O candidato à presidência da mutualista Montepio Virgílio Lima considerou, em entrevista à Lusa, que o grupo não é um problema para o país e disse estar a ser estudado um mecanismo para “limpar” do banco os créditos problemáticos.

Virgílio Lima é desde 2020 presidente da Montepio Geral — Associação Mutualista, quando sucedeu a Tomás Correia, que saiu envolto em polémicas. Esta é, portanto, a primeira vez que se candidata a presidente da mutualista, nas eleições de 17 de dezembro, encabeçando a lista A.

Em entrevista à Lusa, Virgílio Lima afirmou que a mutualista e o banco Montepio “não são um problema para o país”.

Segundo Virgílio Lima, o Banco Montepio está a cumprir o plano aprovado pelo acionista (e acompanhado por supervisores), desde logo nos rácios de capital, e, “salvo acontecimentos extremos, não terá necessidades de capital que não consiga resolver endogenamente”.

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Na associação, disse, há um “equilíbrio entre ativos e passivos, com fundos próprios positivos em termos individuais e consolidados”. “Portanto, não há qualquer necessidade de soluções descontextualizadas e que não olham em profundidade para realidade objetiva do grupo”, disse.

A Associação Mutualismo Montepio teve até setembro, em base individual, lucros de 17 milhões de euros, segundo o gestor. O banco Montepio teve prejuízos de 14 milhões de euros nos primeiros nove meses (face a prejuízos de 57 milhões de euros obtidos no mesmo período do ano passado).

Segundo Virgílio Lima, se fossem feitas as contas consolidadas do grupo, o resultado seria positivo. Em 2020, a Associação Mutualista Montepio Geral teve um prejuízo consolidado de 86 milhões de euros.

Na entrevista à Lusa, Virgílio Lima falou ainda da solução que está a ser desenhada para retirar do balanço do banco 2.000 milhões de euros em créditos problemáticos e imóveis, passando para uma sociedade-veículo dentro do grupo que os irá gerir.

Segundo explicou, tal permitiria recapitalizar o banco e deixá-lo mais ágil para desenvolver o negócio. Garantiu ainda que esta solução não implica qualquer intervenção de Estado, caso de um mecanismo de garantia: “Se concluirmos pela viabilidade teremos condições para avançar sem qualquer intervenção de terceiros, como nunca tivemos em 181 anos”, disse.

Virgílio Lima afirmou que os ativos sairão do banco sem penalizarem a conta de resultados, pois têm imparidades constituídas e garantias reais correspondentes ao seu valor nominal, e que o plano é juntá-los num veículo que irá “desenvolver uma área de negócio” relacionada com a gestão desses ativos que a prazo dê lucro. Lima disse que isso já foi feito no passado com outros ativos e o objetivo é repetir “a ideia com outra escala e inovação”.

Sobre a possível entrada de um acionista para o banco Montepio, Virgílio admitiu, mas a médio prazo, depois de o banco fazer o trabalho de “limpeza” de balanço e de recuperação do negócio.

Se entrasse um parceiro agora, iria apropriar-se-ia na proporção da sua entrada [de capital] da recuperação das imparidades. Recuperadas essas imparidades podemos encarar parcerias de desenvolvimento com entidades que não alterem a matriz mutualista do banco e do grupo. A maioria do capital pertencerá sempre à mutualista”, disse.

Ainda sobre o banco, afirmou que quer vender o Finibanco Angola e o banco de Cabo Verde, mas não quis adiantar mais detalhes tendo em conta a autonomia da gestão do banco.

O programa da lista A (‘Mutualismo em Ação’), liderada por Virgílio Lima, diz quer “consolidar e reorganizar o grupo financeiro e a própria associação mutualista”.

Questionado sobre ações práticas que pretendem executar, o gestor respondeu que quer simplificar o grupo e articular melhor as várias áreas. Até ao momento, afirmou, já foram fundidas quatro entidades da área imobiliária e está a ser preparada a fusão de fundos mobiliários e imobiliários.

Considerou ainda que, desde 2015, quando foi imposta uma maior separação entre banco e associação mutualista, foram replicadas estruturas, pelo que a sua equipa irá tentar obter sinergias através de agrupamentos complementares de empresas (ACE), que desenvolvam operações para várias entidades do grupo.

Queremos reobter sinergias e nessa medida conseguir menores custos, melhores resultados e mais retorno para os associados”, disse.

Questionado sobre se isso implicará nova saída de trabalhadores, Virgílio Lima disse apenas que no Montepio “qualquer ajustamento é feito numa base voluntária e interesse recíproco”.

Sobre os seguros, não estão previstas vendas, mas admitiu a entrada de um acionista também a médio prazo.

“Tendo os seguros já um ciclo de resultados globalmente positivos há três anos, cumprindo planos de negócios e recuperadas essas imparidades, nessa medida podemos encarar mais à frente uma parceria para desenvolvimento”, disse.

Quanto à oferta mutualista, dedicada aos associados, disse que a mutualista quer apresentar mais oferta na área da habitação. De momento, são alugadas 300 habitações a associados a rendas de baixo valor e a sua lista quer aumentar esse número, mas sem indicar metas.

A ideia é com o apoio da associação, através de construção ou da compra de ativos que decorram da atividade de outras entidades do grupo, podermos fazer arrendamento aos associados e simultaneamente ir constituindo uma forma, através de uma modalidade associativa, de o associado ficar com a habitação no fim de um período”, explicou.

Nas residências para idosos, propõe aumentar a oferta mas em zonas menos centrais, em que os terrenos tenham menos custos e permitam cobrar aos associados valores mais acessíveis. “A ideia é também orientar a oferta em função da procura que veremos dos associados”, disse.

Afirmou ainda que a sua equipa quer desenvolver o apoio em casa, assim como modalidades na área da saúde e na velhice.

Sobre os últimos dois anos em que liderou o grupo Montepio, Virgílio Lima disse que a sua equipa desbloqueou os novos estatutos e resolveu as tensões com a Direção-Geral da Segurança Social sobre o tema, elaborou o plano de convergência e de atividades a 10 anos exigido pela Autoridade de Supervisão dos Seguros e Fundos de Pensões (ASF), atualizou o regulamento de benefícios e acalmou a instabilidade interna e externa.

“Arrumámos a casa, estabilizámos o grupo e apresentámos resultados”, disse, sobre o balanço dos últimos dois anos.

A Associação Mutualista Montepio Geral tem 600 mil associados e é o topo do grupo Montepio, em que se inclui o Banco Montepio.