O ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, anunciou esta segunda-feira que Portugal vai passar a ser a sede da Escola de Música do Afeganistão (ANIM, em sigla inglesa) ao abrigo de emergência humanitária naquele país.

Os membros da ANIM (Afghanistan National Institute of Music) estão integrados num grupo de 273 afegãos que esta segunda-feira chegaram a Portugal, elevando para 764 cidadãos daquele país acolhidos no território português.

“Nós vamos receber em Portugal, vamos trasladar para Portugal o Instituto Nacional de Música do Afeganistão que é uma instituição conhecidíssima internacionalmente”, afirmou João Gomes Cravinho.

O governante português falava para um grupo de jornalistas de órgãos de comunicação social portuguesas na Guiné-Bissau, no âmbito da sua visita de trabalho de dois dias, esta segunda-feira iniciada.

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O ministro da Defesa português notou ainda que a ANIM já atuou, no passado, em vários países do mundo, incluindo em Portugal, enalteceu a qualidade do ensino da música que proporciona e ainda a visão que tem daquela forma de arte.

João Gomes Cravinho disse que a ANIM trata a música como “ponte entre as culturas”, ensinando aos estrangeiros a sua essência tradicional.

Para o governante português, estando em Portugal, os membros da ANIM vão poder continuar o seu trabalho e logo que estejam reunidas as condições, “no pós-talibã” irão regressar para ajudar na reconstrução cultural do Afeganistão, disse.

Diretor da orquestra diz que músicas são um “símbolo de coragem”

Ahmad Sarmast, diretor do Instituto Nacional da Música, destacou que a chegada da escola a Portugal é o “primeiro e mais importante passo para salvar vidas e assegurar a liberdade”.

“A partir de agora, estes músicos serão um símbolo de coragem não só para os artistas afegãos, como também para as pessoas do Afeganistão na sua luta contra a opressão e a tirania dos talibãs”, afirmou de acordo com a Associated Press.

MNE diz que 270 refugiados eram  “pessoas especialmente vulneráveis a perseguições”

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, confirmou em Bruxelas a chegada a Portugal de um grupo de 270 refugiados afegãos, designadamente mulheres jovens pertencentes à orquestra do Instituto de Música do Afeganistão e familiares.

Em declarações à imprensa após participar numa reunião de chefes de diplomacia da União Europeia, Santos Silva, questionado sobre a chegada a Portugal, de um grupo de cerca de 270 refugiados afegãos, confirmou a informação, apontando que o grupo em causa “já terá aterrado ou está a aterrar” em solo português, e apontou que este é o desfecho de um processo “de várias e várias semanas”.

O ministro explicou que “o contexto desta chegada é o contexto do apoio de Portugal a refugiados afegãos com prioridades muito claras e muito bem definidas”, lembrando aquelas que foram definidas por ocasião da tomada do poder pelos talibãs, em agosto passado, uma das quais a de prestar apoio a “pessoas especialmente vulneráveis a perseguições” por parte do novo regime.

Recordando que a primeira prioridade “naturalmente era retirar todos os cidadãos portugueses que estavam em Cabul no dia 15 de agosto”, que a segunda era “apoiar a saída de todos os cidadãos afegãos que tinham colaborado com as forças portuguesas destacadas”, a terceira a de prestar apoio a “cidadãos afegãos que tivessem colaborado com organizações internacionais a que Portugal pertence e dentro da solidariedade interna dessas organizações (casos da ONU, NATO e UE)”, o ministro apontou então a quarta prioridade, no contexto da qual ocorre a chegada deste grupo.

“A quarta prioridade era e é apoiar a saída de pessoas especialmente vulneráveis a perseguições da parte do regime talibã, ou por serem ativistas de direitos humanos, ou por serem jornalistas, ou por serem ex-funcionários da administração anterior afegã, ou por serem mulheres, que, por serem desportistas, por serem músicas, por serem profissionais, são vulneráveis a perseguições do lado do Afeganistão”, explicou.

Apontando que Portugal tem “cumprido estas prioridades em cooperação com organizações”, de modo a que o seu apoio “seja o mais eficiente possível”, Santos Silva indicou então que Portugal definiu como uma das necessidades a de apoiar o Instituto Nacional de Música do Afeganistão (ANIM no seu acrónimo inglês), e confirmou que, “ao fim de várias e várias semanas, porque estes processos são sempre muito complexos, já terá aterrado ou está a aterrar um grupo de 270 pessoas, jovens músicas da orquestra deste instituto e respetivos familiares, que serão acolhidos em Portugal, sendo objeto das medidas de apoio ao acolhimento e à primeira integração que caracterizam a resposta de Portugal em matéria humanitária e de apoio aos refugiados”.

Questionado sobre os perigos concretos que ameaçavam estas pessoas, o chefe da diplomacia respondeu que “basta pensar que a participação de mulheres no desporto e na música foi banida e, aliás, a música foi banida pelo regime talibã, para perceber os perigos que corriam”.

Santos Silva enfatizou que designadamente as jovens músicas enfrentavam “não só os perigos físicos, mas também da negação do seu direito, delas, estudantes de música, em prosseguirem um projeto de vida ligado à música”.

“E, portanto, essa é, do nosso ponto de vista, razão bastante”, completou.

A terminar, Santos Silva, reforçando que “o processo foi naturalmente muito demorado”, revelou que, teve ocasião, no almoço de trabalho desta segunda-feira dos 27 com o ministro dos Negócios Estrangeiros e vice-primeiro-ministro do Qatar, “de agradecer, pessoal e publicamente, ao Qatar” o apoio “inestimável” dado neste processo, “visto que este grupo passou por Doha e foi apoiado pelas autoridades de Doha durante algumas semanas”.

Costa assinala que Portugal recebeu 273 afegãos ligados a carreiras musical ou artística

O primeiro-ministro assinalou que Portugal recebeu esta segunda-feira 273 cidadãos afegãos, na sua maioria com carreira musical e artística, após uma operação em articulação com os amigos do Instituto de Música Nacional do Afeganistão.

Este novo acolhimento por parte de Portugal de cidadãos afegãos foi divulgado por António Costa na sua conta oficial na rede social Twitter.

“É com enorme alegria e espírito de solidariedade internacional que recebemos em Portugal 273 cidadãos afegãos, numa operação em articulação com [os amigos] do Instituto de Música Nacional do Afeganistão (ANIM)”, escreveu o líder do executivo.