A Stellantis é o 4º maior grupo automóvel a nível mundial e o 2º na Europa, sendo liderada pelo português Carlos Tavares. Um gestor que não deixa de surpreender. Numa semana, anuncia investimentos em chips, em baterias e em plataformas, visando inclusivamente substituir, a prazo, os actuais veículos eléctricos do grupo, montados em chassis de motores de combustão adaptados, por outros especificamente concebidos para trabalhar de forma 100% eléctrica, para optimizar a eficiência. Na semana seguinte, o mesmo gestor vem queixar-se que está a ser forçado a fabricar carros eléctricos, mas que não sabe como irá ganhar dinheiro com a sua comercialização.

As dúvidas de Carlos Tavares foram tornadas públicas pela Reuters, ao serem proferidas numa conferência organizada pela agência noticiosa. O CEO da Stellantis afirmou que “a electrificação incrementa os custos de produção em 50%” – referindo-se sem dúvida a novas plataformas, fábricas adaptadas às novas arquitecturas e produção de baterias –, para de seguida admitir que “não é possível passar 50% de incremento dos custos para o comprador”.

Como conhecemos Carlos Tavares desde os tempos em que era gestor de produto da Renault, onde já era respeitado como extremamente competente, reputação que reforçou nos tempos em que dirigiu a PSA e, agora, a Stellantis, nada disto será gratuito ou afirmado da boca para fora. Como dificilmente estará a atentar contra a sua própria estratégia enquanto fabricante, o mais provável é que estas declarações de Carlos Tavares visem pressionar o Governo francês, tentando amealhar apoios e, de caminho, reforçar o lobby dos construtores europeus junto da União Europeia.

Mas numa fase em que muitos clientes ainda colocam em causa a viabilidade da aquisição de um automóvel eléctrico, pelo tempo necessário para os recarregar e a existência de postos de carga para realizar a operação, as dúvidas levantadas pelo CEO em nada contribuem para tranquilizar o investidor, neste caso o cliente.

Tavares prevê ainda que “a produtividade vá cair 10% por ano nos próximos cinco anos, numa indústria que consegue apenas incrementos de produtividade de 2% a 3% anualmente”. Independentemente de todos os países europeus estarem a torcer pelo sucesso da Stellantis, como qualquer outro grupo com presença no Velho Continente, em termos de fábricas, empregados, investimentos e lucros, a realidade é que se o investimento tivesse sido realizado mais cedo e de forma mais gradual, o esforço seria substancialmente menor. Tavares fala num investimento de 30 mil milhões de euros até 2025 para atacar a mobilidade eléctrica de frente e não com soluções multienergia, que reduzem o investimento, mas são um compromisso sem futuro. Resta saber se ainda vai a tempo.

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