Uma proposta no norte de Itália para criar uma estátua da primeira mulher do mundo a concluir um doutoramento está a gerar controvérsia no país.

Em 1678, Elena Lucrezia Cornaro Piscopia conquistou o título de doutorada em Filosofia na Universidade de Padua, mas não foi incluída, de acordo com o The Guardian, num projeto criado no século XVIII para erguer 88 estátuas na maior praça da cidade – e do país – Prato della Valle. As estátuas colocadas na praça são todas referentes a figuras masculinas históricas que, ou nasceram na cidade, ou tiveram algum tipo de relação com a mesma.

De entre as estátuas, estão figuras como o cientista Galileu Galilei, o escultor Antonio Canova e dois Papas, além de filósofos, almirantes de Veneza e historiadores romanos, conta o The Independent. Dez estátuas, contudo, foram destruídas quando o exército de Napoleão Bonaparte conquistou a então República de Veneza, um Estado independente no norte de Itália. Oito dos pedestais foram mais tarde preenchidos com obeliscos, mas dois dos lugares outrora ocupados por estátuas estão, até aos dias de hoje, vazios.

Embora a primeira doutorada do mundo tenha já uma estátua em seu nome na Universidade de Padua, dois dos conselheiros da câmara municipal da cidade, Simone Pillitteri e Margherita Colonello, propuseram a instalação de uma segunda estátua na praça Prato della Valle, num dos pedestais agora vazios.

“Talvez não seja do conhecimento comum, mas todas as figuras representadas na praça são dedicadas, sem exceção, a homens”, escreveu o par.

A sugestão surgiu após uma associação de profissionais do setor da Cultura de Itália ter concluído que, de todas as estátuas existentes no país, apenas 148 eram dedicadas a figuras femininas.

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As figuras masculinas alinhadas em Prato della Valle “impactaram as nossas vidas e o nosso imaginário”, afirmou Federica Arcoraci, historiadora de arte e membro da associação.

O regulamento de 1776 proibia a criação de estátuas de santos, pessoas vivas e pessoas sem qualquer laço com a cidade, mas nunca houver qualquer proibição de representar mulheres”, explicou a historiadora de arte. “Obviamente, isso [a não representação feminina] foi o resultado de um caminho em específico da nossa história. Mas hoje é possível criar um projeto que esteja ligado à história representada na praça, no seu todo.”

Figuras como Carlo Fumian, professor de história na Universidade de Padua, defendem, contudo que a ideia “dispendiosa e bizarra” surge “por moda, mas é culturalmente inconsistente”. “Em vez disso, devíamos mostrar às pessoas a estátua original, localizada triunfalmente na universidade”, explicou.

Outros historiadores, como Davide Tramarin, defendem que não deve ser erguida a estátua de Elena Piscopia na praça Prato della Valle de modo a deixar os dois pedestais vazios – que serviriam de memória do momento na história da cidade em que o exército de Napoleão invadiu o norte de Itália.

Embora o responsável pela herança cultural da cidade de Padua, Fabrizio Magani, esteja a ponderar a possibilidade agora proposta, Fabrizio sugere, contudo, que seja colocada na Prato della Valle a estátua de uma figura história feminina mais recente da cidade.