Dificilmente poderia ter sido mais extraordinário: a perder por dois golos com o Bahia já depois da hora de jogo, o Atl. Mineiro marcou três vezes em cinco minutos, deu a volta ao resultado e alcançou uma vitória que lhe permitiu conquistar o Brasileirão 50 anos depois da última vez. 

Desde 1971, altura em que a equipa orientada por Telê Santana conquistou o título, que o clube de Belo Horizonte não se sagrava campeão brasileiro. Com a conquista desta quinta-feira, o Atl. Mineiro interrompeu uma aparente hegemonia do Flamengo e do Palmeiras, que há três anos que dividiam o Campeonato entre si, e chegou mesmo à maior diferença pontual de um campeão nacional desde 1959, com mais 11 pontos do que o segundo classificado. Nada disso, porém, caiu do céu: o troféu conquistado a duas jornadas do fim da época foi o culminar de um trabalho de reconstrução que já começou no ano passado, que é financiado por quatro investidores e que começou por falhar com Jorge Sampaoli para triunfar com Cuca, que voltou em 2021 oito anos depois de sair.

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Para além do treinador, o Atl. Mineiro reforçou de forma inteligente uma equipa que já tinha qualidade: Nacho Fernández, Diego Costa e Hulk chegaram e depressa se tornaram figuras cruciais para Cuca, sendo que este último marcou o primeiro golo da decisiva reviravolta contra o Bahia e já leva 18 no Brasileirão. No restante plantel, elementos como Keno, que bisou esta quinta-feira, Matías Zaracho, Ignacio Fernández ou até Eduardo Vargas, ajudaram a completar um grupo que alcançou o que andava adiado há cinco décadas.

“Dizia sempre: ‘É só mais um bocadinho, é só mais um bocadinho’. E o momento chegou. Se calhar poucas pessoas sabem mas eu comecei aqui. Com apenas 16 anos vim para o Vitória. Tornei-me profissional, só fiz dois anos no Campeonato e depois fui embora. Fiz quase toda a carreira no estrangeiro, mais de 16 anos. Poder voltar aqui a Salvador, onde comecei, onde dei o meu primeiro pontapé na bola como profissional e poder comemorar um título desta grandeza e desta expressão na história de um clube que estava há 50 anos sem ganhar… Deus é maravilhoso e escreve direito por linhas tortas. Esse grupo é bom demais, é maravilhoso! Sinto-me um privilegiado por fazer parte dele. Voltei a ser o moleque da base, a querer cada vez mais nos treinos e nos jogos”, disse Hulk, antigo avançado do FC Porto, logo após o final do jogo. Os festejos aconteceram pela noite fora e até de manhã na Praça Sete, no centro de Belo Horizonte, onde milhares de pessoas receberam o autocarro da equipa.

Ainda assim, este é ainda o primeiro passo do projeto do Atl. Mineiro. Empurrado pela injeção financeira dos quatro investidores, conhecidos como os “Quatro R” — Rubens Menin, Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador –, o clube tem vindo a engordar receitas com os resultados desportivos e já aumentou o número de sócios, recolhendo um encaixe cada vez maior com a bilhética de cada jogo. A projeção de lucro para 2021 ronda os 400 milhões de reais — um valor que ainda pode aumentar se o Atl. Mineiro conquistar a Copa do Brasil, cuja final vai disputar como Athl. Paranaense.