Cientistas climáticos avisam que invernos mais quentes podem ser tão prejudiciais para o ambiente como verões mais quentes.

Nos últimos anos, têm sido registados progressivamente invernos com temperaturas mais elevadas, e o mês de fevereiro do presente ano foi mesmo o 16.º mais quente desde que há registos.

Apesar de associarmos uma crise climática a verões escaldantes, com secas, incêndios e tempestades, invernos menos frios podem levar a consequências climáticas catastróficas, como mudanças nas produções agrícolas que, por sua vez, levam a alterações nos padrões meteorológicos, podendo desencadear eventos violentos como tornados.

“Um dos truísmos da ciência climática é que zonas frias e alturas do ano frias, aquecem mais rapidamente que zonas quentes e alturas do ano mais quentes”, aponta Daniel Swain, cientista climático da Universidade da Califórnia — citado pelo jornal The Guardian — que se encontra a estudar como eventos climatéricos extremos estão a mudar numa Terra em constante aquecimento. 

Swain evidencia uma consequência específica onde a mudança da temperatura tem um grande impacto: se a precipitação acontece na forma de chuva ou neve, depende de uma diferença de apenas um grau. Na zona oeste dos EUA, por exemplo, a falta de neve tem gerado consequências severas.

“Até há uma semana atrás, estávamos com um elevado risco de incêndios florestais, mesmo a dois ou três mil metros de altitude. Isto está diretamente ligado à falta de neve que a região tem atravessado”, explica Swain.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Períodos quentes no inverno podem criar ondas de calor extremas nos verões que se seguem. Isto uma vez que temperaturas elevadas em alturas do ano em que tal não é suposto levam ao derretimento prematuro das neves, o que, por sua vez, origina um maior crescimento da vegetação. Tal leva a solos menos húmidos, aumentando a probabilidade de ondas de calor persistentes durante o verão, aponta Kai Kornhuber, investigador da Universidade de Colômbia.

Chiara Lepora, uma investigadora do observatório Lamont Doherty, da Universidade de Columbia, publicou um estudo no mês passado, onde prevê um aumento de 14% a 25% da probabilidade de surgirem tempestades severas por cada incremento de 1ºC na temperatura terrestre.

Invernos mais quentes influenciam também negativamente a agricultura, sendo que algumas culturas precisam de períodos com temperaturas mais reduzidas, de modo a atingir os resultados esperados.

Kornhuber explica que o aquecimento no inverno implica apenas que o verão seguinte se prolongue cada vez mais, enquanto a primavera e o outono vêm o seu protagonismo cada vez mais reduzido, sendo “engolidas” pelo que consideramos ser o inverno.

Com a subida das temperaturas, zonas com condições meteorológicas normalmente moderadas irão ter um inverno diferente do normal”, avisa o investigador.