Em 2006, Andriy Shevchenko assinou pelo Chelsea. Dois anos depois de ganhar a Bola de Ouro, com uma Serie A, uma Liga dos Campeões e uma Supertaça Europeia com o AC Milan na bagagem, o avançado ucraniano foi à procura de um novo desafio e juntou-se aos blues de José Mourinho, que eram bicampeões ingleses. A fortuna, contudo, não esteve do lado de Shevchenko.

Em apenas 77 jogos pelo Chelsea, o avançado fez 22 golos e acabou por passar uma temporada emprestado de volta ao AC Milan. Mourinho foi despedido em setembro de 2007 e, por isso mesmo, jogador e treinador nunca tiveram uma relação próxima — aliás, chegaram mesmo a ter uma relação tensa, com o português a confessar anos depois que não queria contratar Shevchenko.

Mourinho disse no final da goleada na Noruega que só 13 jogadores representavam a equipa mas nem eles conseguiram ganhar ao Bodo/Glimt

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“No Chelsea, ele não foi a minha primeira escolha. Eu tinha pedido outro jogador e naquela altura o clube fazia tudo o que podia para me dar os jogadores que eu queria mas acabou por não ser possível por várias razões. Quando me falaram no Shevchenko, eu disse que sim, porque era óbvio que era um jogador de qualidade”, contou Mourinho, com o avançado a ripostar algum tempo depois. “O Mourinho é um ótimo organizador, sempre atento a todos os detalhes antes dos jogos. Neste ponto de vista, ele é incrível. Mas talvez precise de falar mais com os jogadores. Os adeptos do Chelsea nunca chegaram a ver o verdadeiro Shevchenko”, disse o ucraniano.

Certo é que, com o passar dos anos e com o final da carreira de jogador de Shevchenko, a relação parece ter ficado mais agradável — com Mourinho a ser até o eleito para escrever o prefácio da biografia do antigo selecionador da Ucrânia. Este domingo, 15 anos depois de o avançado ter chegado a Stamford Bridge, Shevchenko e Mourinho reencontravam-se como treinadores e na receção do Génova à Roma que assinalava também a estreia do ucraniano como novo técnico dos italianos.

A Roma voltava à competição depois da interrupção para os compromissos das seleções e vinda de duas jornadas consecutivas a perder na Serie A, contra AC Milan e Veneza, e um empate na Conference League, com o Bodø/Glimt. Já no oitavo lugar da Serie A, os gialorrossi tinham uma deslocação complexa a Génova e não podiam contar com Cristante e Gonzalo Villar, já que ambos testaram positivo à Covid-19. Sem o médio ex-Benfica, uma das referências do meio-campo da Roma, Mourinho lançava Veretout, Pellegrini e Mkhitaryan no setor intermédio, sendo que Zaniolo e Borja Mayoral começavam no banco.

Numa primeira parte algo pobre, só a Roma ficou perto de inaugurar o marcador: Mkhitaryan marcou mesmo mas o golo foi anulado por mão na bola de Tammy Abraham (14′) e Shomurodov, antigo jogador do Génova, cabeceou por cima (28′). As duas equipas foram para o intervalo ainda empatadas sem golos e com raras oportunidades construídas, adiando todas as eventuais decisões para o segundo tempo.

Na segunda parte, a lógica manteve-se. A Roma continuou incessantemente à procura do golo e o Génova continuou incessantemente a baixar as linhas e a colocar toda a equipa no caminho da baliza. Já depois de Mourinho ver cartão amarelo por protestos, Shevchenko foi o primeiro a mexer e lançou Hernâni para o lugar de Pandev. O treinador português respondeu pouco depois ao trocar Shomurodov por Felix Afena-Gyan, um jovem ganês de apenas 18 anos que realizou a formação nos gialorrossi — e a aposta não poderia ter sido mais acertada.

Menos de 10 minutos depois de entrar, o avançado recebeu na direita da grande área na sequência de uma arrancada de Mkhitaryan e atirou cruzado para inaugurar o marcador e fazer o primeiro golo enquanto jogador profissional (82′). Já nos descontos, Afena-Gyan ainda teve tempo para brilhar mais e chegou ao segundo golo com um pontapé extraordinário de fora de área, carimbando a vitória da Roma (90+4′). Numa partida em que chegou a vislumbrar o quarto encontro seguido sem ganhar, José Mourinho foi salvo por um miúdo de 18 anos que fez o terceiro jogo na equipa principal e saltou para o 5.º lugar da Serie A.