É uma história recente mas já está a tornar-se velha. Alex Ferguson é histórico, levou o Manchester United a voos a pique para o topo, complicados de alcançar para outros, colocando o clube (depois da glória maioritária da década de 60, por aí) num lugar de campeão, fosse da Premier League ou até da Liga dos Campeões. David Moyes, Louis van Gaal, José Mourinho, Ole Gunnar Solskjaer. Todos tentaram, nenhum conseguiu, mesmo que o técnico português considere um segundo lugar alcançado no comando dos red devils como um dos maiores feitos da carreira (além de ter ganhou três títulos no primeiro ano).

Agora, é Ralf Rangnick o escolhido, mesmo que de forma interina, para gerir uma equipa cheia de craques, mas com pouca qualidade de jogo. Não é só a imprensa, generalista ou especializada, de Manchester ou internacional, que critica as exibições. Elas são visíveis, como foi a que aconteceu frente ao português Wolverhampton, comandado por Bruno Lage. Moutinho fez o único golo do encontro e o alemão do United, treinador de 63 anos, elogiou o Wolves como a equipa “mais complicada” com quem havia jogado até então depois de uma primeira parte em que foi quase vulgarizado.

Diz a mesma imprensa que, também por ser interino e recente no clube, acrescentando a isto uma pandemia que teima em ficar e, claro, incomodar, o futebol, as ideias não estão a colar. Não são visíveis. A equipa parece desinspirada e, puxando novamente a fita até ao jogo com os Wolves, o United deixou o adversário rematar 15 vezes, o máximo que uma equipa rematou em Old Trafford, apenas na primeira parte, desde 2003/2004, altura em que estes números começaram a ficar registados pela Premier League. Não foi Antonio Conte (que assinou pelo Tottenham), nem Mauricio Pochettino (ainda no PSG), nem o desempregado Zinedine Zidane. Foi Rangnick e é agora ele que tem de mudar e motivar as hostes, que incluem Dalot, Bruno Fernandes e, claro, Cristiano Ronaldo.

Lage deu dois chocolates para a festa de Moutinho no Teatro dos Sonhos (a crónica do United-Wolverhampton)

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O Manchester Evening News diz até que a equipa parecia “não estar preparada quando procurava a bola”, quando Rangnick é tido no seu país como o “padrinho” do gegenpress, um estilo de jogo cuja epítome será a equipa do Liverpool de Klopp, que sempre colocou as suas equipas a pressionar logo na perda de bola. Estabelecer uma defesa sólida ajuda e muito neste pensamento, algo que o Manchester United parece também não conseguir. Mas é também preciso tempo para implementar esta filosofia…

cujo filósofo muitos jogadores não conheciam, de acordo com a ESPN. Ao gigante especialista em desporto, um jogador “titulado” terá dito que os primeiros 15 segundos da mensagem de um treinador são extremamente importantes para se perceber “se é algum vendedor que fala mais do jogo do que apresenta mesmo”. Houve um jogador, até, que terá precisado de ir ao Google ver quem era o seu novo treinador na equipa de Manchester, a primeira grande equipa que Rangnick comanda. Passadas seis semanas, as dúvidas levantam-se e há até, segundo o Mirror, onze jogadores, não uma equipa inicial de um encontro, mas sim uma equipa que quer deixar o clube.

Moutinho foi o mais velho a decidir um jogo em Old Trafford no dia em que Lage fez três anos de treinador (e recordou a Luz)

Entre esses 11 jogadores, que se sentem marginalizados desde os tempos de Solskjaer e voltam agora a pensar que estão a ser colocados de parte, estarão atletas como Bailly, Henderson, Lingard ou van de Beek. Os últimos dois ainda não foram titulares na Premier League esta época e o guarda-redes Henderson, aos 23 anos, procura jogar para chegar ao Mundial 2022, no Qatar, pela Inglaterra. O Mirror usa mesmo as palavras “frustração” e “ressentimento”, lembrando que alguns jogadores ficaram incomodados com o facto de Cristiano Ronaldo ter ido imediatamente para os balneários após a derrota com o Wolves. No Instagram, para os seus milhões e milhões de seguidores, pediu uma “mentalidade forte”, mas a situação não correu pelo melhor.

E por falar no português, há quem ache que a pressão na frente é uma tática que não acomoda Cristiano Ronaldo da melhor forma. Na sua coluna no Mirror, o antigo avançado inglês Chris Sutton falou no “ego” do português, que é um “tópico fascinante”. “Ronaldo prefere guardar a energia para os grandes momentos, pelo que não é fácil para os treinadores como Rangnick convencer alguém com ego dele a jogar dessa forma. O treinador tem de ver o que é melhor para a equipa. Se isso significar jogar outro jogador na frente sem ser Ronaldo, que seja”, frisou Sutton.