Foi descoberta água debaixo do “Grand Canyon” de Marte, numa missão conjunto entre a Agência Espacial Europeia (ESA) e a Roscosmos – contraparte russa correspondente à NASA. A descoberta foi publicada num estudo tornado público esta quarta-feira.

A água foi descoberta com recurso ao FREND – Fine Resolution Ephitermal Neutron Detector – um Rastreador de Gás em Órbita (TGO, da sigla em inglês) que mapeou a presença de hidrogénio a um metro de profundidade do solo de Marte.

Embora já se conhecesse existir água em Marte, segundo a ESA, até agora pensava-se que esta existisse apenas em maior quantidade na zona dos polos, sob a forma de gelo. Nas regiões junto da linha do equador de Marte, onde a temperatura não é baixa o suficiente à superfície, apenas se tinham descoberto pequenas quantidades de água sob a forma de pequenas partículas de gelo ou ligadas a minerais.

Com o TGO podemos observar um metro abaixo da camada de poeira e ver o que realmente existe abaixo da superfície de Marte – e, mais crucial, localizar ‘oásis’ ricos em água que não podiam ser detetados com os instrumentos anteriores”, explicou, segundo a ESA, Igor Mitrofanov, do Instituto de Pesquisa Espacial da Academia de Ciências da Rússia, e autor principal do estudo.

Os depósitos de hidrogénio – associados à presença de água — foram encontrados no Canyon Valles Marineris, que corresponde aproximadamente à área dos Países Baixos e que é cerca de dez vezes mais comprido e cinco vezes mais profundo que o Grand Canyon dos Estados Unidos da América.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“O FREND revelou uma área com uma quantidade incomum de hidrogénio no colossal sistema do Canyon Valles Marineris: assumindo que o hidrogénio que observámos está concentrado em moléculas de água, cerca de 40% do material abaixo desta superfície parece ser água”, esclareceu ainda Igor Mitrofanov.

O estudo foi realizado, entre maio de 2018 e fevereiro de 2021, com base num mapeamento com recurso à deteção de neutrões.

Os neutrões são produzidos quando partículas altamente energéticas conhecidas como ‘raios cósmicos galácticos’ atingem Marte; os solos que estão secos emitem mais neutrões que os húmidos, pelo que podemos deduzir a quantidade de água existe no solo pela análise dos neutrões que emite”, explicou Alexey Malakhov, coautor do estudo e também ele do Instituto de Pesquisa Espacial.

Segundo o cientista, a área analisada assemelha-se às regiões de Permafrost no nosso planeta, onde a água se encontra permanentemente congelada debaixo de uma fina amada de solo seco em consequência das baixas temperaturas constantes.