” que tudo “funciona bem”, disse, sustentando: “Não quer dizer que no resto do país não o tenhamos de fazer, mas no resto do país parece-nos que as coisas estão a funcionar um bocadinho melhor, embora pudessem ser muito melhoradas”.

Disse crer ainda que muitas pessoas terão abandonado a PrEP durante a pandemia pelas dificuldades que existiam nos hospitais de conseguir marcar os seguimentos e de fazer o acompanhamento correto dessas pessoas. Citando os últimos dados a que teve acesso, Ricardo Fernandes disse que havia cerca de 1.000 pessoas a fazer a profilaxia pré-exposição quando as necessidades identificadas pelo Programa nacional para a infeção pelo VIH era ter pelo menos entre 10 a 15 mil pessoas em PREP para ter impacto em Portugal.

Semana Europeia do Teste VIH-Hepatites começa com rastreios gratuitos

A Semana Europeia do Teste VIH-Hepatites começa na segunda-feira com rastreios gratuitos em todo o país direcionados principalmente aos grupos mais vulneráveis, anunciou à Agência Lusa o diretor-executivo do GAT – Grupo de Ativistas em Tratamentos.

Portugal junta-se pelo nono ano a esta iniciativa, organizada pela EuroTest, reforçando ser uma prioridade o rastreio do VIH, das hepatites virais e outras infeções sexualmente transmissíveis (IST), numa altura em que ainda permanecem lacunas no diagnóstico destas infeções, o que dificulta as estratégias internacionais para as eliminar até 2030, enquanto problema grave de saúde pública, refere o GAT.

Até 29 de novembro, será possível fazer rastreios “gratuitos, rápidos e anónimos” a estas doenças em 33 organizações distribuídas pelo país “desde o Algarve até ao Minho”, disse o diretor-executivo do GAT, Ricardo Fernandes, adiantando que os interessados podem encontrar informação sobre os locais na página do Facebook da Semana Europeia do Teste.

Para o GAT, o rastreio direcionado a grupos mais vulneráveis, no contexto da prevenção combinada, é um serviço prioritário. “Nós temos uma estratégia de contenção da epidemia que passa pelo teste e pelo diagnóstico e por todas as tecnologias de prevenção, o preservativo, a PrEP [profilaxia pré exposição] (…) ferramentas que têm que ser estrategicamente bem posicionadas para que consigamos chegar a uma situação em que o VIH deixe de ser um problema de saúde pública em Portugal”, defendeu Ricardo Fernandes.

O problema, avisou, é que se não houver investimento nestas ferramentas tudo o que for feito terá “um impacto individual — e ainda bem que o tem — mas não a nível de saúde pública”. Apesar de algumas limitações devido à pandemia de Covid-19, as organizações que trabalham na área da saúde pública continuam a proporcionar o rastreio às IST, consultas médicas e de enfermagem, referenciação e ligação a cuidados de saúde, distribuição de preservativos e gel lubrificante, materiais para consumo mais seguro e programas de substituição opiácea.

As organizações, membro da Rede de Rastreio Comunitária, promovida pelo GAT, que se juntam à iniciativa destacam a importância da manutenção destes serviços e a remoção de qualquer barreira no acesso a cuidados de saúde. A Semana Europeia do Teste, considerou Ricardo Fernandes, “é uma oportunidade muito grande” de conseguir chegar às pessoas, muitas delas já fragilizadas, e oferecer-lhes o teste e, caso seja reativo, encaminhá-las para tratamento.

O responsável observou que, antes da pandemia, toda a Europa já tinha “números muito altos” de infeção, estimando-se que uma em cada cinco pessoas desconhecesse que estava infetado, e que em alguns países as pessoas não tiveram oportunidade de fazer o rastreio durante a pandemia. Em Portugal, ainda há entre 5% a 10% de pessoas por identificar, que são aquelas a quem todas as estratégias desenvolvidas não chegaram.

“Temos de continuar a trabalhar para chegar a essas pessoas porque a dinâmica da infeção é uma dinâmica em que uma pessoa pode infetar várias e, portanto, se conseguirmos alcançar essas pessoas atempadamente, evitaremos infeções”, defendeu. Quarenta anos depois do VIH ter começado a ser diagnosticado, as pessoas ainda têm “uma noção devastadora desta doença”, mas é uma “noção errada” porque já é uma patologia com bom prognóstico ao contrário do que acontecia há alguns anos.

Por outro lado, não têm noção da gravidade da doença, pensando que já passou, quando “Portugal é um país cimeiro” na incidência do VIH na Europa Ocidental, alternando de posição com a Letónia. Apesar de haver uma “tendência muito pequena, mas interessante na descida [do número de novos casos], não é suficiente ainda para aquilo que é a dimensão da infeção em Portugal e o peso que tem do ponto de vista social, orçamental e para a sociedade”.