O secretário-geral da ONU, António Guterres, defendeu esta sexta-feira que é preciso reforçar o “diálogo racional e a inclusão social” nas democracias para combater os totalitarismos e as “crescentes ameaças” aos direitos humanos.

Na sua intervenção na Cimeira para a Democracia — um evento em formato virtual organizado pelo Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que conta com a participação de líderes de mais de uma centena de países e que termina esta sexta-feira — Guterres mostrou-se preocupado com o que disse ser “o assalto à razão e aos factos” que está a minar as democracias em diferentes partes do globo.

“Em muitas partes do mundo, vemos pessoas a afastar-se dos valores da democracia. (…) A irracionalidade está a ganhar terreno; o populismo, o nativismo, a supremacia branca e outras formas de racismo e de extremismo estão a envenenar a coesão social e as instituições democráticas”, disse Guterres, no seu depoimento de cerca de cinco minutos.

O secretário-geral da ONU começou por lembrar que apenas experimentou a vida em democracia aos 24 anos, depois de ter sentido o “peso da ditadura” de António Salazar, mostrando-se “orgulhoso” por ter participado na luta pela liberdade em Portugal.

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“Eu vi que essa ditadura oprimiu não apenas alguns cidadãos, mas também pessoas debaixo do colonialismo em África. (…) Por isso, sei o que é viver numa atmosfera de constante medo”, explicou Guterres, falando da sua experiência de juventude.

O secretário-geral das Nações Unidas disse estar “seriamente preocupado” com sinais que observa em várias partes do mundo, com o avanço de regimes totalitários e com as consequências negativas da transição digital, que através da desinformação mobiliza as pessoas para valores radicalizados.

“O assalto à razão e aos factos está muitas vezes associado às tecnologias digitais e às redes sociais, com modelos de negócio impulsionados pela raiva e ansiedade”, explicou Guterres, referindo-se às ameaças que pairam sobre as instituições democráticas.

“Está na altura de reafirmarmos os valores partilhados e de salientarmos a resiliência da democracia. Isto implica um profundo diálogo social, combater as desigualdades e a corrupção”, concluiu o secretário-geral da ONU, em linha com os principais tópicos que estão a ser discutidos nesta cimeira virtual.

Ao longo do dia desta sexta-feira, em diferentes painéis temáticos, chefes de Estado e de Governo, mas também líderes de organizações internacionais, vão discutir mecanismos de defesa dos direitos humanos e estratégias para reforçar as democracias contra os autoritarismos.