O ex-responsável pela política externa e de segurança da União Europeia (UE) Javier Solana defendeu esta segunda-feira, em Lisboa, que a Europa deve pensar as suas capacidades militares em conjunto e apostar no desenvolvimento de tecnologias europeias.

Temos a obrigação de pensar as nossas capacidades militares em termos europeus“, disse Javier Solana na abertura do terceiro seminário de defesa nacional do Instituto da Defesa Nacional (IDN).

Numa mensagem que disse ser dirigida em particular aos militares presentes no seminário, Solana insistiu que o planeamento militar em cada país da UE não deve ter apenas em conta o país em si.

Um planeamento militar sério tem de ser um planeamento militar com uma missão europeia em vista. Sei que isto não é feito, dizemos que o fazemos, mas não o fazemos, mas temos a obrigação de avançar” nesse sentido, disse.

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Javier Solana, 79 anos, foi o alto representante da UE para a Política Externa e de Segurança Comum (PESC) entre 1999 e 2009, além de secretário-geral da NATO (1995-1999) e ministro dos Negócios Estrangeiros de Espanha (1992-1995).

Numa intervenção centrada na parceria UE-NATO e na relação transatlântica, Solana alertou que os europeus devem apostar no desenvolvimento de empresas tecnológicas para deixarem de depender dos Estados Unidos em termos de equipamentos de defesa.

Lembrou, a propósito, a “muito má relação” europeia com o ex-presidente dos EUA, Donald Trump (2017-2021), que disse nunca ter compreendido o que é a UE e só se preocupava em vender tecnologia norte-americana.

Se quisermos ser atores na cena internacional, talvez tenhamos de ter uma tecnologia que seja europeia. Caso contrário, será muito difícil poder dizer que temos algo a fazer militarmente viável”, disse.

Solana defendeu que os europeus devem pensar não tanto no conflito EUA-China, mas em problemas regionais, como a Rússia — com a qual advogou a necessidade de se dialogar –, o Médio Oriente ou a África.

“A África é absolutamente vital para nós e nunca pensamos na África de uma forma construtiva”, disse.

Solana considerou igualmente que a intervenção no Afeganistão, numa cooperação entre forças da NATO e europeias, “foi um fracasso”.

“Não conseguimos sair do Afeganistão de uma forma melhor do que a que encontrámos”, lamentou Solana, que ficou conhecido na UE como “o senhor PESC”.

Referindo-se à experiência em Espanha, Solana disse também que a pandemia de Covid-19 permitiu uma aproximação entre as forças armadas e a sociedade civil, com a intervenção dos militares na vacinação e transporte de doentes, que será útil para a redefinição do papel da defesa.

Numa nota final, insistiu na necessidade de os países falarem e de se criar uma relação de confiança, dizendo ser “um completo absurdo” os EUA e a China estarem meses sem falar ou a UE não dialogar com a Rússia.

Não digo que o diálogo resolva todos os problemas, mas pelo menos tentamos, e essa é a nossa obrigação como líderes políticos e militares“, acrescentou.