As inundações causadas pelas fortes chuvas que atingem o nordeste brasileiro são o “pior desastre da história da Bahia”, referiu o governador do estado, que soma 20 mortos e mais de 60 mil deslocados desde novembro.
“Vivemos o pior desastre da história da Bahia. É uma tragédia gigantesca. Não me lembro de nada desta dimensão na história recente da Bahia. A quantidade de casas, ruas e cidades completamente submersas é realmente apavorante”, disse o governador, Rui Costa, após sobrevoar as áreas do desastre e que desde sábado supervisiona uma operação conjunta com o Governo Federal e outros estados nas áreas afetadas.
O sul da Bahia já havia sido afeado por chuvas torrenciais no final de novembro, que se voltaram a intensificar nos últimos dias, causando o rompimento de barragens e inundações.
As mais recentes vítimas mortais foram um homem de 60 anos, que morreu afogado no domingo, uma mulher de 33 anos, cuja casa desabou na madrugada de domingo, e um jovem de 21 anos, que estava desaparecido e cujo corpo foi encontrado na segunda-feira na margem de um rio.
Já o número de deslocados quase duplicou desde domingo, com 62.796 pessoas que tiveram de deixar as suas casas, segundo a Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec) da Bahia.
20 mortos e quase 20 mil pessoas retiradas das suas casas no Brasil devido a inundações
No total, são 116 os municípios afetados, dos quais pelo menos 100 em situação de emergência, e 471.009 pessoas afetadas pelas chuvas torrenciais. Desde novembro, cerca de 358 pessoas ficaram feridas nas inundações.
“A água está a começar a diminuir na nascente do rio Cachoeira e, embora devagar, a expectativa é de que melhore nos próximos dias”, disse o governador.
Várias casas ficaram alagadas e ruas tornaram-se rios em vários municípios do sul do estado. Em Itapetinga, imagens aéreas da agência France-Presse mostram três homens a remar num colchão de palha, numa rua com casas em que a água chega até às janelas.
Nesta cidade totalmente inundada, Idalício dos Santos tentava fazer o seu caminho pelas águas acastanhadas a bordo de um pequeno barco insuflável. “Já fiz 20 viagens para trazer gente”, relatou o morador.
Em Itambé, pequena cidade vizinha, Tiola Almeida ajudava a mãe a salvar alguns pertences.
Em algumas casas, a água chega a 1,80 metros de altura. Na da minha mãe, a 1,40 metros”, detalhou.
O equivalente a um mês de chuva caiu em poucas horas em alguns municípios.
Salvador, capital do estado da Bahia, contabilizou na sexta-feira até cinco vezes a média histórica de 58 milímetros para o mês de dezembro, segundo a defesa civil da cidade.
“Há uma correlação” entre a intensidade das chuvas no nordeste do Brasil e o fenómeno climático ‘La Niña’, que causa precipitações acima do normal, estimou Estael Sias, meteorologista da empresa de previsão MetSul.
La Niña é considerada uma anomalia climática, que ocorre, em média, num intervalo de dois a sete anos e provoca uma série de alterações nos padrões de chuva e temperatura globais. No Brasil, o fenómeno provoca chuvas mais abundantes no norte e nordeste. No centro-sul, provoca aumento de temperaturas e seca.