Queimar carvão, uma das formas mais poluentes de produção de energia, é uma das poucas opções que os afegãos têm para se manterem quentes este inverno. “Se tivéssemos eletricidade e gás, as pessoas não usariam carvão”, garante um comerciante de um mercado em Cabul, Abdullah Rahimi, à Agence Frence-Presse.

Quem frequenta estes negócios conhece as consequências da utilização do carvão, porém não esquece que é a alternativa mais barata. “A poluição causa doenças respiratórias graves… Todos os afegãos sabem o que o carvão faz”, menciona um cliente que estava no mercado, Amanullah Daudzai.

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Contudo, mesmo sendo a alternativa mais barata, há afegãos que não têm poder de compra para o adquirir. No mercado, uma viúva de 38 anos com cinco filhos pergunta pelos preços e desiste de negociar. “É muito caro este ano”, justifica. Explica que não sabe quando vai conseguir comprar carvão, admitindo que vendeu todo o seu ouro e joias, depois de ter ficado desempregada aquando da chegada dos talibãs.

Os comerciantes reconhecem as dificuldades dos afegãos, uma vez que sentem o impacto no escoamento do carvão. “Antes vendíamos um ou dois camiões por dia. Agora precisamos de 15 ou 20 dias”, diz o comerciante Rahimi.

No meio da crise humanitária, o ambiente acaba por não ser uma prioridade para os afegãos. “O aquecimento global é um problema do mundo todo. Estamos cientes disso”, diz o cliente Daudzai. “Está a ficar cada vez mais quente, não temos neve todos os invernos como costumávamos ter”, acrescenta ainda.

O Afeganistão, um dos países mais pobres do mundo, não é um dos piores poluidores. Em 2018, o afegão médio emitia 0,2 toneladas de CO2, em comparação com as cerca de 15 do norte-americano, de acordo com os dados do Banco Mundial. No entanto, Cabul está entre as 10 capitais mais poluídas do mundo.