Depois de dias de intensa pressão internacional, a tenista chinesa Peng Shuai, que estava desaparecida desde dia 2 de novembro, quando acusou um vice-primeiro-ministro chinês de abuso sexual, apareceu pela primeira vez em direto numa chamada de vídeo, com o presidente do Comité Olímpico Internacional. Durante a chamada, a atleta terá assegurado que está “bem e a salvo”, na sua casa em Pequim, e pedido que a sua privacidade seja “respeitada”.

Segundo a nota publicada este domingo no site do Comité Olímpico Internacional, o presidente do organismo, Thomas Bach, juntou-se à presidente da Comissão de Atletas, Emma Terho, e à membro do Comité na China, Li Lingwei, que conheceu a tenista há muitos anos na Federação Chinesa de Ténis, para uma chamada por videoconferência, para ter pela primeira vez provas do paradeiro de Peng Shuai pela voz da própria.

O Comité explica que a chamada durou trinta minutos e serviu para que a atleta agradecesse a “preocupação” com o seu bem-estar, assegurando que está bem na sua casa em Pequim e que prefere “neste momento” passar o seu tempo “com amigos e família”. “Ainda assim, vai continuar envolvida no ténis, o desporto de que gosta tanto”, acrescenta o texto.

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Citada na mesma nota, Emma Terho diz-se “aliviada” por ver que a tenista está bem, “a principal preocupação” do Comité, e parece “descontraída”. “Ofereci-lhe o nosso apoio e contacto a qualquer altura que lhe seja conveniente, o que ela obviamente agradeceu”. No final da chamada, o presidente do Comité ainda convidou Peng Shuai para um jantar em janeiro, quando for a Pequim, com o resto dos participantes na chamada, “coisa que ela aceitou com satisfação”.

É a primeira vez que Peng Shuai é vista a falar em tempo real e a interagir com alguém desde que no dia 2 de novembro acusou o ex-vice-primeiro-ministro chinês Zhang Gaoli de abusar sexualmente dela, numa publicação na rede social Weibo. A mensagem desapareceu da internet 20 minutos depois, não havendo menções ao caso nem à tenista — ex-número um mundial em duplas — em qualquer meio de comunicação chinês.

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Ao longo dos últimos dias, aumentou a preocupação e a pressão internacional, tendo as Nações Unidas pedido provas, na sexta-feira, sobre as condições em que a tenista se encontra e o seu “paradeiro”, além de uma investigação “transparente” sobre as acusações que fez ao político chinês. Também a Associação de Ténis Profissional e a Women’s Tenis Association, organismo responsável pelo circuito internacional de ténis profissional feminino, mostraram preocupação com a tenista, tendo a WTA pedido “uma investigação completa, justa e transparente sobre as alegações de violência sexual”.

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Por entre a crescente pressão, foram aparecendo supostas provas do paradeiro de Peng Shuai. Esta semana, o presidente da WTA, Steve Simon, recebeu um email alegadamente enviado pela tenista a assegurar que estava bem e segura, mas o próprio disse duvidar de que tenha sido a tenista a escrever e enviar o e-mail. A isto somam-se as fotografias de Shuai a assinar bolas de ténis para fãs, divulgadas no Twitter, e um vídeo que mostra a tenista a jantar com amigos que mencionam a data (“hoje é 21 de janeiro”, diz um dos presentes) para comprovar que as imagens são atuais. No entanto, até a chamada com o presidente do Comité Olímpico Internacional não havia provas de que as imagens estivessem a ser transmitidas em tempo real.

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Peng liderou o ranking mundial de duplas em 2012 e venceu em Wimbledon e Roland Garros, levando-a ao auge do ténis no seu país.