Paulo Rangel não vai andar por aí, mas antes por lá: Bruxelas. Começou a carreira política com Rio, há 20 anos, e com Rio termina este sábado. O eurodeputado garante que vai levar o “mandato até ao fim” no Parlamento Europeu, mas terminam as suas duas ambições nacionais: liderar o PSD e ser primeiro-ministro. O próprio, quando questionado se vai a uma terceira candidatura à presidência do PSD, é claro: “Sinceramente, não é uma coisa que anteveja“.

A derrota deste sábado é pesada. Em 2009 venceu as Europeias, em 2014 perdeu com sabor a vitória (porque o resultado serviu para ferir o líder do PS) e, em 2019, quando foi escolha de Rio nas Europeias, teve mínimos históricos. Resistiu a tudo, mas sobrava-lhe uma última vida política: as diretas de 2021. Rangel tinha aparentemente tudo a seu favor: apoio da maioria das estruturas, a difícil corrida autárquica para o PSD de Rio e um aparente desgaste da liderança.

No verão, Rangel arregimentou apoios e tornou-se favorito (favoritismo que se manteve até ao fim), mas muita coisa tinha mudado e Rui Rio percebeu-o melhor que ninguém. O presidente do PSD teve um bom resultado autárquico e até venceu Lisboa, a esquerda do PS chumbou o orçamento e o Presidente decidiu marcar eleições legislativas no imediato. O eurodeputado tinha as estruturas, como até o adversário admitiu, mas de nada serviu.

Rangel também não está disponível para comprar guerras com Rui Rio e minar a liderança do atual líder.  Daí que, simbolicamente, o primeiro ato como derrotado tenha sido ligar ao adversário. “Telefonei-lhe, a felicitá-lo pela vitória”. Além disso, fez um “apelo à unidade”, lembrando que “dentro de dois meses existem eleições legislativas”. Para Rangel o PSD deve partir para as eleições de 30 de janeiro com “um único adversário: o PS de António Costa”.

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O candidato diz que está pessoalmente “empenhado” em ajudar o PSD a ter “uma excelente vitória nas legislativas” e garante que muitos dos que o apoiaram também. Já sobre lugares nas listas de deputados para os “seus apoiantes”, Rangel não se atravessa, assumindo uma postura de ‘the winner takes it all’. “Não tenho apoiantes e muito menos meus, no máximo tenho pessoas que votaram em mim”, disse, fugindo da lógica da guerrilha no aparelho, listas para conselhos nacionais ou negociações no Congresso que se avizinha. Isso ficará para os outros. Começa um novo exílio em Bruxelas.

O máximo que Rangel vai na defesa dos que o apoiaram é dizer que espera que “existam sinais claros de unidade” no partido. E disse-o depois de ser questionado sobre se esperava que Rui Rio integrasse os que votaram em si nas próximas listas à Assembleia da República. O presidente do PSD, pouco depois, parecia pouco disponível para isso: “Só se consegue fazer unidade com quem está disponível. Já aprendi que muitos dizem que querem unidade e depois não querem unidade nenhuma.”

O eurodeputado quis, no entanto, deixar claro que tinha razão. Que as diretas eram necessárias para que o líder que fosse a votos “sairia com legitimidade política”. Para Rangel, Rio “sai com mais força para as legislativas” após vencer as eleições internas. Farpas a Rio guardaria apenas uma: “Pelo menos da minha parte, nunca houve nenhum ataque”.

Mas também fez questão de descrispar o tom com o vencedor: “Não vou fazer as pazes porque nunca estivemos em guerra. Tivemos, sim, uma contenda eleitoral”. Ao contrário de Santana, que saiu do partido, ou de Montenegro, que nunca deu tréguas a Rio, para Rangel acabou.