A líder do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) promete que vai levar a tribunal “jornalistas e comentadeiros” que usaram as redes sociais para “atirar afirmações absolutamente difamatórias” sobre a polémica em torno dos seus negócios pessoais na área da agricultura.
Numa entrevista conjunta à TSF e ao Jornal de Notícias, divulgada este domingo, Inês de Sousa Real reitera que não cometeu “nenhuma ilegalidade” nem sequer “nada que fosse contraditório aos princípios do partido“.
“Limitei-me a dar voz às nossas causas e isso incomoda muita gente e é por isso que temos visto esta tentativa de assassinato político, não só por parte destes setores, mas também por parte de alguns meios jornalísticos e eu aqui não posso deixar de dizer: a transparência não é exigida apenas aos deputados, deve ser exigida a todos os setores da sociedade”, diz a deputada, que lidera o PAN desde junho.
“Também a jornalistas ou a comentadeiros que vêm para as redes sociais atirar afirmações absolutamente difamatórias, pelas quais terão de responder em sede própria, que vai ser em tribunal“, acrescentou.
As empresas, o tipo de agricultura e as dúvidas. Seis questões sobre os negócios da líder do PAN
A polémica eclodiu em meados de novembro, quando o jornal Nascer do Sol noticiou uma denúncia segundo a qual Inês de Sousa Real detinha participações em duas empresas de produção e comercialização de frutos vermelhos, cultivados com recurso a estufas — um modo de produção agrícola que o PAN tem atacado duramente, sobretudo relativamente às enormes explorações intensivas situadas no Alentejo litoral e cujas condições voltaram a ser notícia nos últimos meses devido à pandemia da Covid-19.
A líder do PAN tem refutado repetidamente as acusações, salientando que a sua produção é totalmente biológica e que as estufas são do tipo túnel, o que significa que permitem a convivência entre as plantas e o ecossistema envolvente.
“Desde muito cedo tem-se oposto à cultura intensiva e superintensiva que nada tem que ver com o modelo de produção das empresas que detinha, e numa das quais tenho ainda quotas“, diz agora Inês de Sousa Real, argumentando que o PAN tem “afrontado” os interesses da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP).
“O PAN tem afrontado interesses ao lado dos quais a CAP optou por se sentar, como no caso das estufas da Costa Vicentina, e aqui falamos de uma franja de 40 quilómetros de ocupação, portanto não é de todo comparável com meio hectare de framboesa em túnel, ou com 1,7 hectares“, afirma a líder do PAN, lembrando que tem uma vida profissional anterior à vida política.
Sobre o outro ponto da polémica — a cessão das quotas de uma das suas empresas à sogra, que por seu turno as cedeu logo depois ao filho (marido de Inês de Sousa Real), quando a líder do PAN chegou ao Parlamento —, a deputada foi mais esquiva. “Não houve aqui qualquer tipo de expediente” para contornar a lei, assegurou, lembrando que a empresa é familiar e que enquanto deputada não tinha tempo para se “dedicar às empresas”.
“Nada na legislação me obriga a ceder as quotas, não há qualquer incompatibilidade de ter quotas numa empresa e ser deputada na Assembleia da República. Foi uma decisão absolutamente voluntária. Comuniquei à Assembleia da República quer o facto de ter as quotas, quer o facto de as ter cedido“, dizendo que tudo não passa de uma “grande telenovela” para difamar o PAN e que tem origem em interesses “aos quais a CAP optou por dar voz”.
Futuro governo? PAN quer “mais responsabilidade”, mas tem “linhas vermelhas”
“O PAN já deixou claro que está disponível para formar governo e não está aqui em causa se a cor política é do PS ou do PSD”, assegurou Inês de Sousa Real na entrevista. “Nós queremos mais representação, queremos mais responsabilidade. Agora, é evidente que teremos que perceber quais as linhas vermelhas que nos distanciam do partido que venha a ter a maioria.”
Porém, a líder do PAN diz que ainda não houve quaisquer contactos com António Costa relativamente a cenários em que o partido possa viabilizar um Governo do PS.