A plataforma Convergência do Bloco de Esquerda (BE) definiu este sábado, no Entroncamento, as “linhas vermelhas” para o novo ciclo legislativo, defendendo um partido “plural”, que se “enraíze” nas bases e se ligue “à realidade concreta” do país.

Falando no final do 3.º Encontro Nacional da Plataforma Ecossocialista Convergência, Pedro Soares, atual deputado bloquista eleito pelo círculo eleitoral de Braga, sintetizou a resolução aprovada este sábado e que define qual deve ser a orientação do partido no “novo ciclo legislativo” aberto com as eleições de 30 de janeiro próximo, apontando as “linhas vermelhas” que permitem à esquerda ter o “campo bem demarcado” e “clareza” no debate eleitoral.

Apresentando as alterações ao Código do Trabalho como a “primeira linha vermelha” que demarca, e “confronta”, o BE do Partido Socialista, Pedro Soares juntou a exigência de um “plano social” que garanta que não são os trabalhadores a pagar a transição energética e traçou a terceira linha dentro do próprio partido.

Para a Convergência, que se define como uma “plataforma de debate político” e não como uma “alternativa”, o partido só poderá “enfrentar as lutas” que o diferenciam se for “forte, empoderado” e “enraizado”, se colaborar com os movimentos sociais, recolhendo os seus “ensinamentos e agendas”, se for capaz de ter núcleos nas fábricas, nos locais de trabalho, nos bairros, e aderentes envolvidos “nos espaços de produção cultural e associativa”.

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Para se enraizar na base, o partido não pode estar “institucionalizado, parlamentarizado”, disse Pedro Soares, criticando o que “alguns dirigentes dizem”, de que “aquilo que melhor aconteceu nos últimos anos foram as negociações da geringonça”.

“Recusamos essa perspetiva. Não, o melhor do Bloco de Esquerda é o Bloco de Esquerda plural, com capacidade de intervenção, que lhe é conferida precisamente por esta ligação à realidade concreta”, acrescentou.

Para Pedro Soares, o partido tem de respeitar as suas organizações locais e intermédias, de dar poder de decisão aos seus aderentes e a direção nacional deve ser “capaz de acolher, de concretizar a ideia que seja gerada por esta dinâmica própria”, a partir de baixo.

“Precisamos não de um Bloco de Esquerda centralizado, centralista, mas de um bloco cada vez mais enraizado na base, que seja democrático, em que todos os aderentes tenham capacidade de decisão e em que não haja uma espécie de cadeia de direção formada por funcionários, por pessoas que dependem, inclusivamente em termos materiais, do bloco”, disse.

Na primeira “linha vermelha”, considerada “essencial” para “confrontar” o PS, a Convergência sublinha que o partido não se poderá comprometer “com qualquer maioria parlamentar”, de qualquer que seja o Governo, sem garantir mudanças estruturais como a alteração do Código do Trabalho e pôr em causa o “desequilíbrio que continua a existir entre patronato e trabalhadores, entre capital e trabalho e que tem levado à manutenção desta política de salários baixos”.

“Temos de ter uma proposta clara de confronto e não uma proposta onde caiba tudo e mais um par de botas”, disse.

Na luta pela descarbonização da economia, de forma a serem cumpridas as metas de Paris, a Convergência exige que haja “um plano social”, que “não permita que sejam os trabalhadores a pagar, como tem acontecido, nomeadamente, na Central Termoelétrica do Pego ou na refinaria de Matosinhos”.

“Exigimos que haja descarbonização da economia, mas não à custa de despedimentos, de piores condições de vida para os trabalhadores ou à custa de outros problemas ambientais, como está a acontecer com as centrais fotovoltaicas ou com a aprovação de mais minas, nomeadamente de lítio”, acrescentou.

A reunião nacional da plataforma, crítica da atual direção bloquista, aconteceu no distrito de Santarém, cuja lista de candidatos a deputados às eleições legislativas de 30 de janeiro de 2022 esteve na origem de divergências que levaram ao abandono da votação realizada na Mesa Nacional.

A distrital havia aprovado a lista liderada pela geógrafa Ana Sofia Ligeiro, mas a nacional decidiu manter o nome da atual deputada eleita pelo círculo eleitoral de Santarém, Fabíola Cardoso, o que levou membros da Convergência a falarem de uma votação “viciada de ilegalidade”.