É a segunda declaração que André Ventura faz em poucos dias para assegurar que está alinhado com o seu deputado regional nos Açores. Em conferência de imprensa na tarde deste domingo, o presidente do Chega disse respeitar a “última oportunidade” dada pela estrutura dos Açores ao Governo Regional liderado pelo PSD, mas com “pouca esperança” de que o PSD vá “arrepiar caminho”, avisando que o deputado votará contra caso isso não aconteça.

André Ventura deu este domingo uma conferência de imprensa na sede do Chega em Lisboa a propósito do Orçamento Regional dos Açores, afirmando que como presidente do partido “respeita a decisão da estrutura regional do Chega/Açores” de “dar ao presidente do Governo Regional dos Açores uma última oportunidade de honrar os compromissos assumidos”.

“Recomendámos que este apoio cessasse, a estrutura acha que deve dar um último apoio ao Governo dos Açores. Eu respeito. Se me perguntar se acredito que o PSD vai arrepiar caminho, tenho sérias dúvidas que o aceite fazer”, referiu, deixando claro que tem “pouca esperança” de que isto aconteça.

Para André Ventura, apesar de a estabilidade política ser importante, “não é tudo”. Por isso deixou um aviso ao PSD: o deputado do Chega nos Açores “vai votar contra o orçamento” caso o PSD não cumpra “no combate à corrupção, na redução das clientelas políticas, na anulação da contratação de familiares e no apoio às empresas”.

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“Um cenário eleitoral nos Açores não é o desejável, todos tentamos evitá-lo e o Chega fez isto permanentemente, mas o PSD recorre sempre à mesma técnica e por isso queremos deixar isto como um alerta para as eleições de 30 de janeiro”, avisou.

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Apesar de André Ventura assegurar que está em sintonia com José Pacheco, o único deputado regional dos Açores (Carlos Furtado abandonou o grupo parlamentar, passando a não-inscrito), o tom do líder do Chega é bastante diferente do que o deputado tem usado para falar desta questão.

Na quarta-feira, Ventura tinha anunciado taxativamente que pela direção do Chega o apoio ao Governo regional tinha acabado e que a decisão era “fortemente definitiva”, depois de Rui Rio ter rejeitado alinhar numa coligação com o Chega mesmo que a formação de um futuro Governo de direita dependesse disso. A reação de Ventura foi romper o acordo nos Açores, concluindo que o PSD não merece a “consideração” do Chega.

No entanto, logo nesse dia o deputado regional veio recordar que, uma vez que o Chega/Açores goza de autonomia, a palavra final seria sua. No dia seguinte, Pacheco fez uma conferência de imprensa em que, garantindo estar em sintonia e em contacto com Ventura, assegurava que nada estava fechado, que as negociações orçamentais continuavam a decorrer e que até estavam a tomar um caminho “positivo”, depois de o PSD ter aceitado pôr em prática várias propostas do Chega, relativas ao Rendimento Social de Inserção ou à criação de um gabinete anticorrupção.

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Passariam apenas alguns minutos até Ventura enviar um vídeo às redações assegurando estar alinhado com Pacheco, mas mostrando-se pessimista quanto às hipóteses de um acordo. Desta vez, em conferência de imprensa, voltou a mostrar-se mais duro do que o deputado, que ainda não deu indicação de qual será o seu sentido de voto, do qual o PSD depende para fazer o Orçamento da região passar.

O Orçamento Regional dos Açores começa a ser debatido na segunda-feira pelo parlamento açoriano na Horta, ilha do Faial, e a sua aprovação está dependente dos votos do deputado do Chega e do representante da Iniciativa Liberal, depois de o deputado independente (ex-Chega) ter garantido que vai honrar o seu compromisso na votação.

Como a coligação assinou um acordo de incidência parlamentar com o Chega e o PSD com a Iniciativa Liberal (IL), era esperada a viabilização do Orçamento Regional para 2022 por estes partidos.