Fonte oficial do governo etíope estimou esta terça-feira em cerca de dois milhões os deslocados internos das regiões de Amhara y Afar, devido ao conflito que há um ano opõe o Governo central aos rebeldes da província nortenha do Tigray.

Segundo Bilene Seyoum, secretário de imprensa do primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, que falava numa conferência de imprensa em Adis Abeba, mais de 1,4 milhões de pessoas em Amhara (adjacente a Tigray ao sul e a oeste) e cerca de 400.000 em Afar (leste) tiveram que deixar as suas casas por causa do conflito.

O anúncio de Bilene foi feito um dia depois de o Governo etíope anunciar que recuperou o controlo de várias cidades estratégicas devido à sua relativa proximidade com a capital e que estavam sob o domínio dos rebeldes da Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF, na sigla em inglês).

O gabinete de Abiy anunciou na segunda-feira, na rede social Twitter, “a tomada das cidades de Bati, Gerba, Kersa, Degan, Dessie e Kombolcha” aos rebeldes da TPLF.

O anúncio confirma a tendência de avanços das forças armadas governamentais sobre territórios que estavam antes sob controlo rebeldes em Amhara e Afar.

A queda de Dessie e Kombolcha, em finais de outubro, foi particularmente significativa, ao colocar as forças da TPLF a menos de 400 quilómetros de Adis Abeba e marcar o recrudescimento do conflito e a instauração do estado de emergência no país.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A ameaça rebelde sobre Adis Abeba levou o próprio Abiy Ahmed, galardoado em 2019 com o prémio Nobel da Paz, a anunciar em finais de novembro que iria para a frente de combate liderar pessoalmente a defesa da capital e dar um novo impulso à ofensiva governamental.

A recuperação destas cidades junta-se a outras vitórias simbólicas das forças governamentais nos últimos dias, designadamente a retomada da histórica cidade de Lalibela, onde se situam as famosas igrejas escavadas na rocha declaradas Património da Humanidade pela agência da ONU para a Educação, a Ciência e a cultura (UNESCO) e que desde agosto eram controladas pelos rebeldes.

No encontro com a imprensa, Bilene acusou as forças rebeldes de terem deixado atrás de si “um terrível nível de destruição”, ao partilhar algumas imagens alegadamente tiradas das cidades recuperadas, onde se podem ver diversos edifícios e infraestruturas — incluindo o aeroporto de Lalibela — demolidos.

Acresce àquela destruição “as provas de graves atrocidades e violações dos direitos humanos”, mas sem dar mais informações a esse respeito.

Do lado da TPLF, o seu porta-voz, Getachew Reda, minimizou na segunda-feira a perda de território, que classificou como “ajuste territorial” e atribuindo a retirada a “considerações táticas, operacionais e estratégicas”.

O governo federal está em guerra há mais de um ano com os rebeldes da TPLF.

O conflito eclodiu a 4 de novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope ordenou uma ofensiva do exército contra a TPLF, no poder em Tigray, alegadamente em retaliação por um ataque a uma base militar federal, e culminando uma longa sequência de tensões e confrontos políticos.

Em resposta, a TPLF formou alianças com outros grupos rebeldes, como o Exército de Libertação Oromo (OLA), ativo na região de Oromia, que envolve a própria capital, Adis Abeba, a que os oromos chamam Finfinne.

Segundo a ONU, milhares de pessoas foram mortas e cerca de dois milhões foram forçadas a fugir das suas casas desde a eclosão da violência há um ano.

Além disso, cerca de 9,4 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária no norte da Etiópia devido à escalada da guerra, de acordo com o Programa Alimentar Mundial (PAM).

Mais de 9 milhões de pessoas necessitam de ajuda alimentar no norte da Etiópia

A intensificação do conflito nos últimos meses e o receio de que os rebeldes pudessem tomar a capital do segundo país mais populoso de África (mais de 110 milhões de pessoas) revigoraram os esforços diplomáticos, até agora infrutíferos, no sentido da cessação das hostilidades e da assinatura de um acordo negociado.