O Movimento Alternativa Socialista (MAS), que nestas legislativas concorre pela primeira vez aos 22 círculos eleitorais, defende que as rendas não ultrapassem os 30% dos salários e garante que se chegar ao parlamento recusará a subvenção anual.

Em entrevista à agência Lusa, a porta-voz do MAS e candidata por Lisboa, Renata Cambra, elegeu a habitação como uma prioridade deste partido, uma vez que se trata de “um dos principais problemas” em Portugal, na Europa e em todo o mundo.

Propõe, por isso, que as rendas não vão além dos 30% dos salários, “por forma a ser possível que as pessoas, com os salários que ganham, e que em Portugal são muito baixos, tenham acesso a casas acessíveis e dignas”.

Para estas eleições, que se realizam a 30 de janeiro, o MAS diz apresentar resposta “aos problemas essenciais das pessoas” em áreas como a habitação, saúde, perspetivas de futuro, de vida, a transição energética e que consideram que “não têm sido devidamente respondidas”.

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Renata Cambra não tem dúvida de que a crise política atual — que levou à dissolução da Assembleia da República e à convocação de eleições antecipadas, “é tanto do PS como do PSD”, porque foram os partidos que governaram nas últimas décadas.

Mas o movimento de esquerda aponta o dedo ao Bloco de Esquerda (BE) e ao PCP, fazendo um balanço negativo da participação daqueles partidos na “geringonça”.

Não é uma questão subjetiva nossa. É muito objetivo olhar para o que foi a votação do BE e do PCP há seis anos, nas eleições autárquicas e o que se espera destes dois partidos agora. Se perderam votos, e a perspetiva é de continuarem a perder votos, por algum motivo foi, é porque as pessoas não fazem um balanço assim tão positivo destes dois partidos, afirmou.

O MAS considera que tanto o BE como o PCP abdicaram das suas propostas e que “adormeceram”.

O nosso slogan é acordar a esquerda, porque nós queremos, sim, ajudar a que o Bloco e o PCP se voltem a centrar em defender os interesses das pessoas e não os interesses do PS, que é o que tem acontecido”, referiu.

Renata Cambra acredita que para este estado da esquerda contribui também a dependência das subvenções do Estado.

Hoje em dia, um partido como o BE, que tem um aparato gigante, não consegue sozinho, com o contributo dos seus militantes e dos seus simpatizantes, pagar as suas sedes, pagar os seus funcionários, pagar as suas campanhas políticas.

E acrescenta: “O Bloco, como o PCP, hoje, para terem a sua atividade tal e qual a têm, são máquinas que precisam das subvenções do Estado e obviamente que estando dependentes de todo esse financiamento vão ficar muito condicionados na sua forma de fazer política, porque vão fazer um calculismo eleitoral que é o que eles têm feito”.

O MAS não irá, por isso, aceitar a subvenção a que terá direito, se conseguir assento parlamentar. “A nossa posição é de não receber a subvenção, porque nós queremos continuar a garantir que as nossas sedes, tudo o que nós fazemos, vem do esforço dos nossos militantes e nós garantimos a nossa independência financeira”.

Com três sedes no país, o MAS gere as despesas através do dinheiro dos militantes e a sua campanha para estas legislativas é das mais baixas em termos de orçamento, 5.000 euros, obtidos através de atividades como venda de rifas.

Nós não estamos dependentes de receber dinheiro de X empresa ou de X interesse financeiro, em que isso vá condicionar a nossa política quando formos eleitos, e para nós isso é muito importante, adiantou.

Renata Cambra receia que a Covid-19 possa prejudicar a campanha devido aos isolamentos e condicionantes e, sobre a pandemia, afirma que veio revelar como “a questão da falta de financiamento no Serviço Nacional de Saúde (SNS) continua a ser um problema.

Considera que a questão dos doentes não Covid veio revelar-se um dos maiores problemas, ainda por resolver, e critica “uma certa desproporção entre as medidas que afetavam o tempo do lazer das pessoas fora do trabalho e aquilo que eram as medidas relativamente ao trabalho e, sobretudo, aos transportes”.

“As pessoas que iam para o trabalho e que não podiam estar em teletrabalho estiveram sujeitas a andar em transportes absolutamente apinhados e com falta de condições”, disse, sublinhando que o MAS defende o fim das patentes das vacinas, porque acha que “a vacinação deve ser total e deve ser universal”.

