O realizador norte-americano Peter Bogdanovich, responsável por filmes como “A Última Sessão” e “Lua de papel”, morreu quinta-feira aos 82 anos, em Los Angeles, avançou a publicação The Hollywood Reporter.

De acordo com a publicação, que cita Antonia Bogdanovich, filha de Peter Bogdanovich, o realizador morreu em casa, de causas naturais.

Peter Bogdanovich nasceu em 30 de julho de 1939 em Kinsgton, cidade no estado de Nova Iorque, filho de um pianista sérvio e de uma pintora austríaca que emigraram para os Estados Unidos para fugirem ao nazismo.

Em 1971, com “A Última Sessão”, Peter Bogdanovich recebeu duas nomeações para os Óscares, nas categorias de Melhor Realizador e Melhor Argumento Adaptado, esta partilhada com o escritor Larry MucMurtry, com quem revisitaria o filme e a cidade, 20 anos mais tarde, em “Texasville”.

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“A Última Sessão”, que conta no elenco com atores como Jeff Bridges e Cybill Shepherd, teve oito nomeações para os Óscares, em 1971.

O sucesso do filme deixou, porém, esquecido um dos seus principais documentários, “Directed by John Ford”, um dos primeiros a destacar a dimensão do realizador de “A Desaparecida”, além do ‘western’.

Na filmografia de Bogdanovich sucedem-se então filmes como “Que se Passa Doutor?”, com Barbra Streisand e Ryan O’Neal, e “Lua de Papel”, com Tatum O’Neal, ambos vencedores de Óscares – o segundo, atribuindo à jovem atriz a estatueta dourada de Melhor Atriz Secundária, a mais nova de sempre então distinguida pela academia.

Da vasta filmografia do realizador destacam-se também “Amor Eterno”, com Burt Reynolds e Cybill Shepherd, “Romance em Nova Iorque”, com Audrey Hepburn, Ben Gazzara, Patti Hansen e Dorothy Stratten, “Texasville”, de novo protagonizado por Jeff Bridges e Cybill Shepherd, “O Grande Sonho”, com River Phoenix, Samantha Mathis e Dermot Mulroney, e “Máscara”, com a cantora Cher.

Muitos destes títulos, como aliás “Daisy Miller”, a partir da novela de Henry James, “Vendedor de Sonhos”, também com Ryan O’Neal, e “Noites de Singapura”, também com Ben Gazzara, contribuíram para o colocar entre os principais realizadores norte-americanos, na década de 1970.

O assassinato da atriz Dorothy Stratten, em 1980, viria a ensombrar a estreia de “Romance em Nova Iorque”, no ano seguinte. O compasso de espera de Bogdanovich estendeu-se até 1985, quando concluiu “Máscara”, seguindo-se “Ilegalmente Tua”, em 1988, com Rob Lowe e Collin Camp.

A partir de meados da década de 1990, o realizador dirigiu sobretudo filmes para televisão, e chegou a assinar a realização de um episódio da série “Sopranos”, da qual fez parte do elenco, recorrentemente, como Elliot Kupferberg, o terapeuta da terapeuta de Tony Soprano.

Bogdanovich apareceu também em alguns episódios de séries como “Lei & Ordem: Intenções Criminosas”, “Rizzoli & Isles” e “Get Shorty”.

Como realizador, desde os anos de 1990, assinou produções como “Cidade Nua: Suspeitas Fatais”, “Rescuers: Stories of Courage: Two Women”, “The Price of Heaven”, que fazem parte desse conjunto de obras para o pequeno ecrã, sem todavia ter abandonado o maior: “Sentimental Education”, “O Miar do Gato”, “O Grande Sonho”, “Apanhados no Acto”, “Ela é Mesmo o Máximo”.

O cinema documental permaneceu igualmente entre as suas preferências, com títulos como “Tom Petty and the Heartbreakers: Runnin’ Down a Dream”, dedicado ao músico norte-americano, e “The Great Buster”, o seu derradeiro trabalho, uma biografia do herói do cinema mudo Buster Keaton, com mais de uma hora e 40 minutos de duração, que o Festival de Veneza distinguiu como melhor documentário, em 2018.

O cineasta esteve em Portugal pelo menos uma vez, em 1999, na III Bienal de Cascais, onde foi homenageado e também agraciado pelo Presidente da República de então, Mário Soares, com a comenda da Ordem do Infante D. Henrique.

Em abril do ano passado, aquando da reabertura da Cinemateca Portuguesa, após alguns meses encerrada no âmbito das medidas decretadas pelo Governo para tentar conter a pandemia da covid-19, esta instituição anunciou uma retrospetiva da obra de Peter Bogdanovich, que ainda não chegou a acontecer.

Numa entrevista ao ‘site’ C7nema, em 2021, quando foram assinalados os 50 anos sobre a estreia de “A Última Sessão”, Peter Bogdanovich disse, sobre o filme e sobre o cinema independente em que sempre apostou: “Não fizemos uma revolução, só mudámos o processo. Os filmes pararam de ser feitos para estrelas, como os estúdios queriam, e passaram a abordar temas que traziam a realidade à tona. Só demos uma injeção de realismo às veias do cinema”.