A Coreia do Sul está a desenvolver um sistema de inteligência artificial, utilizando câmaras de reconhecimento facial, como forma de rastrear casos da Covid-19 e impedir possíveis contágios.

O governo sul-coreano decidiu aliviar as restrições pandémicas no passado mês de novembro, na sequência de ter mais de 75% da população vacinada. Com grande parte das medidas revogadas, o país está a ponderar até começar a efetuar uma abertura progressiva das fronteiras.

“É o caminho de regresso à vida quotidiana”, afirma o ministro da saúde sul-coreano, Kwon Deok-cheol, citado pelo jornal espanhol El Mundo.

Porém, o tiro saiu pela culatra. Acabadas de ser levantadas as restrições — como o alargamento dos horários de funcionamento de restaurantes e eventos desportivos a 50% de capacidade — os casos de Covid-19 dispararam. 

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O dia 3 de dezembro ficou marcado como sendo o mais mortífero, quando os relatórios registaram 104 mortes, e os casos continuaram o seu súbito aumento, atingido os 7.850 diários.

Face à reviravolta inesperada do retorno à normalidade do país, o primeiro-ministro Kim Bom-kyum anunciou quarta-feira que está a considerar (re)adotar as restrições que foram levantadas. Juntamente, anunciou também que o país lançará um projeto-piloto de inteligência artificial, munido de milhares de câmaras de vigilância com reconhecimento facial, com um sistema de permitirá rastrear pessoas positivas à Covid-19.

Naturalmente, o anúncio levantou revolta entre a oposição e a população geral, que consideram que o sistema é uma descarada invasão de privacidade.

“O plano do governo converter-se num ‘Big Brother’ — utilizando a atual pandemia como pretexto — é uma ideia neototalitária”, afirma à Reuters Park Dae-chul, deputado da oposição no Partido do Poder Popular.

“É absolutamente incorreto monitorizar e controlar o povo através de câmaras, utilizando dinheiro dos contribuintes e sem ter obtido o consentimento da população”, concluiu.

Desde o início da pandemia que a Coreia do Sul tem vindo a utilizar sistemas de rastreio, que fazem uso de registos de cartões de crédito, ou do sistema de localização dos telemóveis. Como tal, muitos têm sido os legisladores que têm saído em defesa dos direitos humanos e demonstrado preocupação no tratamento de dados que o governo sul-coreano levado nos últimos anos.

O sistema, impulsionado pelo Ministério da Ciência, analisa compilações de imagens provenientes de mais de 10 mil câmaras de videovigilância, sendo capaz de rastrear até 10 pessoas simultaneamente em 5 minutos.

A explicação do ministério, como evidencia o El Mundo, é que o sistema foi desenvolvido para superar o facto de que as equipas de rastreio dependem do testemunho dos pacientes com Covid-19, que são muitas vezes desonestos sobre as suas atividades e paradeiro.