Para o dia 30 de janeiro, Renata Cambra considera que um bom resultado seria “conseguir sair um bocadinho do cerco” em que o MAS tem estado, falar com mais pessoas e que mais pessoas conheçam o MAS enquanto partido.

Para Renata Cambra, não é totalmente impossível uma votação expressiva, de cerca de um por cento, mas o MAS diz-se atento a “uma certa vontade que as pessoas têm de castigar a esquerda, a esquerda que lá tem estado [no parlamento], particularmente o Bloco e o PCP”.

Isso pode provocar duas coisas: “Ou, por um lado, a pressão do voto útil, para não vir um governo de direita, que vai concentrar [os votos] no PS, ou, desses descontentes com o Bloco e o PCP, pode haver muita gente desiludida que vai para a abstenção, mais uma vez”.

O nosso grande desafio diria que é conseguir mostrar às pessoas que nós de facto somos uma alternativa diferente, que temos outra proposta, que queremos no fundo acordar a esquerda, no sentido de a esquerda se lembrar do seu perfil irreverente e combativo nas ruas, concluiu.

MAS diz que PCP recusou proposta de unidade e BE ignorou

A porta-voz do Movimento Alternativa Socialista (MAS) afirmou esta quarta-feira que o partido propôs ao BE e ao PCP a criação de uma plataforma à esquerda, com partidos, sindicatos e movimentos, o que o PCP recusou e o BE ignorou.

Renata Cambra, disse em entrevista à agência Lusa, que, em novembro de 2021, fez um apelo ao Bloco e ao PCP para que fossem recebidos, com uma proposta de unidade.

A proposta visava “criar uma plataforma entre eles [BE e PCP] e que chamassem outros movimentos, mas sobretudo entre eles, para fazerem um acordo programático independente do PS”.

Segundo explicou, o Bloco não respondeu, mas o PCP, através de dois elementos do Comité Central (Jorge Pires e Maria Adelaide Alves) ouviu a proposta, apresentada por Gil Garcia, na altura porta-voz do MAS, e Renata Cambra.

Aquilo que nos foi dito é que o PCP não vê a possibilidade de fazer uma unidade de esquerda, porque considera que não há nenhuma força no parlamento disponível para um programa de governo patriótico e de esquerda e que por isso era uma questão que não estava em cima da mesa, que não era possível fazer unidade, contou.

E sublinhou: “O nosso pedido para uma alternativa de esquerda nem sequer é para formar um partido entre o Bloco e o PCP. O nosso apelo à unidade que nós fizemos vai no sentido de estes dois partidos ajudarem a impulsionar uma plataforma à esquerda que seja capaz, inclusive, de incluir, por exemplo, alguns movimentos sindicais ou movimentos sociais, outras organizações mais pequenas de esquerda, para confluir em torno de um programa”.

Quando nós vamos a eleições, nós apresentamos programas, nós apresentamos as nossas propostas e o BE e o PCP o que fizeram nos últimos seis anos foi abdicar das suas propostas, foram partidos que adormeceram e, por terem adormecido, enquanto oposição, é que a extrema-direita ganha o fôlego que ganha e que cresce.

Tanto o Bloco como o PCP, acusou, “mais do que estarem preocupados em se unirem para criar essa alternativa de que todos nós precisamos – não é só o MAS, não é só o Bloco, não é só o PCP, são as pessoas – estão preocupados em reconstruir cada um o seu quintal”.

Isto porque “viram o que foram as eleições nos Açores, viram o que foram os resultados nas autárquicas, sabem que cada um deles vai perder votos e, à semelhança do que por exemplo aconteceu com o Bloco em 2011, depois do apoio ao Manuel Alegre, juntamente com o Sócrates – o Bloco perdeu metade da bancada parlamentar porque se tinha aproximado demasiado ao PS, perdeu metade da bancada parlamentar – e depois até 2015 voltou a fazer um giro à esquerda para, como oposição, recuperar a bancada que recuperou em 2015 que lhe permitiu entrar na geringonça”.

Para Renata Cambra, “o Bloco e o PCP vão fazer hoje exatamente a mesma coisa”.

Percebem que, com os últimos seis anos, perderam enquanto esquerda, perderam enquanto oposição, e agora vão precisar de fazer, cada um no seu quintal, enquanto oposição, reconstruir o seu caminho para poderem recuperar aquilo que vão perder agora, de certeza absoluta. E essa é a sua preocupação, mais do que dar uma alternativa às pessoas, afirmou.