O Governo alemão afirmou esta sexta-feira que o novo presidente da Interpol, à semelhança de todos os funcionários da polícia internacional, deve agir de acordo com o Estado de direito e minimizou o papel na instituição.
O Governo de Berlim, através da porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Andrea Sasse, disse ter tomado “nota” da eleição de Ahmed Naser al-Raisi, acusado por grupos de direitos humanos de envolvimento em atos de tortura e detenções arbitrárias no seu país de origem, Emirados Árabes Unidos (EAU).
General Raisi dos Emirados Árabes Unidos, que foi acusado de tortura, eleito presidente da Interpol
“Tomamos nota da eleição de Ahmed Naser al-Raisi como novo presidente da Interpol”, referiu Sasse, escusando-se a indicar se a Alemanha apoiou o candidato derrotado, a checa Sarka Havrankova.
Todos os membros da Interpol são obrigados a respeitar os valores fundamentais da organização, como o princípio da neutralidade e de agir de acordo com o Estado de direito. Os princípios estão definidos na constituição da Interpol”, frisou Sasse, aludindo a al-Raisi, eleito quinta-feira para um mandato de quatro anos.
A porta-voz também minimizou o papel de al-Raisi na organização, sublinhando que, como presidente da Interpol e do respetivo comité executivo, tem sobretudo “deveres de representação”.
Sasse sustentou que a liderança operacional da Interpol fica nas mãos do secretário-geral da organização, o alemão Juergen Stock, que permanecerá no cargo até 2024.
Várias organizações internacionais, entre as quais a Human Rights Watch, tinham alertado para a candidatura do general al-Raisi, que acusam de ser um dos máximos responsáveis policiais dos EAU, país que usa métodos repressivos contra dissidentes políticos.
Em abril, David Calvert-Smith, ex-procurador inglês, publicou um relatório referindo que al-Raisi “coordenou o aumento da repressão contra os dissidentes” através de práticas de tortura e de abusos do próprio sistema judicial dos EAU.
Por outro lado, os advogados de dois cidadãos britânicos apresentaram uma denúncia formal contra al-Raisi “por tortura”.
Um deles, Matthew Hedges, que chegou a ser condenado a prisão perpétua nos EAU, acusado de espionagem, foi indultado e libertado há três anos.
A organização Centro de Direitos Humanos para o Golfo interpôs uma denúncia contra al-Raisi em França, país onde se encontra a sede da Interpol, em Lyon, alegando que o ativista político Ahmed Mansur foi alvo de torturas nos EAU.
Da mesma forma, um gabinete de advogados turco apresentou uma denúncia à Procuradoria da Turquia contra o general por torturas a Ahmed Mansur.
Al-Raisi concorreu ao cargo contra a candidata da República Checa, Sarka Havrankova que se tinha apresentado com as promessas de “adequar o trabalho da Interpol ao espírito da Declaração Universal dos Direitos Humanos”.