Diminuir o tempo de isolamento em caso de infeção por Covid-19 é uma medida “necessária”, mas não da forma como os Estados Unidos a pretendem aplicar. É o que diz  Tiago Correia, professor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, acerca da recomendação das autoridades de saúde norte-americanas para reduzir de 10 para 5 dias o período de isolamento para infetados.

Autoridades de Saúde nos EUA diminuem para cinco dias isolamento de infetados

“Genericamente o CDC (Centro de Controlo e Prevenção de Doenças) orienta que, ao final de cinco dias, se as pessoas não reportarem sintomas, podem terminar o isolamento, sem necessidade de teste. Isto coloca várias dúvidas, sobretudo a não necessidade de teste. É uma medida que se baseie no livre arbítrio de cada um de reportar se tem sintomas ou não tem sintomas”, diz Tiago Correia, em declarações à Rádio Observador.

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Tiago Correia analisa medida nos EUA. Reduzir quarentena, sim; prescindir de testes, não

Em Portugal o período de isolamento em caso de infeção é de 10 dias, podendo chegar a 20 dias em casos de doença grave.

“O encurtamento do período de isolamento é uma medida que penso que é necessária, mas olhando para aquilo que é a prática na generalidade dos países, não se pode prescindir da realização de um ou de dois testes, para que se possa fazer um despiste se as pessoas estão com uma carga viral elevada ou não”, sublinha.

O especialista diz mesmo que a comunidade científica norte-americana “está muito preocupada” com esta medida, já que “não consegue encontrar um fundamento claro para essa decisão”.

Tiago Correia diz ser, no entanto, compreensível que haja cansaço por parte das populações em todo o mundo, que já alimentavam, “de forma muito legítima”, alguma expectativa de normalidade.

O professor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical concorda com a opção tomada pelo Governo português, de decretar uma ‘semana de contenção’. É o tempo necessário, diz, para “perceber qual é o comportamento da Ómicron na população, numa população amplamente vacinada, para esperar mais dados relativamente à necessidade de testar pessoas totalmente vacinadas, e de essas pessoas cumprirem isolamento alargado ou não, para voltarmos a afinar as medidas não farmacológicas na gestão de contactos e também no rastreio dos casos positivos e nos casos de risco”.

“Temos este compasso de espera porque não temos ainda todas as respostas científicas necessárias para perceber como melhor gerir o nosso quotidiano com a Ómicron, e nessa medida é preciso mais alguns dias, esta semana de contenção, para gerir esta incerteza”, remata.

O CDC norte-americano justificou a redução do tempo de isolamento com o que diz serem indicações crescentes de que as pessoas infetadas com Covid-19 são mais contagiosas dois dias antes e três dias depois de desenvolverem sintomas.

As primeiras investigações sugerem que a Ómicron pode causar sintomas mais leves comparada com outras variantes do coronavírus SARS-CoV-2. No entanto, o aumento de casos e do número de pessoas em isolamento por casos confirmados ou suspeitos ameaça afetar a capacidade hospitalar, das companhias aéreas ou de outras empresas que continuam a funcionar, alertaram vários especialistas.