A Mercedes é um dos construtores tradicionais que mais vigorosamente tem apostado na autonomia dos veículos eléctricos, trunfo que muitos concorrentes afirmam não ser importante. Depois de apresentar o EQS 450+ que anuncia 741 km de autonomia, segundo o método europeu WLTP – valor que baixa para apenas 563 km de acordo com o método norte-americano EPA, determinado por técnicos independentes e não pelos fabricantes –, a Mercedes apresenta agora um protótipo que promete 1000 km de autonomia entre recargas, o Vision EQXX.

Os veículos eléctricos são benéficos para o ambiente, pois não poluem enquanto circulam, o que é óptimo para melhorar até a qualidade do ar que se respira nos grandes centros urbanos. Usufruem ainda de motores que transformam 95% da energia armazenada nos acumuladores em movimento, uma lufada de ar fresco face aos 35% que os motores convencionais de combustão atingem, o que lhes daria uma vantagem notável. “Daria”, porque é necessário compensar a muito menor quantidade de energia armazenada numa bateria, face à que existe num depósito de gasolina com a mesma massa, que chega a ser 100 vezes inferior (apenas 0,4 MJ/kg em vez de 47.5 MJ/kg na gasolina). Daí que seja tão importante a aerodinâmica do veículo, bem como o seu peso e a massa que reboca.

Apesar da Mercedes ter tradição em produzir modelos de série muito próximos dos protótipos que denomina Vision, o Vision EQXX apresentado no CES é algo que dificilmente verá a luz do dia com estas formas. Se estas linhas apuradas lhe garantem um Cx (coeficiente de penetração aerodinâmica) de 0,17, de acordo com o construtor, a realidade é que as semelhanças da frente com um Kia EV6 indiciam que seria desajustado para um construtor premium como a Mercedes abrir mão da sua habitual frente, vertical e com a imponente grelha com a estrela ao centro. Tal como revela o EQS, que mesmo assim anuncia um Cx de 0,20, similar aos do Lucid Air e Tesla Model S.

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Para o Vision EQXX, a Mercedes diz que consegue extrair 1000 km de autonomia de uma bateria com menos de 100 kWh, com células que não especifica nem possui, pois o construtor alemão não produz as células das baterias que monta nos seus veículos. Tão pouco avança com datas para a respectiva disponibilidade. Isto partindo do princípio que a marca alemã está a referir-se ao método WLTP e não à solução chinesa, bastante menos realista.

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Este protótipo leva a crer que a Mercedes considera a autonomia um argumento importante, o que significa que os responsáveis germânicos estão convencidos que os seus potenciais clientes são sensíveis ao alcance entre recargas. Daí que a marca reivindique 741 km para a autonomia do Mercedes EQS 450+, com apenas um motor de 333 cv e tracção atrás e uma grande bateria de 107,8 kWh. Sucede que estes valores são relativos ao mercado europeu e ao método WLTP, que cai para 563 km segundo o método EPA americano, determinado por técnicos independentes e em condições reais de utilização. De acordo com este mesmo sistema EPA, o Tesla Model S Long Range anuncia 652 km (com 100 kWh de capacidade de bateria), mas com dois motores e 670 cv. Só para termos um termo de comparação, caso o EQS 450+ estivesse equipado com dois motores e mais potência, a autonomia seria ainda inferior, como acontece com o EQS 580 4Matic.

Apesar da falta de dados avançados pela Mercedes, é de saudar a apresentação do Vision EQXX, o que prova que a marca alemã está convencida que a tecnologia eléctrica é o futuro, apostando na autonomia e na eficiência dos seus veículos – já com plataformas específicas para eléctricos e não soluções concebidas para motores de combustão que sirvam para veículos eléctricos. Com protótipos como este, o fabricante alemão está a afirmar junto do seu público que tudo irá fazer para figurar entre os melhores que exploram esta tecnologia.

O construtor germânico revelou ainda que o EQXX usa uma plataforma ligeiramente mais pequena do que o Classe C, com apenas um motor de 202 cv, presumivelmente instalado no eixo traseiro e um peso total de 1750 kg. Resta apenas aguardar pela versão de série para ver o que a Mercedes nos reserva, embora a marca não se comprometa com datas em relação à concretização desta sua visão para o futuro da electromobilidade.