O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) lança no sábado, Dia Internacional do Migrante, uma campanha de emergência para recolher fundos destinados a adquirir roupas quentes para dezenas de milhares de crianças migrantes e refugiadas.

A campanha pretende também suprir outras necessidades fundamentais para o desenvolvimento dessas crianças ao longo do ano, indica a agência especializada da ONU em comunicado esta sexta-feira divulgado.

Contribuir para esta campanha da UNICEF irá fornecer kits de inverno para bebés, crianças e adolescentes que incluem roupas quentes, botas, gorros, luvas, meias de lã e outras peças de roupa, assim como abrigos adequados para a proteção de baixas temperaturas”, precisa a organização.

“Estima-se que um terço de todos os refugiados e migrantes que chegaram à Europa nos últimos anos sejam crianças. Desenraizadas das suas origens, muitas vezes sozinhas, estas crianças encontram-se em situação muito vulnerável: crianças que fogem das suas casas para escapar a conflitos, perseguições, devastação causada por fenómenos climatéricos catastróficos, pobreza e fome, e arriscam as suas vidas em busca de um futuro melhor”, refere a UNICEF.

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O inverno “agrava as vulnerabilidades das crianças nos campos de refugiados e de migrantes, cujas posses, muitas vezes, se limitam à escassa roupa que têm no corpo. A realidade destas crianças e jovens é muito dura. Temos de fazer tudo para evitar lesões e mortes causadas pelo frio. Contribuir através da UNICEF é garantir que a ajuda chega a quem precisa”, sublinha a diretora executiva da UNICEF Portugal, Beatriz Imperatori.

A organização frisa que “todas as crianças em movimento são vulneráveis a abusos e outras formas graves de violência durante e após as suas viagens, e as não-acompanhadas enfrentam riscos acrescidos de exploração às mãos de contrabandistas e traficantes de pessoas”.

Estima-se que mais do que uma criança morre todos os dias ao longo da perigosa rota do Mediterrâneo Central, do Norte de África para Itália e, dos quase 100.000 refugiados e migrantes que viajaram através desta rota no ano passado, cerca de 15% são crianças.

“A grande maioria destas crianças migrantes que chegam ao continente europeu são rapazes de 16 e 17 anos que viajam sozinhos, tendo como ponto de partida vários países da África Ocidental e do Corno de África”, refere a UNICEF, precisando que a maioria das crianças que viajam do Médio Oriente para a Grécia através do Mediterrâneo oriental vêm de três países: Síria (54%), Iraque (27%) e Afeganistão (19%).

Segundo a agência especializada da ONU, das muitas pessoas que fugiram do violento conflito na Síria, mais de três milhões vivem atualmente na Turquia — a maior população de refugiados do mundo — e quase metade são crianças.

A maioria dos refugiados sírios na Turquia vive em comunidades de acolhimento que são frequentemente assoladas pela pobreza, e centenas de milhares de crianças refugiadas sírias estão fora da escola.

De acordo com a UNICEF, do início de 2021 até 31 de Agosto desse ano, 472.000 refugiados e migrantes, incluindo 110.000 crianças, procuraram refúgio na Europa em seis países (Grécia, Itália, Bulgária, Sérvia, Bósnia e Herzegovina, e Montenegro) – uma tendência que a organização pensa continuará em 2022, razão pela qual reitera que “as crianças em movimento, particularmente as 10.000 crianças não-acompanhadas e separadas das suas famílias, são altamente vulneráveis e necessitam de cuidados e proteção urgentes”.

Por exemplo, em Itália, indica a agência especializada das Nações Unidas, “vagas sem precedentes nas chegadas de migrantes em 2021 originaram uma sobrecarga dos serviços, deixando refugiados e migrantes, incluindo crianças, em instalações superlotadas com acesso limitado ou inexistente a serviços básicos em centros de chegada/trânsito na Apúlia, Calábria, Lampedusa e Sicília, e em acampamentos informais em Roma”.

“A intenção de travar os fluxos maciços de migrantes para a Europa Ocidental, o encerramento das fronteiras, como nos Balcãs e, mais recentemente, na Polónia, e a declaração UE-Turquia resultaram num aumento de pessoas a correr maiores riscos para chegarem aos seus destinos – muitas vezes confrontadas com a exploração às mãos de contrabandistas, [e] as crianças mostram cada vez mais sinais de traumas psicológicos profundos como resultado do sofrimento que viveram durante e após as suas viagens”, denuncia a UNICEF.