Os partidos com assento parlamentar reagiram às declarações dos peritos do Infarmed reunidos esta quarta-feira. Todos concordaram que medidas mais restritivas, como um confinamento geral, já não são uma solução para enfrentar esta nova fase da pandemia, havendo, no entanto, diferentes perceções sobre quais devem ser as prioridades.

PS diz que especialistas deixaram mensagem de “confiança”

Pela voz de José Luís Carneiro, o PS destacou que os internamentos em Cuidados Intensivos estão abaixo do nível de alerta, “portanto a campanha de vacinação tem garantido níveis de imunização que tem protegido os portugueses e dá maior segurança para esta nova variante”, referiu.

O representante do PS defendeu ainda a aplicação das semanas de contenção após o Natal, nomeadamente com a “perigosidade” da Ómicron: “As medidas adotadas resultaram positivamente na limitação de contactos e no limite do contágio”, disse.

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“É previsível que até à segunda semana de janeiro os números venham a crescer”, avisou Carneiro. “Mas em princípio não terá efeitos diretos no recurso aos cuidados hospitalares e sobretudo aos intensivos”. Uma mensagem de “confiança” que diz ter sido deixada pelos especialistas.

PSD pede “plano de emergência” para responder aos outros doentes

Os sociais-democratas pediram ao Governo e às autoridades de saúde que apresentem um “plano de emergência” para responder aos doentes não Covid, que diz serem “a vasta maioria” e não estarem a ter uma resposta adequada.

Para o PSD, o mais importante da reunião “foi o que não se falou” na reunião do Infarmed: “Os doentes com outras doenças, que constituem a vasta maioria dos portugueses, e que precisam de cuidados de saúde com urgência e estão a ter dificuldades em ter acesso a esses cuidados”, defendeu.

Isolados não podem votar? PSD disponível para apoiar solução

O vice da bancada social-democrata e médico alertou que os centros de saúde têm menos médicos e menos enfermeiros que “estão a ser desviados para os centros de vacinação”. Ricardo Baptista Leite deixou um pedido ao governo e às autoridades de saúde. “Vamos ser pragmáticos, gerir os parcos recursos que temos para ajudar as pessoas com cancros, com doenças cardíacas, respiratórias e autoimunes”, defendeu.

No combate à Covid-19, o deputado apelou ao uso dos instrumentos já disponíveis, como as máscaras, a testagem e a vacinação, para garantir que “a sociedade possa continuar a funcionar e que os vários setores da economia possam aos poucos possam regressar à normalidade”.

BE: “Não há razão para que se mantenham no país medidas tão restritivas”

Pela parte do BE, o deputado Moisés Ferreira sublinhou que perante a menor gravidade da variante Ómicron e a taxa de vacinação no nosso país, não se justifica a manutenção das restrições atuais: “Não há razão para que se mantenham no país medidas tão restritivas”, afirmou.

Como sugestões, o partido pede que seja acelerado o processo de vacinação e um aumento do acesso aos testes, “para que cada um de nós possa testar-se mais vezes e fazer a monitorização da pandemia”.

As palavras mais críticas dos bloquistas são para a gestão do Serviço Nacional de Saúde. “A linha SNS24 não tem tido capacidade para responder a todas as chamadas e os centros de cuidados primários têm sido transformados em centros burocráticos”, diz o deputado. perante isto, pede que os cuidados primários possam contratar diretamente pessoal e sugere automatizar o acesso à baixa, para evitar a “sobrecarga sobre as urgências, que já se está a sentir”.

O Bloco sugeriu ainda à DGS que “repondere os critérios de risco”, nomeadamente a definição de contacto de risco e os períodos de isolamento. Por fim, Moisés Ferreira relembra as eleições do dia 30 de janeiro. “Não podemos deixar que o nosso direito ao voto possa ser dificultado por causa da pandemia”, disse, razão pela qual sugere aos eleitores que se inscrevam para votar antecipadamente.

PCP manifesta-se contra estratégia de “responsabilização individual” e pede mais meios para a saúde

O PCP manifestou-se contra a estratégia de “responsabilização individual” sugerida pelos peritos do Infarmed e depois reforçada pelo Presidente da República.

Marcelo diz que portugueses podem entrar em “autogestão” da pandemia

Para o partido, “a solução não pode ser a responsabilização individual de cada cidadão nessa situação, com progressiva desresponsabilização das estruturas publicas”, mas antes o “reforço das estruturas de saúde pública”.

Em nota enviada às redações, o PCP diz ser “muito preocupante a situação de sobrecarga dos cuidados primários de saúde”, apontando a “insuficiência de profissionais” e as “acrescidas exigências de apoio à vacinação” como motivos.

Em reação à reunião do Infarmed, os comunistas reiteram que as “medidas restritivas” não são “adequadas”, sublinhando o efeito da vacinação. “O PCP considera não ser admissível a continuidade de medidas restritivas ainda em vigor, com fortes prejuízos para a vida das pessoas, para a economia e a sociedade.”

Além disso, o partido indicou que a “situação é substancialmente diferente” do que aquela que “se verificava há um ano”.

Quanto às eleições legislativas, que se realizam a 30 de janeiro, o PCP referiu que é “preciso garantir que o exercício do direito ao voto se faz com todas condições de proteção e com a garantia da presencialidade e da fiabilidade do voto de todos os cidadãos portugueses”.

