Ana Gomes não tem dúvidas: um eventual acordo entre socialistas e sociais-democratas no pós-legislativas seria um “desastre para o país”. Para a antiga eurodeputada, o PS deve procurar renovar eventuais entendimentos à esquerda mesmo se vier a perder as próximas eleições legislativas, aproximando-se da solução encontrada em 2015. Nessa altura, sugere a socialista, o atual líder do PS já não será um bloqueio: “António Costa já disse que se perdesse abandonaria a direção do partido”, sugere.

Em declarações à Rádio Observador, Ana Gomes respondeu assim à pergunta que tem dominado os últimos dias: deve António Costa dizer abertamente se viabiliza ou não um governo minoritário do PSD se perder as próximas eleições legislativas? Duarte Cordeiro, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, recusou esta segunda-feira responder à pergunta; para Ana Gomes, no entanto, é uma não questão.

“Se António Costa já disse que se perdesse abandonaria a direção do partido e a vida política em Portugal, Duarte Cordeiro não pode estar a comprometer o PS para a possibilidade da direita ter uma maioria e poder formar governo. Compreendo que Duarte Cordeiro não possa comprometer António Costa e António Costa também não se pode comprometer”, afirmou Ana Gomes.

O entrelinhas é claro: se António Costa perder as legislativas, e se for fiel ao que disse em entrevista à RTP, não será o atual primeiro-ministro a definir a política de alianças no PS porque deixará a liderança do partido. E Pedro Nuno Santos, apontado com o homem em melhores condições de suceder a Costa, já disse que a ‘geringonça’ não foi “um parêntesis” na história da democracia.

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Num cenário pós-eleitoral, com as pontes à esquerda em ruínas depois do chumbo do Orçamento do Estado diz Ana Gomes que não se trata de “não haver espaço”, mas antes “vontade política da direção do partido” para recuperar essas pontes e que tudo dependerá dos resultados de dia 30.

Ana Gomes: “Se António Costa quer governar tem que ceder”

“Foi em 2019 que a geringonça acabou por decisão de António Costa”

Ana Gomes acusou ainda António Costa de ter sido responsável por dinamitar as pontes à esquerda. “A geringonça ter acabado é uma narrativa que António Costa alimenta, mas não tem adesão à realidade. Foi em 2019 que a geringonça acabou por decisão de António Costa e do PS que o respaldou nessa decisão de não querer entrar em nenhum entendimento. O BE estava disponível, o PCP já não estaria pelo menos nos termos anteriores.”

Agora, considera a candidata às eleições presidenciais de 2021, diz que a escolha dos portugueses será “entre os líderes do PS e do PSD”, sem esconder o receio com a possível vitória de Rio. Para a socialista, com os dados que hoje existem, não é possível tirar da equação a hipótese de “o PSD ter um resultado que lhe permita aspirar a governar”.

Ana Gomes considera ainda “improvável” a hipótese de o PS ter maioria absoluta, com têm vindo a pedir de forma implícita António Costa e outros altos dirigentes socialistas. A antiga eurodeputada teme ainda que António Costa tenha “a tentação de procurar o bloco central” se vencer por uma margem curta, uma solução que a socialista rejeita.

PS não se compromete com viabilização de governo minoritário de Rio