Investigadores da Universidade de Coimbra propõem a construção de bacias de sedimentação como alternativa mais sustentável do ponto de vista económico e ambiental para resolver o problema de assoreamento no rio Mondego.

Um artigo científico publicado recentemente propõe a construção de uma bacia de sedimentação no rio Mondego e uma outra, de menor dimensão, no rio Ceira, por forma a resolver os problemas de assoreamento na albufeira Ponte-Açude.

“Uma vez que as ações de dragagem ao longo de três quilómetros do leito do rio têm um custo económico e ambiental muito elevado para o intervalo de tempo em que se estimam úteis, sugere-se uma solução alternativa. Esta solução passa por reter a maior parte do caudal sólido afluente a Coimbra, no rio Mondego, a montante da Ponte da Portela, através da construção de uma bacia de sedimentação”, defende o artigo, que tem como base a dissertação de mestrado de Diana Freire na Universidade de Coimbra e que é também assinado pelo professor do Departamento de Engenharia Civil José Antunes do Carmo.

Em declarações à agência Lusa, os investigadores explicaram que uma bacia de sedimentação é uma albufeira formada por um açude ou barragem de altura reduzida, implementada num troço do rio, “que favorece a deposição e retenção de sedimentos”. “Em geral, este açude é construído em pedra ou betão e ocupará parte da secção transversal do rio, definindo uma zona calma para deposição e armazenamento de sedimentos; na restante secção ocorre o escoamento natural, onde é permitida a passagem de peixes”, esclareceram, salientando que estas bacias retêm os sedimentos a montante, sem influenciarem o escoamento do curso de água, podendo ser galgadas em caso de cheia.

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No artigo científico, é recordado que a Câmara de Coimbra adjudicou uma obra de desassoreamento do rio Mondego em 2017, por cerca de quatro milhões de euros, onde está prevista a remoção de 700 mil metros cúbicos de inertes, através de dragagens. “A confirmarem-se as tendências de afluência dos caudais sólidos e os fenómenos de erosão e deposição registados nas últimas décadas no troço do rio Mondego a montante do Açude-Ponte, que apontam para uma acumulação de 52.500 metros cúbicos por ano, será necessário repetir a intervenção de desassoreamento de 14 em 14 anos”, notam Diana Freire e José Antunes do Carmo.

Para os investigadores, a solução de uma bacia de sedimentação conseguiria reduzir os prejuízos ambientais, patrimoniais e económicos das cheias, manter as cotas do fundo da albufeira do Açude-Ponte que permitam o usufruto para atividades turísticas e náuticas e “garantir suficiente capacidade de armazenamento e escoamento dos caudais de grandes cheias como as ocorridas em 2001, 2016 e 2019”.

Para além de tudo isto, os investigadores salientam que esta solução permitira reduzir “significativamente os custos de dragagem das areias que se acumulam ao longo de toda a albufeira, tanto em quantidade como em frequência de extração”. “Com a construção de uma bacia de sedimentação a montante de Coimbra poder-se-ão reduzir em mais de 80% a quantidade de sedimentos afluentes à albufeira do Açude-Ponte”, frisam, considerando que caso a solução avançasse teria de ser repensada a viabilização da praia do Rebolim, porque as areias colocadas no verão seriam arrastadas no inverno para a albufeira.

Os investigadores realçam ainda que esta solução tem custos de manutenção e ambientais “muito reduzidos”, notando ainda que a extração de areias da bacia é “muito facilitada pela concentração dos sedimentos em muito menor área e facilidade de acesso”.

Apesar de não conseguirem avançar com um valor do custo de implementação dessa solução, os investigadores notam que ao longo dos próximos 60 anos (período de vida útil de um açude-barragem), caso se continue a optar pelas dragagens da albufeira, tal como foi avançado em 2017, serão gastos mais de 16 milhões de euros no desassoreamento do rio Mondego.