Em palco estão quatro atores. Teresa Coutinho, Alexandre Sá, Célia Fechas e Diana Sá. Cada um começa a gesticular à vez, rodopiando, atirando-se para o chão, puxando os cabelos, como corpo comandado por um marionetista invisível, incorporando nesta coreografia aleatória as inquietudes e incertezas de se ser um artista. “Trabalhamos muito a ideia de corpo-arquivo, ou seja, a ideia de que cada corpo tem uma história que é só sua, que é feita de experiências que se vão acumulando ao longo da vida e que muitas vezes, tal como a memória, não estão organizadas”, comenta Rita Morais que traz ao Porto o seu projeto “Arquivo Presente”, no palco do Auditório de Miragaia, de 4 a 6 de dezembro.
Neste caso específico, cada corpo representa a comunidade artística portuense, num exercício de personificação de testemunhos recolhidos pela encenadora de 30 anos ao longo de seis jantares com atores, encenadores, dramaturgos, técnicos e produtores da cidade. Rita Morais assume aqui o papel de cartógrafa emocional da cidade, trazendo para cena o material recolhido, ora de forma aparentemente desordenada e retalhada, como se cada personagem vivesse alienada das restantes, ora envolvendo os quatro atores num guião que está constantemente a saltar do eu artista para o eu pessoal: “Conhecer o quotidiano do artista também é uma forma de exposição e de saberes como é que as pessoas funcionam. O artista não é só a sua obra”.
O que a moveu a abraçar este projeto, iniciado em julho com “Arquivo Presente de Guimarães”, foi a reflexão em torno da questão “como é que se arquiva o presente?”: “A ideia de arquivo é sempre uma ideia de se trabalhar à posteriori sobre uma quantidade de informação e aquilo que me interessou aqui foi a possibilidade de agarrar o presente”.
Este artigo é exclusivo para os nossos assinantes: assine agora e beneficie de leitura ilimitada e outras vantagens. Caso já seja assinante inicie aqui a sua sessão. Se pensa que esta mensagem está em erro, contacte o nosso apoio a cliente.