É mais um momento de tensão entre o Reino Unido e França. Em privado, Emmanuel Macron terá chamado de “palhaço” ao primeiro-ministro britânico, criticando a sua atuação na crise migratória que ocorre no Canal do Mancha.

De acordo com a revista Le Canard enchaîné, o Presidente francês terá dito que o “Brexit foi o início do circo do [Boris] Johnson. Muito cedo deu-se conta de que a situação era catastrófica para os britânicos”. “Não há combustível nas bombas de gasolinas, há falhas de vários produtos.”

“Temos conversas de adultos […] mas ele tem sempre um jeito deselegante. É sempre o mesmo circo”, terá afirmado Macron, que também terá lamentado que um país como o Reino Unido que “podia fazer muitas coisas” fosse liderado por um “palhaço”.

Pela parte de Londres, George Freeman, membro do governo de Boris Johnson, considerou que o termo “palhaço” era “bastante dispensável”. “Estamos na época dos época dos circos, não estamos? E também vêm aí as eleições francesas”, insinuou o ministro da Ciência e Investigação, referindo — em entrevista à Sky News — que “claramente que o primeiro-ministro não é um palhaço, ele é o primeiro-ministro eleito deste país com um grande mandato”.

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A reação do Presidente francês terá surgido na passada quinta-feira, após Boris Johnson ter publicado, na sua conta pessoal do Twitter, uma carta sobre a política migratória nos dois países, após um barco ter-se afundado no Canal da Mancha e provocado a morte de 27 migrantes. Só com um pormenor: o documento foi publicado nas redes sociais antes mesmo de Macron o ter recebido.

Numa conferência de imprensa um dia depois, o Presidente francês foi bastante crítico: “Eu falei há dois com o primeiro-ministro Johnson de uma maneira séria. Pela minha parte, eu continuo a fazer isso, como faço com todos os países e todos os líderes. Estou surpreendido pelos métodos quando eles não são sérios”. E prosseguiu: “Nós não comunicamos estes assuntos por tweets e cartas abertas. Nós não somos denunciantes”.

Este episódio fez com que as negociações sobre a questão migratória entre os dois líderes ficassem suspensos. Gabriel Attal, porta-voz do governo francês, criticou a carta de Boris Johnson, que não só era “medíocre em termos de conteúdo, como também era completamente inapropriado em termos da forma”.

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