O presidente executivo da Galp, Andy Brown, admitiu esta quarta-feira que a China pode substituir financiadores ocidentais em projetos de petróleo e gás como os de Moçambique, face à crescente oposição institucional aos investimentos em combustíveis fósseis.

“Há países que vão receber este produto”, referiu, numa alusão ao gás natural liquefeito do norte de Moçambique e apontando o exemplo da China.

A China quer urgentemente substituir o carvão com gás por razões ambientais e imagino que estariam interessados em investir neste tipo de projeto”, assim como outros bancos e países, disse à Lusa em Moçambique, a propósito da participação da Galp na área 4 de exploração de gás da bacia do Rovuma.

Ou seja, “o financiamento para projetos de petróleo e gás está a ficar mais difícil, mas nem todo o mundo subscreve [a posição de] não investir” no setor, referiu.

“Não acredito que depois do anunciado na COP26”, cimeira do clima, realizada em novembro em Glasgow, Escócia, “isso queira dizer que não há chance para financiamento”, disse, reiterando a ideia de que “o mundo ainda precisa de muito petróleo e gás”.

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Andy Brown defende que deve ser acautelada uma transição energética gradual do carvão para gás e depois para fontes renováveis com governos, empresas e toda a sociedade a gerir a passagem sem que a população seja sobrecarregada “com energia muito cara” e protegendo o clima.

Em abril, sete países europeus, incluindo França, Alemanha e Reino Unido, anunciaram a suspensão do financiamento público para projetos de combustíveis fósseis no estrangeiro, depois de em 2020 o fundo soberano da Noruega, o maior do mundo, ter vendido as participações nas grandes empresas mineiras e energéticas devido a preocupações ambientais.

Os grandes bancos de desenvolvimento internacionais, como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional ou o Banco Africano de Desenvolvimento, têm vindo a reduzir o financiamento a projetos de investimento em combustíveis fósseis.

Questionado pela Lusa sobre a posição da Galp face aos investimentos em terra da Área 4, que têm sido sucessivamente adiados pela Exxon Mobil, líder do processo, Andy Brown foi claro: “Queremos desenvolver este projeto”.

O consórcio da Área 4 (em que a Galp tem uma fatia de 10%) “vai perspetivar o lançamento” do investimento, “mas só quando a segurança estiver garantida” em Cabo Delgado, referiu, dada a insurgência armada que atinge a província há quatro anos e que levou à suspensão do investimento da petrolífera Total em março.

“O Governo está a fazer progressos e isso é importante para o investimento”, concluiu.

Andy Brown participou esta quarta-feira na inauguração das obras de renovação da fábrica de enchimento de garrafas de gás de cozinha na Matola, arredores de Maputo, que permitiu duplicar a produção para 1.200 garrafas por hora.

O presidente executivo apontou este investimento de 10,6 milhões de euros como um exemplo de transição energética: as garrafas podem substituir o carvão – predominante nos lares moçambicanos -, sendo o gás mais barato para as famílias e travando a desflorestação.

É preciso abater entre seis e nove árvores para obter um saco de carvão típico com cerca de 50 quilos, vendido à beira da estrada em Moçambique por 1.500 meticais (21 euros), enquanto uma botija de gás de cozinha de 11 quilos custa cerca de 800 meticais (11 euros), com rendimento várias vezes superior e menor desperdício.