Mais de um século depois, a Taça Davis passou a ter o nome de Davis Cup Finals mas essa foi a menor de todas as mudanças: no seguimento do contrato assinado entre a Federação Internacional de Ténis e a empresa Kosmos, que tem o jogador do Barcelona Gerard Piqué como um dos principais investidores (naquele que é apenas um dos muitos negócios fora de campo do central catalão), as regras foram alteradas de forma substancial e em 2021, após o adiamento da edição do último ano em virtude da pandemia, havia uma espécie de ano de confirmação para as mexidas competitivas promovidas pela organização.

O dinheiro acabou por falar mais alto, estimando-se que o acordo a longo prazo (25 anos) levasse a um investimento por edição acima dos 100 milhões de euros, repartidos entre Federação Internacional de Ténis, federações nacionais e jogadores. Saldo geral de uma fase final jogada em três cidades e países diferentes (Turim, Madrid e Innsbruck)? Muita competitividade no plano desportivo aproveitando o final de temporada, um calendário mais largo de 11 anos para retirar a densidade competitividade dentro do possível, e grande parte dos melhores jogadores de cada país sem poupanças na luta pela vitória final.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Piqué, o catalão que cria tempestades com o que diz e passa entre os pingos da chuva no que faz

As primeiras reações não foram propriamente muito famosas, com o antigo número 1 do circuito ATP Lleyton Hewitt a visar diretamente Gerard Piqué. “Agora passámos a ser dirigidos por um jogador de futebol, isto é quase como se eu saísse e depois viesse pedir para mudarem as regras da Liga dos Campões. É ridículo, ele não sabe nada de ténis, totalmente diferente do futebol”, apontou, numa extensão do então voto contra da Federação da Austrália. Críticas à parte, e mesmo sem o internacional espanhol na estreia por estar limitado de tempo dentro das novas regras impostas por Xavi Hernández, tudo acabou por desenrolar-se dentro do que se esperava e com uma final que prometia muito em Madrid.

De um lado, a Croácia. Vencedora da competição por duas ocasiões, a última em 2018, a equipa balcânica eliminou nas meias-finais a Sérvia de Novak Djokovic (que ganhou o singular mas perdeu depois nos pares) por 2-1, tendo como principal a dupla Nikola Mektic e Mate Pavic, que conseguiram o ponto decisivo depois do triunfo de Borna Gojo sobre Dusan Lajovic e da derrota de Marin Cilic. Do outro, a Federação Russa de Ténis, grande favorita à vitória final após afastar a Alemanha nas meias com os triunfos nos jogos de singulares de dois dos mais cotados em prova, Andrey Rublev e Daniil Medvedev.

Sem grandes problemas apesar da boa réplica croata, imperou a lei do mais forte: Andrey Rublev venceu Borna Gojo por 6-4 e 7-6 (7-5) em pouco mais de uma hora e meia, Daniil Medvedev bateu Marin Cilic por 7-6 (9-7) e 6-2 em pouco menos de uma hora e meia e o encontro de pares entre Rublev e Aslan Karatsev e a dupla Nikola Mektic e Mate Pavic serviria apenas para cumprir calendário. Mesmo com o nome de Federação Russa, o país conseguia o terceiro título na Taça Davis quebrando um jejum de 15 anos. No entanto, o último dia voltou a ser marcado pelas críticas feitas a este novo modelo competitivo.

“O que este jogador de futebol do Barcelona [Gerard Piqué] e mais umas pessoas próximas dele fizeram a comprar isto por muito dinheiro é um desastre. Pergunto, onde está a atmosfera? A Taça Davis é usada como um símbolo do ambiente certo, onde é que ele esteve hoje? Reparem, agora estão já a dizer que querem levar a final para Abu Dhabi, depois daqui a uns três anos seguem para as Américas e isso não tem nada a ver com o que é a Taça Davis. A Taça Davis é para ser jogada pelo seu país, envolve emoções, uma atmosfera diferente e é onde os verdadeiros jogadores mostram mais de si”, apontou Nikola Pilic, antigo jogador croata que liderou a equipa na primeira vitória de sempre na prova no ano de 2005 quando contava no lote de jogadores disponíveis com Goran Ivanisevic, Ivan Ljubicic e Ivo Karlovic.

E como uma polémica parece que nunca vem só, Medvedev foi assobiado pelo público em Madrid depois de ter eliminado a Espanha e ter festejado como… Cristiano Ronaldo. “Quando ele jogava no Real Madrid fazia isso quando festejava e por isso agi assim. Senti que era divertido mas talvez tenha sido mal-entendido. Assumo as consequências como sempre o faço”, comentou o jogador russo, que acabou por fazer as “pazes” com os espanhóis este domingo: “Obrigado por me terem apoiado hoje”.