São vários os julgamentos nos Estados Unidos da América que mexeram não apenas com o país, mas que mantiveram os olhos do mundo atentos ao veredicto final. Existe ainda quem, como Jane Rosenberg, tenha dedicado toda a sua carreira não só a observar o julgamento de grandes celebridades norte-americanas, mas sobretudo a captar as emoções sentidas nas salas dos tribunais.

Há mais de 40 anos a desenhar retratos dentro do meio da justiça, segundo o The Guardian, Rosenberg marcou presença, e tornou presente no papel, julgamentos de figuras como El Chapo, conhecido traficante de droga, R. Kelly, o cantor de R&B acusado de exploração sexual e abuso sexual de menores, Harvey Weinstein, acusado de abuso sexual e violação, ou Derek Chauvin, o polícia responsável pela morte de George Floyd.

Com grande paixão pelos retratos, em específico aqueles feitos com recurso a pastel, a artista começou a carreira, após a universidade, a desenhar retratos para turistas e a reproduzir obras conhecidas, em passeios, com um pedaço e giz na mão e um chapéu para pedir donativos como forma de sustento.

Mais tarde, após frequentar um seminário lecionado por um artista de tribunais, Jane Rosenberg decidiu tentar a sua sorte no meio. Começou por fazer retratos de prostitutas julgadas em tribunais durante a noite, até que uma destas pinturas foi vendida à NBC.

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Desde então, Jane tem reproduzido através dos seus pastéis – religiosamente guardados e organizados numa pasta que permanece sempre junto à porta de casa para um retrato de última hora – momentos de tristeza, alegria e raiva, tendo inclusive estado presente na aplicação de uma pena de morte.

Em 1983, Jane registou os últimos minutos de vida de John Evans, preso no Alabama e morto com recurso à cadeira elétrica, o primeiro desde que a lei foi novamente implementada naquele Estado, em 1976.

Eu tento não me deixar afetar pelas emoções, porque nunca é bom ter lágrimas a cair em cima dos meus pastéis; mas eu ouço tantas coisas horríveis, e já vi tantas fotos de cenas do crime. Às vezes afeta-me, mesmo quando tento ser neutra. A minha vida é estranha, acho eu. Quarenta e um anos a ver criminosos e coisas horríveis”, desabafou ao The Guardian a artista.

Outras vezes, os seus esboços dos julgamentos dão direito a interações com os próprios objetos das suas pinturas.

John Gotti queria o seu duplo queixo retirado”, contou a artista ao New York Post. “As pessoas querem sempre ter mais cabelo, estão sempre a pedir-me isso.”

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Ao longo dos anos, a própria artista acabou por ter o mesmo destino que reservava apenas aos personagens dos tribunais: ser desenhada num retrato.

Eu lembro-me, há uns 35 anos, de o Eddie Murphy me desenhar num post-it e dar-me o desenho. Está algures no meu apartamento, guardado”, contou Jane Rosenberg.

O ingrediente certo para que os desenhos ganhem vida, assumiu a pintora, é a cor. Especialmente quando é possível captá-la dentro de uma ação. Para Jane, julgamentos como o de R. Kelly, durante o qual este passou o tempo todo imóvel, não ofereceram nenhum desafio interessante à artista, mas outros julgamentos, como o de Ghislaine Maxwell – envolvida no escândalo sexual de Epstein— oferecem momentos mais memoráveis de reproduzir em tela. “Quando ela [Maxwell] entra na sala de julgamento, ela beija as pessoas, cumprimenta-as e mantém conversações”, explicou a artista à revista New York.

O número de retratos a pastel varia conforme os dias e os casos que tem de reproduzir, mas em certos dias Jane pode chegar a pintar sete ou oito telas.

Nos Estados Unidos, os media não podem gravar nem fotografar os julgamentos mais mediáticos, com exceção de nova Iorque, onde vigora uma política de análise caso a caso.