Um primeiro-ministro japonês voltou a residir, pela primeira vez em quase uma década, na residência oficial designada para o líder do executivo nipónico.

Construída em 1929, a mansão de tijolo escuro, dois andares e mais de cinco mil metros quadrados é conhecida na sociedade japonesa por ser a residência não só do primeiro-ministro, mas também de fantasmas — estes últimos residentes permanentes — vítimas de assassinato.

Projetada inicialmente para servir de gabinete oficial do líder japonês, a mansão rapidamente se tornou notícia pelos piores motivos. Em 1932, o então primeiro-ministro Tsuyoshi Inukai foi ali assassinado numa tentativa de golpe de Estado por oficiais insurgentes da Marinha japonesa.

Em 1936, quatro anos depois, o edifício voltou a ser palco, segundo o El País, de uma revolta conhecida como Incidente de 26 de fevereiro. O golpe, desta vez falhado, não matou o chefe do executivo da altura, que conseguiu esconder-se na mansão. A fação radical do exército imperial que tentou derrubar o governo de Keisuke Okada, contudo, matou cinco membros do seu gabinete.

São precisamente essas cinco vítimas — diz o mito popular — assombram a residência oficial do primeiro-ministro. Depois da Segunda grande Guerra, a mansão foi-se tornando datada para a época e passou a ser utilizada apenas para receções oficiais de diplomatas estrangeiros.

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Apenas em 2005 o edifício seria, de facto, utilizado como residência dos líderes japoneses, uma vez que se localiza junto do edifício Kantei, o gabinete dos chefes de governo construído em 2002, mais moderno e erguido em vidro e aço.

A residência foi, contudo, utilizada apenas durante sete anos, tendo o seu último ocupante sido Yoshihido Oda, que abandonou o cargo em 2012. Até este ano, a casa tinha sido habitada por diversos líderes de governo, cujos mandatos nunca conseguiram ser cumpridos na totalidade. Esta rotatividade de primeiros-ministros até 2012 serviu para fomentar a ideia de que a mansão contribuíra para a má sorte dos líderes de executivo.

Shinzo Abe, que realizou o seu segundo mandato entre 2012 e 2020 – tendo sido o primeiro-ministro em funções durante mais tempo no período pós-guerra – optou por não residir na mansão, e permaneceu, de acordo com a NDTV, na sua casa particular. Também o seu sucessor, Yoshihide Suga, escolheu não residir na “casa assombrada”.

O novo primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida – do Partido Liberal Democrata – líder do executivo que ganhou as eleições em outubro do ano passado, decidiu quebrar com as superstições em relação à mansão, e mudou-se no último fim de semana para o edifício, este quase centenário.

Na curta caminhada entre a sua nova casa e o gabinete, realizada na segunda-feira, o líder nipónico foi interpelado por jornalistas que procuraram saber como estaria a correr a sua estadia e se já tinha visto algum fantasma.

“Não vi nenhum… ainda”, disse Fumio Kishida, com um sorriso.