Chegou a dizer que vinha para “prestar contas”, mas o que acabou por fazer foi sobretudo deixar recados (ainda que em forma de conselhos) ao partido chefiado por Rui Rio: é preciso unir, é preciso manter distância dos extremos e é preciso largar o debate ideológico e passar às propostas concretas. Levantou o congresso por três vezes e saiu rapidamente de Santa Maria da Feira por motivos de agenda como presidente da Câmara de Lisboa.

Tendo em conta o histórico mais recente de Rui Rio na liderança do PSD, concretamente na elaboração das listas de candidatos a deputados, aquilo a que Moedas chamou de “pequeno conselho” — saído da sua própria aprendizagem com a vitória surpreendente na Câmara de Lisboa — foi mais um aviso à navegação de quem tem eleições legislativas dentro de pouco mais de um mês. “Só ganhamos em Lisboa porque estivemos unidos como partido”, disse.

Do cimo do crédito de que goza como o mais recente grande vitorioso social-democrata, Moedas assegurou que o PSD só ganhou as autárquicas em Lisboa porque esteve “unido como partido” e “porque respondeu concretamente às pessoas e aos seus problemas com um inconformismo moderado, mas do tamanho do mundo”.

Pôs para trás das costas as diretas do fim de novembro, abraçando e agradecendo aos dois candidatos de então — o ganhador Rio e o derrotado Rangel –, decretando que “a partir deste congresso não há apoiantes de Rui Rio ou Paulo Rangel. Todos somos PSD. Todos somos importantes. Todos somos indispensáveis”. Aqui a sala que já o tinha recebido de pé, voltou a levantar-se na maior ovação do Congresso até ao momento.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Com a sala já bem aquecida — uma novidade até aqui nesta reunião social-democrata — Moedas disparou ainda para outra frente, a das propostas e das alianças futuras, com uma expressão pensada ao pormenor: “Incoformismo moderado”. Parece um contradição de termos, mas serve para o autarca pedir que o PSD não se renda ao Chega. Foi isso mesmo que disse, sem nomear o nome do partido liderado por André Ventura.

Numa altura em que se fazem todas as contas à direita (e à esquerda também), os votos do Chega poderiam servir para formar a tão desejada maioria para governar, mas Carlos Moedas coloca aí um travão sem “mas”. E isto porque “ser um inconformista moderado é vencer sem alianças com os extremos” — um caminho que já tinha firmado, de resto, na sua campanha em Lisboa.

Deita água fria sobre eventuais euforias (as últimas sondagens mostram o PSD a subir e a ganhar terreno ao PS), ao pedir que a Rui Rio que não seja “arrogante e sobranceiro”, mas “humilde na liderança”. E que, por fim, apresente “respostas concretas”.

Aqui, Moedas pede mesmo que se “retire a ideologia as soluções”, afastando debates ideológicos do caminho que o PSD deve seguir, avançando antes com três exemplos de medidas que devem avançar: “Que as pessoas mais idosas possam ir ao médico em vez de falar de saúde pública ou privada”; “oferecer aos mais novos e mais velhos transportes públicos gratuitos que reduzam a poluição da cidade em vez de falar conceitos vagos e impor soluções às pessoas que elas não compreendem”; “reduzir impostos e taxas que asfixiam a nossa economia e qualidade de vida dos portugueses”.

Saiu a dizer que Rui Rio “tem o partido inteiro atrás de si” e convencido que o atual líder do partido conta com toda a direita que o PSD tem representado ao longo dos tempos, desde “os três milhões” de votaram em Cavaco Silva em 1991, aos “dois milhões” que escolheram Passos em 2011, passando pelos “dois milhões” que votaram em Marcelo Rebelo de Sousa nas Presidenciais. São três maiorias de votos (absolutas ou não) que o homem que ganhou Lisboa por uma escassa margem coloca agora como fasquia a Rui Rio.