O terceiro golo de Matheus Nunes no dérbi lançou o primeiro coro de assobios, o final da partida com uma derrota por 3-1 frente ao Sporting na Luz deu lugar a uma vaia ainda mais sonora acompanhada por muitos lenços e máscaras brancas. A derrota com o rival deixou marcas entre os adeptos encarnados, que fizeram questão de demonstrar o seu descontentamento tendo Jorge Jesus como principal alvo dessa manifestação. E o treinador assumiu esse mesmo estado de espírito, colocando o foco na Champions.

“Estas horas não vão ser fáceis para todos”, admite Jesus, que olha para o futuro enquanto é contestado no presente

“Quarta-feira já temos um jogo decisivo e queremos muito passar na Liga dos Campeões. Estas horas não vão ser fáceis para todos: adeptos, jogadores, treinador… Mas amanhã [sábado] estamos a treinar e a pensar em vencer o Dínamo Kiev. É uma decisão, hoje ficámos a quatro pontos da liderança da Primeira Liga mas ainda há muitas jornadas para recuperar. Na quarta-feira ou seguimos em frente ou podemos ir à Liga Europa, que isso já está assegurado”, comentou o técnico na conferência depois do dérbi.

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Assobios, lenços (e máscaras) brancos e uma monumental vaia na despedida: Jorge Jesus contestado na Luz

No entanto, e daí para cá, muito se foi falando a propósito do futuro do treinador. Que poderia no limite sair se não vencesse os ucranianos, que não reunia consenso entre a Direção dos encarnados, que estaria a ser analisado até ao final do mês entre as decisões não só europeias mas também na Taça de Portugal e na Taça da Liga além do Campeonato. Tudo informações não confirmadas que, ao Observador, resumiram numa só ideia: tem ligação até ao final da época e não existem nesta fase razões para mudar. “Jorge Jesus tem contrato e o presidente do Benfica tem deixado claro que os contratos são para cumprir. Estamos no início da época e não faz sentido colocar essa questão, é tudo especulação dos media. É o treinador do Benfica e, portanto, é o treinador que temos de apoiar”, disse o vice Jaime Antunes à Rádio Renascença.

Pressão sobre Jesus aumenta mas saída da Luz não é hipótese até ao final do ano. Flamengo reabre porta mas quer dar “tempo ao tempo”

Ainda assim, e num outro país, a esperança de poder assegurar o regresso do técnico parece ter aumentado e o Maracanã voltou a chamar por Jorge Jesus na derrota na receção ao Santos já com Maurício Souza na liderança interina da equipa após o despedimento de Renato Gaúcho. O célebre “Olé olé olé olé! Mister! Mister!” que tanto se ouvia em 2019 e 2020 voltou a ecoar no estádio uns dias depois de Marco Braz, vice para o futebol do Flamengo, ter assumido que o treinador “não é um plano mas é uma opção”. “O Jorge tem um contrato em vigor, tem dois compromissos importantíssimos nos próximos 20 dias. É uma temeridade eu chegar e falar de Jorge Jesus até pela situação dele neste momento. É um treinador que deu certo no Flamengo, tem conexão com os adeptos mas vamos dar tempo ao tempo”, destacou.

Agora, na antecâmara da receção aos ucranianos, Jorge Jesus voltava a falar à imprensa pela primeira vez desde a derrota no dérbi frente ao Sporting, podendo também comentar todas as notícias que foram sendo publicadas nos últimos dias sobretudo pela imprensa desportiva em relação ao seu futuro na Luz.

“É preciso estar focado, focado no Benfica. Sou treinador do Benfica. Estou focado nos 25 jogos, amanhã será o 26.º já com dez de Champions. Estou focado nas tarefas que temos de fazer. Tentei passar à equipa tudo o que nos aconteceu no último jogo, porque é importante saber porque é que aquilo aconteceu, para que amanhã, sendo um adversário diferente, a equipa venha mais confiante. Nesta casa ninguém está muito habituado a perder com o rival, e eu já joguei 18 vezes com eles, mas já faz parte do passado e amanhã só temos de pensar na vitória e depois esperar o que acontece”, começou por dizer.

“Problema no meio-campo? Não, cada jogo tem uma análise diferente mediante a tática do adversário e também das características dos jogadores. Podemos fazer um retrato do que fizemos como equipa mas não podemos depois concluir que vai ser igual. O importante é perceber o que não fizemos tão bem dentro das nossas ideias, a parte ofensiva e defensiva. Jogo decisivo para mim? Este jogo pode trazer ao Benfica um êxito que à partida ninguém esperava, tudo o que acontecer será sempre um êxito porque entra na última jornada e já tem um apuramento para outra prova. O objetivo dos oitavos acreditávamos que era possível mas não era pressão, temos o Bayern e o Barcelona. Está a colocar-se uma situação, se não passarmos parece que tínhamos obrigação… Se passar é um marco importante na carreira”, referiu a seguir.

“Sabemos que estamos na Champions, todas as equipas têm um alto nível. Esta equipa tem seis jogadores que são titulares na Ucrânia mas são convocados 13 internacionais. Já fez grandes jogos e amanhã vamos ter um jogo difícil onde em caso de vitória podemos passar aos oitavos, estamos dependentes do outro resultado. Só podemos jogar para ganhar mas vamos enfrentar problemas”, referiu sobre o jogo, antes de falar também de Pizzi: “Vai ser sempre um trunfo, ou no onze ou ajudando depois. Temos mais um treino para fazer, são 26 jogadores num plantel de muita qualidade e face ao momento do jogo de amanhã, que pode valer uma passagem que para muitos era impossível, primeiro temos de olhar para nós. Até porque convém recordar que o Barcelona, nos últimos 18 anos, nunca ficou de fora dos oitavos”.