“As discussões sucedem-se. Que dez anos é muito tempo para qualquer treinador. Que tudo devia ter acabado depois da final da Champions de 2016. Que se poderia contratar um grande treinador por 20 milhões de euros. A questão é que, qualquer que seja o resultado com o Granada, Diego Simeone vai cumprir amanhã dez anos como treinador do Atl. Madrid. Uma história impossível de acreditar naquele inverno de 2011. Apesar de aparentar que as últimas três derrotas esfriaram a data, ao mesmo tempo acabam por lhe dar outro valor: é a primeira vez que acontece em dez anos de governo.”

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É desta forma que o El Mundo inicia um trabalho sobre a década do argentino como técnico colchonero, recordando também o período conturbado que a equipa atravessa apesar de pelo meio ter ganho no Dragão a possibilidade de chegar aos oitavos da Champions. “Precisava de alguém que transmitisse aos jogadores aquilo que ele era: um competidor. Podia ganhar, empatar ou perder mas competia. Disse-lhe: ‘Nunca te vou pedir títulos, apenas que a equipa compita’. É isso que tem acontecido há uma década”, conta ao jornal Miguel Ángel Gil, executivo do Atl. Madrid que esteve na génese da contratação do antigo médio que passou também pelo então Vicente Calderón. No entanto, o desgaste da relação tem aumentado.

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Mais do que as derrotas com Maiorca (em casa), Real Madrid e Sevilha, o campeão espanhol mostrou uma faceta pouco vista nos últimos dez anos: foi pouco competitiva. Ou melhor, manteve a competitividade mas sem saber o que fazer com ela. Tão ou mais importante do que isso, perdeu a solidez defensiva que surgia como suporte para tudo aquilo que a equipa conseguia depois fazer no plano ofensivo. E foi também como uma espécie de reflexo do momento que Luis Suárez, após ser substituído no último encontro, foi depois apanhado a chamar “idiota de m****” ao treinador antes de se sentar quase desesperado no banco. Apesar de ter um jogo em atraso, o Atl. Madrid já está a 14 pontos da liderança e a nove do segundo lugar.

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“Suárez? Nada a comentar”, respondeu de forma seca o técnico na antecâmara do encontro em Granada. E, coincidência ou não, os focos viraram-se para um outro avançado que tem sido um dos melhores da equipa mesmo saindo do banco de suplentes: João Félix. “Espero que seja um jogador decisivo e constante no jogo. Ele permite que a equipa seja muito mais vertical. Não tem tido muita continuidade devido às lesões que teve desde o início da época. Todos esperamos o melhor dele e ele também. Não tenho nenhuma dúvida, ao ver as suas últimas exibições com o Real Madrid e o Sevilha, que está nesse caminho”, comentou Simeone, confirmando a titularidade do português e alertando ainda para as entradas mais duras que sofre.

Aquele que seria um jogo decisivo para a redenção do Atl. Madrid tornava-se um jogo em que os holofotes estavam todos centrados no internacional português e logo numa semana em que o número 7 foi tema pelos mais diversos motivos, da possível saída em janeiro (com o agente Jorge Mendes a trabalhar nesse sentido) ao desagrado de alguns responsáveis pela pouca utilização do avançado, passando pelos próprios pedidos dos adeptos para que a sua presença na equipa fosse mais regular. E o avançado demorou apenas 100 segundos a dizer “presente” no jogo, naquele estilo que o levou a prémios como o Golden Boy.

Entrando de início ao lado de Luis Suárez (Correa ficou no banco), com Carrasco e Trippier a fazerem as alas num sistema a três na defesa com Rodrigo de Paul, Koke e Lemar no meio, João Félix recebeu do médio francês no corredor central, foi ganhando metros mesmo com adversários por perto e rematou rasteiro para o poste contrário sem hipóteses para Maximiano (2′). O Atl. Madrid tinha encontrado um calmante para quem entrava sob tanta pressão mas o Granada mostrou uma boa reação catapultado pelo “outro” Luis Suárez e Darwin Machis, que empatou com um golo fabuloso nos 20 minutos iniciais que trouxe de volta os fantasmas dos erros nas transições defensivas que têm assolado a equipa (17′).

Os visitados teriam ainda mais duas aproximações com algum perigo à baliza de Jan Oblak, sendo que, do outro lado, à exceção de uma saída dos postes de Luís Maximiano com dois carrinhos que evitaram males maiores na sua defesa, houve apenas um desvio por cima ao primeiro poste de João Félix após cruzamento de Trippier (38′) e um cruzamento remate de Luis Suárez que não teve desvio para a baliza (41′). O jogo chegava ao intervalo com tudo empatado mas com as duas equipas a revelarem argumentos para mais, havendo até um golo anulado ao português em cima do minuto 45 por falta na sequência de um livre lateral na esquerda do ataque com primeiro desvio de Lemar e cabeceamento com o braço em cima de Suárez e outro cabeceamento de Félix no segundo minuto de descontos para grande defesa de Maximiano.

O avançado português estava mesmo numa noite de grande inspiração mas nem isso impediu que o Atl. Madrid contornasse a lei de Murphy em que parece mergulhado também nos últimos jogos: João Félix voltou a ter uma jogada a passar por dois adversários e a rematar forte de fora da área ao poste, o Granada saiu numa transição rápida, Jorge Molina apareceu na área a desviar para a baliza um cruzamento vindo da direita, o golo anulado mas o VAR reverteu a decisão para o 2-1 da reviravolta (62′). Correa e Lemar ainda ameaçaram a baliza de Maximiano na parte final mas o resultado não voltaria a mudar entre boas saídas do Granda e uma grande defesa de Oblak. O impensável aconteceu: o Atl. Madrid perdeu pela quarta vez seguidas, ficando assim muito provavelmente fora da luta pelo título… ainda na primeira volta.