PEV quer reforço dos transportes públicos para evitar sobrelotação

Mariana Silva, deputada dos Verdes, destacou à saída da reunião que considera importante o foco na normalidade, sobretudo no regresso ao período letivo: “O importante é reabrir as escolas para que as crianças possam voltar ao seu dia-a-dia naturalmente”.

Para além disso, os Verdes propõem o reforço dos cuidados primários, para aliviar os trabalhadores sobrecarregados, e dos transportes públicos: “É necessário reforçar os transportes públicos para que as pessoas não continuem a viajar amontoadas”, afirmou.

Mariana Silva deixou ainda uma crítica à decisão de vacinar os professores, por considerá-la tardia. “Devia ser feita de uma forma mais atempada”, de forma a não coincidir com o reinício das atividades escolares.

Por fim, sublinhou que os Verdes estão disponíveis para arranjar uma solução para que os doentes isolados possam ir votar, dizendo que esta “situação não é nova” e que basta “adaptar” as regras usadas nas autárquicas e presidenciais.

CDS quer “reabertura imediata das escolas” e regresso dos pais ao trabalho

A reação do CDS à reunião do Infarmed foi veiculada pela dirigente Filipa Correia Pinto que, à semelhança dos restantes representantes de partidos, destacou as conclusões dos especialistas de que a maior transmissibilidade da Ómicron não se traduziu em agravamento da situação.

“Cremos que estão criadas as condições para a reabertura imediata das escolas”, disse, acrescentando que também é “essencial para a economia que os pais possam regressar ao trabalho”.

Como prioridades, o CDS destacou a “celeridade” no processo de vacinação e a importância de manter um “discurso claro e pedagógico, sem alarmismos”.

O partido fala ainda sobre a questão do voto para as pessoas isoladas. “O CDS exige solução para milhares de portugueses que estarão confinados nas eleições”, afirma Filipa Correia Pinto, dando como sugestões o reforço do voto por correspondência, ao domicílio ou a criação de secções de voto específicas para estas pessoas.

“O que não pode servir de desculpa é a ausência de previsão legal, porque na data da dissolução do Parlamento o PS soube bem antecipar-se e tentar fazer aprovar os seus projetos, como no caso da eutanásia”, acrescentou.

Por fim, a dirigente pediu ainda que o período de campanha eleitoral não seja marcado apenas pela Covid-19. “Este é o momento dos partidos apresentarem as suas alternativas e debate só é esclarecedor se não ficar refém da pandemia”, disse.

IL: “Não vale a pena insistir em medidas de grande restrição, isso já não é eficaz”

A Iniciativa Liberal reagiu à reunião do Infarmed com uma mensagem de Rui Rocha, membro da sua comissão executiva. Destacando que as infeções aumentaram, mas os internamentos se encontram estáveis, o responsável da IL sinalizou que “estamos a entrar numa nova fase, uma fase endémica da doença”.

Perante esse cenário, apontou baterias ao secretário de Estado da Saúde, Lacerda Sales, que há alguns dias deu números diferentes para o número de não-vacinados internados: “Os dados não são geríveis porque não são credíveis”, afirma, acrescentando que é necessário apostar na informação à população.

Os liberais querem que a economia possa continuar a funcionar e que as escolas retomem o seu funcionamento normal, e por isso considera relevante o foco na auto-responsabilização sugerido pelos especialistas: “Não vale a pena insistir em medidas de grande restrição, isso já não é eficaz nesta fase”, declarou, dizendo que o partido sublinha a ideia passada pelo especialista Henrique Barros de que “é necessário deixar de falar de casos todos os dias”.

“Não podemos continuar a afogar os profissionais de saúde em processos administrativos”, acrescentou ainda, referindo-se à resposta à pandemia nos cuidados primários e na linha SNS24. Por isso o partido também subscreve a alteração de regras de isolamento e quarentena.

Finalmente, a IL foca-se na questão das eleições. “Com 4 a 12% dos portugueses em isolamento, vai haver muita dificuldade em ter resultados credíveis e direito ao voto pode ser gravemente afetado”, diz Rui Rocha. E deixa uma pergunta ao Governo: “As pessoas que estão não-infetadas vão ser impedidas de votar no dia 30?”

Chega não quer mais medidas e pede fim do certificado para entrar em recintos

André Ventura, líder do Chega, considerou que Portugal vive uma nova fase da pandemia. “O número de internamentos e de mortes nada têm a ver com as do ano passado”, salienta.

Em declarações às televisões após a reunião dos peritos do Infarmed, André Ventura pediu que o Governo não tome mais medidas e que reverta aquelas que estiveram em vigor na semana da contenção. “Devemos dar um sinal da reabertura da sociedade: o que espero é que o Governo não prolongue as medidas.”

Para o deputado único do Chega, deve manter-se uma “fase de cautela”, permanecendo o uso da máscara em sítios fechados, bem com o distanciamento social. No entanto, André Ventura manifestou-se contra o “uso de certificados para entrar em tudo e mais alguma coisa”.

Questionado sobre o isolamento de eleitores a 30 de janeiro, André Ventura instou o Governo a adaptar medidas “para que os isolados pessoas votar”, manifestando a total abertura do Chega para alguma alteração na Assembleia.

André Ventura apontou exemplos de como podia funcionar a votação de isolados, mencionando “circuitos próprios” para estas pessoas ou ainda “a recolha de voto ao domicílio”. Caso os isolados não possam votar, o líder do Chega diz que isso será um “fracasso” e será “responsabilidade” do Governo.