Como manda a boa tradição germânica, o Bayern voltou a não deixar para amanhã o que podia ser resolvido hoje ou ontem. Com isso, chegava à quinta jornada da Champions já com a qualificação para os oitavos certa e o primeiro lugar (que vale estatuto de cabeça de série no sorteio) garantido mas ainda assim havia história antes da deslocação à Ucrânia para defrontar o Dínamo Kiev. Afinal, aquela que é a máquina mais fiável a todos os níveis do futebol europeu também pode ter os seus grãos de areia na engrenagem – neste caso cinco, o número de jogadores do plantel que se recusam vacinar e que criaram um caso de difícil resolução.

Muda a semana, o mês e até a estação. Mas no Bayern o golo nunca desaparece

Puxando o filme atrás, a situação foi tornada pública depois do caso positivo de Julian Nagelsmann, técnico dos bávaros que ficou de fora (neste caso, no hotel) na deslocação da equipa à Luz para defrontar o Benfica após ter contraído Covid-19. Nos dias seguintes, confirmada a informação de que seria caso único no plantel, o Bild escreveu que quatro a cinco jogadores dos germânicos não estavam vacinados e que um deles seria Joshua Kimmich, que assumiu essa condição e explicou também a renitência que tinha a ser inoculado.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Quero esperar por estudos a longo prazo. Estou consciente da minha responsabilidade. Claro que respeito as medidas de higiene e os jogadores não vacinados no clube são testados a cada dois ou três dias. Vacinar-me no futuro? Claro que tenho isso em conta, por isso é que não digo de forma categórica que não me irei vacinar. Apenas tenho algumas preocupações neste momento. É muito possível que me vacine no futuro”, explicou nessa altura o polivalente internacional germânico, não querendo fazer disso um caso.

“Só há ‘vacinados’ ou ‘não vacinados’. E ‘não vacinados’ significa frequentemente que de alguma forma é um negacionista ou oponente das vacinas. Mas também penso que há outras pessoas em casa que apenas têm algumas preocupações em relação a serem vacinadas, quaisquer que sejam as suas razões. E penso que isso também deve ser respeitado, especialmente enquanto se mantiverem as medidas. Tenho frequentemente a sensação na nossa sociedade de que se não formos vacinados, de alguma forma, estamos simplesmente riscados”, acrescentou ainda o jogador contratado ao RB Leipzig em 2015, quando tinha ainda 20 anos.

Kimmich e o outro lado da não vacinação (por opção), da proibição de estagiar com a equipa no hotel à parte do salário em risco

As coisas ficaram na altura por aí mas a pressão pública sobretudo junto do defesa/médio para que desse um exemplo foi aumentando com o passar dos dias, entre antigos jogadores, dirigentes do Bayern, ministros e até a própria chanceler (de saída) Angela Merkel. Pelo meio, os episódios sucediam-se com o alemão e com os restantes quatro não vacinados, Serge Gnabry, Jamal Musiala, Eric-Maxim Choupo-Moting e Michael Cuisance: primeiro o isolamento após o caso positivo de Süle, a seguir a proibição de ficarem no hotel da equipa antes do jogo com o Augsburgo, agora a ameaça por parte do clube em não pagar parte do salário ao abrigo de uma lei entretanto criada que permite que a entidade empregadora possa ficar dispensada das suas obrigações de vencimento quando o funcionário não pode estar no trabalho por não estar vacinado.

Kimmich, Gnabry, Choupo-Moting, Cuisance e Musiala: os cinco não vacinados do Bayern Munique terão corte salarial

O quinteto ficou de fora da viagem à Ucrânia, onde o Bayern apresentou apenas seis suplentes entre os quais dois guarda-redes, mas nem por isso deixou de ser notícia pela surpresa com o comportamento recente do clube, da questão salarial ao pouco apoio público perante a situação, admitindo mesmo, segundo a Kicker, avançar com uma ação no tribunal a propósito da possibilidade de ou não de travar essa punição. No entanto, os problemas não ficaram por aí e o portal TZ fala mesmo numa divisão no balneário entre os vacinados, que não percebem a decisão dos companheiros até pela sua própria saúde, e não vacinados.

A novela parece que vai mesmo continuar mas, a partir do momento em que a bola começou a rolar, veio ao de cima de forma natural a valia da equipa mesmo muito desfalcada na Ucrânia, inaugurando o marcador ainda no quarto de hora inicial no meio da neve do Estádio Olímpico com um (ou mais um) fabuloso golo de Robert Lewandowski, de pontapé de bicicleta, aproveitando um corte incompleto da defesa do Dínamo de Kiev (14′). Os ucranianos, muitas vezes jogando no erro adversário e nos poucos deslizes defensivos, ainda foram tentando remar contra a maré do favoritismo bávaro mas, a três minutos do intervalo, Coman fez o 2-0 num lance em que Müller foi fundamental sem tocar na bola e deu outro conforto ao Bayern.

Esse momento acabou por influenciar o que se passaria na segunda parte, com o Bayern a ligar o modo de maior gestão e o Dínamo Kiev a tentar aproveitar esse relaxamento para poder ainda reentrar na partida. E foi isso que acabou mesmo por acontecer, com Garmasch a reduzir para 2-1 a 20 minutos do final dando uma nova esperança aos ucranianos e assinalando aquele que foi o primeiro golo dos visitados nesta edição da Liga dos Campeões quebrando um jejum de 430 minutos até alcançar um remate certeiro. Contudo, essa possibilidade acabou por não confirmar-se, o que faz com que o conjunto de Mircea Lucescu tenha de esperar por uma vitória do Barcelona para ter ainda hipóteses de lutar com o Benfica pela Liga Europa.