Jogo entre AC Milan e Liverpool costuma ser na história uma sinal de decisão. Foi assim em 2005, quando os ingleses conseguiram vencer a Liga dos Campeões nas grandes penalidades naquela que foi uma das mais emocionantes recuperações de sempre na competição de 0-3 para 3-3 em pouco mais de seis minutos. Foi assim em 2007, quando os italianos vingaram essa derrota inesperada e ganharam o seu último troféu com um bis de Pippo Inzaghi. Agora, a parte da final, ainda que não podendo ser levada à letra, estava lá. O contexto, esse, era completamente diferente. E tudo o que acontecia em San Siro, na última jornada da fase de grupos da Champions, estava condicionado com o que se estava a passar no Dragão.

Entre 13 Ligas dos Campeões só podia haver jogo grande: AC Milan assustou mas o Liverpool confirmou nova “vingança”

Apesar da derrota em Anfield logo na ronda inaugural, os rossoneri foram a equipa que mais dificuldades conseguiram provocar no todo poderoso conjunto de Jürgen Klopp. E até começaram a perder, dando a volta antes do intervalo antes de sucumbirem no segundo tempo pela margem mínima de 3-2. No entanto, e depois disso, a equipa de Pioli não conseguiu levar para a prova europeia a grande carreira que estava a fazer na Serie A e que lhe vale nesta fase a liderança da Liga, fazendo apenas um ponto em quatro jornadas. A eliminação parecia um dado adquirido mas o triunfo em Madrid diante do Atlético com um golo de Júnior Messias a três minutos do final baralhou todas as contas num grupo onde os reds passearam.

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“Não vai ser fácil porque eles jogam com muita intensidade e têm muita qualidade. São uma equipa muito forte mas nós também somos fortes e podemos criar muitas dificuldades. Crescemos muito como equipa desde o jogo em Inglaterra. Aquela partida foi a primeira vez em que muitos dos nossos jogadores jogaram na Liga dos Campeões, hoje temos mais consciência de tudo. Só precisamos de fazer o nosso jogo e não estarmos só a pensar nas maneiras de impedir que marquem. Temos de melhorar nos movimentos sem bola, conhecer melhor os espaços que possam surgir”, comentara na antecâmara Stefano Pioli, que além de Kjaer na defesa tinha algumas baixas por lesão na frente como Rafael Leão, Rebic ou Giroud.

“Temos de rodar a equipa, vamos mesmo rodar a equipa, é uma certeza. A parte do ‘temos de’ é mesmo o mais importante porque o departamento médico matava-me se voltasse a jogar com a mesma equipa neste jogo… Não vou revelar antes a equipa mas vamos fazer mudanças, não posso é alterar tudo também. O que aconteceu com o Origi neste último jogo com o Wolverhampton mostrou que, quando se tem as pernas mais frescas, o jogo é disputado com outra energia e o desempenho melhora. E a Liga dos Campeões tem essa coisa boa de se fazerem cinco substituições”, anunciara Jürgen Klopp, que além do castigado Milner tinha outras ausências por lesão ou por desgaste físico, incluindo Diogo Jota.

A torcer por um empate no Dragão para depender apenas de si e passar aos oitavos da Champions em caso de triunfo, o AC Milan teve um reforço motivacional na última jornada da Serie A, onde ficou isolado na frente. E o próprio Sérgio Conceição não mostrou dúvidas em relação ao resultado final do encontro em San Siro, vaticinando uma vitória transalpina assim como já esperava o triunfo em Madrid. No final, esse palpite ficou por metade porque se é verdade que os italianos até começaram a ganhar, os ingleses deram mais uma demonstração de categoria mesmo jogando com muitos habituais suplentes.

O encontro começou intenso, a promover faísca até nos bancos entre Pioli e Klopp depois de um lance entre Origi e Romagnoli que deixou o capitão dos italianos no chão. O AC Milan entrou com a ideia de tentar sem bola e no meio-campo contrário subir as suas linhas de pressão ao mesmo tempo que, numa segunda fase, recuava linhas para tirar profundidade a Salah e Mané. Em posse, tudo passava como sempre pelos pés de Tonali, a pautar momentos e corredores para chegar ao último terço. Golos e oportunidades, nem uma. E foi numa fase em que o Liverpool parecia melhor que os visitados inauguram o marcador, com Alisson a defender para frente um canto que ia direto e Tomori a empurrar na pequena área para o 1-0 (29′).

A bola parada fazia a diferença, com Minamino a ter também algumas culpas no cartório pela forma como (não) abordou o lance no primeiro poste, mas o AC Milan teria poucos minutos para festejar aquele que na altura funcionava como apuramento virtual perante o nulo no Dragão: depois de uma defesa para a frente de Mike Maignan após grande trabalho individual de Origi na área (33′), Oxlade-Chamberlain conseguiu tirar dois adversários pelo corredor central, arriscou a meia distância e Salah aproveitou a recarga para chegar ao 20.º golo da temporada em… 21 jogos (36′). As contas voltavam a estar empatadas e assim foram para o intervalo mas com os ingleses de novo mais confortáveis no encontro e com melhores saídas.

O segundo tempo começou com muitos protestos do AC Milan por uma queda de Kessié na área mas com o Liverpool de novo a assumir a partida e a chegar mesmo à reviravolta quase de forma natural, tendo mais uma vez Origi como artilheiro da equipa como já acontecera com o Wolverhampton na última ronda da Premier League (55′). Theo Hernández, de pé direito, ainda tentou visar a baliza de Allison pouco depois mas a partir do momento em que os ingleses se viram em vantagem o encontro mudou, prevalecendo a experiência de quem volta a deixar uma demonstração de que é candidato à Champions apesar de uma última oportunidade flagrante nos pés de Kessié sozinho na área com Alisson a fazer a mancha (85′).