Ânsia e incerteza. Os dois sentimentos misturam-se, por estes dias, nos corredores de um partido, o Chega,  que ganhou mais cedo a possibilidade de aumentar o número de deputados na Assembleia da República. Muitos consideram ser merecedores dessa aposta, outros são vistos pelas estruturas como candidatos incontornáveis. Diogo Pacheco Amorim, Nuno Afonso, Rita Matias, Tiago Sousa Dias, Tânger Correia, Pedro Frazão, Bruno Nunes, Marta Trindade ou Gabriel Mithá Ribeiro são alguns dos nomes falados nos bastidores do Chega para integrarem os lugares cimeiros das listas ao Parlamento. Mas, no fim, só um vai decidir: André Ventura.

Tenho-me feito de morto. Quem pressionar o André Ventura… a imposição é meio caminho andado para dizer ‘não é candidato’. Não me meto em bicos dos pés.” Quem o diz é um dirigente do partido que está entre os nomes mais apontados para seguir nas listas a deputado. Um outro na mesma posição admite que “há muita gente ansiosa”, principalmente desde o Congresso.

Os primeiros nomes do Chega para as eleições antecipadas vão ser conhecidos esta sexta-feira e a ansiedade toma conta dos dirigentes, mesmo entre os mais próximos de André Ventura. Ninguém tem certezas de nada, mesmo que vários, pelos sinais do líder, alimentem a expectativa de vir a seguir em lugar elegível. André Ventura é o detentor da informação, o responsável pela decisão e ainda não comunicou nada à direção nacional nem aos interessados — pelo menos não à esmagadora maioria.

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André Ventura marcou uma reunião com a direção para falar sobre as legislativas e saem três grandes conclusões: quase todos os dirigentes estão interessados em lugares elegíveis; os independentes não devem ser a solução para as próximas eleições; e o líder do partido não abdica de todos os dirigentes para irem a votos, até porque há lugares no pós-eleições onde também precisa de poder de fogo e pessoas em quem confie. Este pode ser um pretexto do líder para deixar alguns dos seus mais próximos de fora.

Questionados sobre as características mais importantes para escolher protagonistas para estas eleições, os dirigentes apontaram a ideia de “lealdade” como primordial, até em comparação com a competência.

Os erros de casting também tomam conta das preocupações do partido e, por isso, impôs-se o tema dos independentes. Há opiniões contrárias dentro da direção, mas a maioria dos dirigentes considera que, tendo em conta o possível aumento da representatividade no Parlamento, seria importante privilegiar os militantes, as pessoas do partido. E as exceções não devem passar disso e só devem ser abertas para “pessoas com muito peso a nível nacional”.

O que todos querem saber (mas só um homem decide)

Os nomes continuam a ser uma incógnita, mas é possível traçar alguns cenários — apesar de só serem confirmáveis pela cabeça de André Ventura. Em Lisboa não há dúvidas sobre o cabeça de lista: a opção óbvia é o líder do Chega, André Ventura. A grande dúvida está nos lugares que se seguem. Nuno Afonso é uma opção, mas o cargo de chefe de gabinete é demasiado importante para André Ventura e é preciso perceber se o presidente do Chega abdica do número 2 do partido nessa posição para tê-lo ao seu lado na bancada parlamentar.

Rita Matias, vogal da direção e estrela em ascensão no partido, está muito bem colocada para ser a primeira mulher pelo círculo de Lisboa. Ou seja, seguir em segundo ou terceiro lugar.

Mas há nomes dos quais André Ventura não abdica. Um deles é Diogo Pacheco Amorim, que foi número dois por Lisboa nas legislativas de 2019 — altura em que o Chega elegeu um deputado único. Até podia ser a aposta mais óbvia para Lisboa, mas o dirigente que substituiu André Ventura no Parlamento durante a campanha para as eleições Presidenciais pode ser a aposta do partido no Porto.

Esta é uma região difícil para o partido, uma das zonas em que o Chega tem tido menos votos, tanto nas Presidenciais como nas autárquicas, havendo até hipóteses de não eleger. Contudo, depois da aposta no independente António Fonseca — que não correu bem nas autárquicas — a ideia é que o ideólogo do Chega possa ser capaz de inverter a tendência negativa na Invicta, tendo em conta que é um dos nomes fortes do partido.

Também com o intuito de valorizar o Porto, Tiago Sousa Dias é falado dentro do partido como um nome em cima da mesa. Contudo, se Diogo Pacheco Amorim ficar como cabeça de lista, o secretário-geral do Chega pode liderar o círculo de Aveiro. A outra possibilidade é ficar de fora das escolhas para candidatos à Assembleia da República para manter as funções que tem neste momento, sendo muitas vezes o braço direito de Ventura. E esta não é uma opção afastada.

António Tânger Correia é um dos nomes que, pela experiência política, o líder do Chega considera importante estar nas listas (e num lugar elegível) para dar estatuto ao partido e ao futuro grupo parlamentar (que acredita que vai conseguir formar). Dentro do Chega nem era uma figura com grande visibilidade, mas neste Congresso subiu ao palco para dizer que André Ventura tem os “mesmos valores” de Sá Carneiro.

A tentativa de mostrar mais o vice-presidente pode ser a prova de que será uma aposta, mas o local é ainda uma incógnita, até porque vive no distrito de Setúbal, mas não é certo que vá por este círculo.

Setúbal é exatamente um dos círculos em que o Chega vai investir — há quem acredite que é possível meter dois deputados, os mais ambiciosos falam até em três. Bruno Nunes, um dos homens que esteve sempre ao lado do líder do Chega, é um dos nomes mais bem colocados para encabeçar a lista.

Apesar de não ter lugar na direção, André Ventura deu-lhe o cargo de coordenador autárquico após as eleições, conseguiu ser eleito vereador em Loures e dentro do partido muita gente considera ser a pessoa certa para a posição. Muitas vezes passa despercebido e parece estar fora do núcleo duro, mas foi um dos dirigentes que se atirou à oposição interna e que levantou o Congresso do Chega em Viseu.

Tem uma possível adversária interna: Marta Trindade, vice-presidente do partido, não tem tido grande destaque desde que chegou ao cargo, mas, ainda assim, manteve o lugar na direção. Sendo de Setúbal, é um nome que não é descartável apesar de muitas vezes passar despercebida.

Em Santarém as dúvidas são praticamente inexistentes. Pedro Santos Frazão é vereador, vice-presidente do partido, tem aparecido mais nos últimos tempos e foi um dos dirigentes que falou no palco durante a reunião magna. É uma junção quase perfeita de razões para continuar a ser aposta de Ventura, até porque no distrito não há ninguém nas mesmas condições para poder ser o candidato.

Gabriel Mithá Ribeiro, que foi candidato a Alcochete nas autárquicas, também não é um nome a esquecer para as legislativas, sendo um dos grandes responsáveis pelo programa do Chega. Mas pode bem não ser uma aposta em lugar elegível e continuar a fazer o trabalho (teórico) que o partido precisa.

Ainda na direção, o secretário Pedro Pinto é visto com a mais provável aposta para Beja, Rui Paulo Sousa também está na calha para ser cabeça de lista, mas oscila entre duas opções (Castelo Branco e Leiria). Em Braga ainda é uma incógnita. Eugénia Santos fez uma boa figura nas eleições autárquicas, mas há um nome que tem crescido: Felipe Melo chegou a ser apontado como um nome possível para a direção nacional e pode ser hipótese para este círculo.