O artista norte-americano Lawrence Weiner, uma das figuras centrais da arte conceptual na década de 1960, morreu esta quinta-feira, em Nova Iorque, anunciou a Galeria Cristina Guerra, em Lisboa, que o representa em Portugal.

“É com enorme tristeza que a Galeria Cristina Guerra confirma que faleceu esta quinta-feira, dia 2 de dezembro de 2021, em Nova Iorque, o artista Lawrence Weiner (1942-2021)”, lê-se no comunicado.

Esta galeria manteve patente, este ano, entre os meses de setembro e novembro, a exposição “Around the world”/”Volta ao mundo”, com obras do artista, pioneiro na assunção da possibilidade de existência da obra de arte como conceito (“concept”) sem a necessidade de apelo físico a materiais.

“Nascido no Bronx, em 1942, Weiner, é considerado um dos pais da Arte Conceptual”. “Recorrendo à linguagem como material, palavras, frases e símbolos [que] formam a base do seu trabalho”, lê-se no comunicado.

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A galeria de Lisboa recorda ainda como, em 1968, Weiner apresentou uma declaração de intenções, pelos quais viria a pautar a sua obra, assente em três princípios gerais que envolvem o artista (“o artista pode construir a obra” e “a obra poderá ser fabricada”) e o espectador ou recetor (“obra poderá não ser construída e a decisão sobre sua condição reside no ato de receção, desde que a decisão seja equivalente e consistente com a intenção do artista”).

Weiner expôs pela primeira vez em Nova Iorque, em 1964, na galeria Seth Siegelaub, depois de ter percorrido todos os Estados Unidos, trabalhado em setores diversos, do petróleo e das docas, aos caminhos de ferro, mas atuando sempre como artista e realizando intervenções como “Cratering Piece” (1960).

O ponto de viragem aconteceu porém em 1968, quando Weiner trocou materiais como tela, têxteis, betão ou cimento, para conceber uma exposição ao ar livre, no Windham College, no Vermont, que o levaria a procurar uma maior poupança de meios e a fazer da linguagem o primeiro veículo do seu trabalho, estabelecendo os três princípios que contextualizam a sua produção.

“A declaração de intenções não implica porém uma diminuição do papel do artista, mas afeta significativamente a forma como conceptualizamos a obra (…) e o recetor (ou mais comummente, espectador), (…) que tem a liberdade e a responsabilidade de dar sentido ao trabalho, ajustando-o a um nível existencial pessoal”, como afirma o curador Bartomeu Mari, diretor do Museu d’Art Contemporani de Barcelona, na apresentação da mostra que este ano esteve patente em Lisboa.

As instalações de Weiner consistem assim, sobretudo, “em palavras num invulgar lettering” que percorre as paredes.

Estas frases, sublinha Mari, “não pretendem descrever nem os pensamentos do autor nem as intenções do artista quando criou a obra (…). As obras de Lawrence Weiner não são partituras para serem interpretadas de uma forma específica; cabe ao recetor decidir o que fazer com elas”.

“Weiner tem sido uma figura de destaque na desmistificação e desmantelamento das hierarquias” que afastavam a obra de arte e o artista “da realidade de todas as outras entidades e indivíduos, quando ‘a realidade do artista não é diferente de qualquer outra realidade'”, escreve Mari.

Assim o demonstram as peças apresentadas este ano na Galeria Cristina Guerra, em que “Around the World” se combinava com quatro outras peças: “Placed above the Equator”/ “Colocado acima do Equador”, “Placed below the Equator”/”Colocado abaixo do Equador”, “To the left of the Equator”/”À esquerda do Equador” e “To the right of the Equator”/”À direita do Equador”, remetendo para uma divisão do planeta além dos pontos cardeais.

“A linha do Equador divide o globo em duas metades, iguais em teoria, mas profundamente desiguais na realidade (…). Mas estar acima ou abaixo” dessa linha, “é uma função que emana da nossa capacidade de rebelião, da nossa necessidade de partilhar e do nosso desejo”, concluiu Bartomeu Mari.

Entre as obras de Weiner, destacam-se peças como “Earth to earth ashes to ashes dust to dust” (1970), “The joining of France Germany and Switzerland by rope” (1969) ou a mais recente “Homeport” (1997), um ambiente interativo no qual é possível explorar um espaço definido pela linguagem, e não por coordenadas geográficas.

Em Lisboa, teve as exposições individuais “Towards the end of the beginning” (2002), “With all due intent”/”Com toda a intenção” (2004), “Poignant Adaptation” (2010), e “Crisscrossed” (2014), sempre na galeria Cristina Guerra.

Antes, em 1999, expôs no Centro Cultural de Belém, em conjunto com Julião Sarmento (1948-2021) e John Baldessari (1931-2020).

Em 2012, foi um dos nomes da mostra “Tarefas Infinitas. Quando a Arte e o Livro se Ilimitam”, da Fundação Calouste Gulbenkian, com base no seu acervo.

O nome de Weiner surge também nas coleções portuguesas do Museu Berardo, de Serralves e da Fundação Edp, neste caso com “Placed on Either Side of the Light”.

A sua obra está presente e foi mostrada em instituições de arte contemporânea, que vão de Los Angeles e São Francisco, a Nova Iorque e Filadélfia, nos EUA, de Londres a Madrid, Colónia e Berlim, na Europa. Participou por diversas vezes nas exposições internacionals Documenta, em Kassel, na Alemanha, na Bienal de Veneza, em Itália, e na Bienal de São Paulo.

Foi distinguido por diversas instituições nos EUA e na Europa, destacando-se o National Endowment for the Arts, que recebeu por duas vezes, a medalha Skowhegan de Arte Concetual, o doutoramento Honoris Causa da Universidade de Nova Iorque, e o prémio alemão Wolfgang Hahn, do Museu Ludwig, de Colónia.