É dia de Reis. Os vizinhos espanhóis estão em festa e só agora trocam os presentes guardados debaixo da árvore de Natal, porque, afinal, foram os reis que levaram prendas – ouro, incenso e mirra – ao Menino Jesus. O que está por desvendar (e é apenas uma das muitas incógnitas que envolvem os reis magos) é: afinal, onde começou o caminho que os levou a eles e aos presentes até Belém?

Na Bíblia, há apenas uma referência à visita dos magos, no Evangelho segundo Mateus, o primeiro livro do Novo Testamento, no segundo capítulo da história descrita por este apóstolo. Os reis magos teriam sabido que “o rei dos judeus” havia nascido em Belém da Judeia (uma parte montanhosa no sul da atual Palestina, entre o Mar Morto e o Mar Mediterrâneo). Segundo o livro sagrado dos católicos, os magos tiveram um sinal divino sob a forma de uma estrela que lhes indicou o caminho até ao estábulo onde Jesus estaria abrigado.

E, tendo eles ouvido o rei, partiram; e eis que a estrela, que tinham visto no oriente, ia adiante deles, até que, chegando, se deteve sobre o lugar onde estava o menino.

Sabe-se que foram guiados por uma estrela (ou um cometa, mas essa é outra discussão) e que vieram do Oriente rumo a  Jerusalém e, antes de encontrar a família sagrada, cruzaram-se com Herodes, que via o seu poder ameaçado com a chegada do Messias ao mundo. Pediu-lhes (enganosamente, segundo o relato) que, depois de ver o menino, regressassem ao palácio para lhe indicarem o caminho porque também ele queria prestar homenagem ao bebé. Os reis magos terão concordado primeiro, mas foram “por divina revelação avisados num sonho para que não voltassem para junto de Herodes” e partiram para a sua terra por outro caminho.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Alinhamento de planetas, explosão de uma supernova ou cometa? As 3 teorias que podem explicar a Estrela de Belém (ou não)

O Oriente é grande, por isso as teorias são muitas. Pode indicar a Arábia, a Mesopotâmia ou algum outro território próximo da Palestina que, na altura, era o berço do estudo da astrologia e da astronomia.

A teoria mais conhecida, do profeta Isaías, é que os magos vinham da Babilónia, exatamente porque, por terem sido guiados por uma estrela, sabiam de astronomia.

Uma outra referência, vem feita no Atlas Catalão de 1375, de Abraham Cresques e que está hoje na Biblioteca Nacional de Paris. Nesse pergaminho colorido, há também referências bíblicas, entre elas sobre os três reis magos, ainda que fiquem de fora as outras personagens do presépio.

The Catalan Atlas.

O cartógrafo judeu colocou acima da legenda que se refere à Índia (representada pela figura de um rei sentado ao lado da palavra Nova Deli) os magos montados nos seus cavalos, que estariam a seguir a estrela, ainda que esta também não esteja retratada. O dedo de um dos reis aponta apenas para cima, em direção ao céu, enquanto que à sua frente aparece a palavra Társia, na Pérsia. Jerusalém está localizada praticamente no centro do mapa e Belém está nas suas proximidades, sem contornos definidos.

De França para Itália, onde um documento apócrifo dos arquivos do Vaticano pode dar igualmente algumas informações sobre o lugar de onde eram provenientes os magos que terão ido adorar Jesus Cristo quando ele nasceu. “A Revelação dos Magos” foi traduzido pela primeira vez por Brent Landau, um professor de Teologia da Universidade do Oklahoma que teve acesso ao documento descoberto no século XVIII e redigido na segunda metade do século II (possivelmente pelos filhos dos reis magos). Se a tradução do sírio antigo para o inglês for fiel, o documento, conhecido por afirmar que não eram três mas 12 reis, menciona que todos podiam ser originários de Shir, uma região que na atualidade se situa em território da China, mas que no tempos antes de Cristo teria um significado mítico.

A história dos Três Reis Magos (que não eram três, nem reis, nem magos)

A rota historicamente conhecida como a do Incenso é outra hipótese para o percurso dos reis. Se a percorreram, então o ponto de partida foi Shabwah, em Hadhramaut (atual Iemen), o reino mais oriental da Arábia do Sul.