“Quando voltar ao escritório esta tarde já sei que vou ver as reservas a cair e as companhias a cancelar voos e vou ter de rever outra vez as previsões.” A afirmação feita por um administrador da ANA, gestora de aeroportos, no congresso da associação portuguesa de viagens (APAVT), que se realiza em Aveiro até 3 de dezembro, espelha bem o estado de espírito no setor do turismo.

Os sinais de franca recuperação que cresciam desde o verão, com algumas exceções, já estão a travar e há mesmo setores, como o dos incentivos e promoção de eventos, onde tudo parou em termos de marcação ou confirmações para o próximo ano. É o efeito combinado de dois fatores: a variante Ómicron, mas também as restrições anunciadas pelo Governo para a primeira semana de 2022. Notícias nos mercados europeus de que Portugal ia confinar no início do ano (o Governo anunciou o teletrabalho obrigatório e fecho das discotecas) levou logo a uma queda das reservas e cancelamentos para esse período. É preciso ter cuidado com a comunicação, alertou Joaquim Monteiro, diretor-geral do operador turístico Luisa Todi DMC, num painel realizado esta quinta-feira sobre tendências do consumidor, capacidade de oferta e velocidade da retoma.

O setor dos incentivos (dados pelas empresas aos seus colaboradores) e eventos como congressos tem sido um dos mais penalizados. Depois da recuperação registada a seguir ao verão, o anúncio da nova variante fez parar tudo até março, de acordo com o testemunho de uma empresa deste setor. O que estava encaminhado parou e o que estava fechado está tremido e não há novas marcações até março. Estas empresas reclamam a continuação do Programa Apoiar (subsídio a fundo perdido para a tesouraria) e o apoio à retoma.

Apesar de mais este recuo, cuja dimensão ninguém conhece, Francisco Pita, que tem o pelouro comercial da concessionária dos aeroportos, sublinha que a pandemia já mostrou uma coisa: a procura recupera muito rapidamente, ainda que de forma assimétrica. Se no mês de novembro, o nível de tráfego andou já nos 80% do registado em 2019, a retoma foi mais forte em alguns aeroportos, como nas ilhas, e mais modesto em Lisboa, na casa dos 75%. Já em Faro, os níveis andaram na casa os 80%, mas este destino é muito sensível ao que acontece no Reino Unido em termos de pandemia.

Outra nota desta recuperação é dada pelas viagens de lazer, mas sobretudo pelas deslocações de família. As viagens empresariais ainda estarão muito abaixo do nível pré-pandemia, o que ajuda a explicar as baixas taxas de ocupação dos hotéis em Lisboa e Porto, admitiu o gestor da ANA. Apesar desta situação, Francisco Pita não é dos que antecipam o fim deste segmento lucrativo da aviação, acreditando que haverá uma retoma mais rápida e cita um amigo que trabalha numa empresa e que está ansioso por mandar os seus comerciais para o terreno porque via zoom não se consegue “cheirar o mercado”.

“No dia em que se começar a perder negócios por ter ficado em casa a reunir via Teams, isso vai começar a mudar,” acredita o responsável da ANA.

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