A taxa de incidência de síndrome gripal (SG) baixou para 13,3 por cada 100 mil habitantes e foram detetados 30 novos casos de gripe na última semana do ano (52), segundo o último boletim de vigilância da gripe do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), esta sexta-feira divulgado.

Na semana anterior, a taxa de incidência estava nos 19,9 casos por 100 mil habitantes, mas o número de novos casos de gripe foi de apenas 22 — menos oito que esta semana. Não, não é uma contradição: as autoridades falam de casos de gripe quando a presença do vírus influenza é confirmada laboratorialmente; e referem-se a “síndrome gripal” quando os sintomas manifestados por um doente coincidem com os típicos da gripe, mas não houve confirmação laboratorial (só mesmo uma avaliação clínica).

Nenhum caso confirmado de gripe esteve internado nas 16 Unidades de Cuidados Intensivos que enviaram informação. Ou seja, apesar de ter havido o registo de casos de gripe em Portugal, nenhum deles esteve internado nos cuidados intensivos que fazem parte da rede de vigilância das autoridades de saúde ao longo da semana entre 27 de dezembro e 2 de janeiro.

Não foi o que aconteceu na semana anterior, por exemplo, em que uma pessoa esteve internada com gripe numa das 17 unidades de cuidados intensivos que reportaram informações ao INSA.

Dos 30 casos diagnosticados esta semana, 24 foram provocados pelo vírus do tipo A, sendo três deles do subtipo A(H3N2); e seis casos positivos para o vírus da gripe do tipo B. Segundo o INSA, desde a semana 40/2021 foram identificados outros agentes respiratórios em 2.633 casos e entre 27 de dezembro e 02 de janeiro foram detetados 104 casos positivos para outros agentes respiratórios, “na sua maioria vírus sincicial respiratório”.

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Apesar da redução na taxa de incidência, o boletim de vigilância epidemiológica da gripe e outros vírus respiratórios continua a indicar uma tendência crescente da atividade gripal. O boletim avisa, no entanto, que o valor da incidência de síndroma gripal “deve ser interpretado tendo em conta que a população sob observação foi menor do que a observada em período homólogo de anos anteriores”.

Mortalidade por gripe “dentro do esperado” para a época do ano

Em comparação à época gripal passada, na semana 52 — 21 a 27 de dezembro de 2021 — não foram detetados casos de gripe nas redes sentinela (constituída por médicos de medicina geral e familiar), mas encontraram-se cinco na Rede Portuguesa de Laboratórios para o Diagnóstico da Gripe (hospitais). À semelhança do que acontece este ano, não havia casos internados nos cuidados intensivos.

Em 2019, ainda antes da pandemia (e da implementação de medidas de contenção contra a Covid-19 que também funcionaram na prevenção da gripe), na semana 52 — entre 23 e 29 de dezembro — a taxa de incidência era de 44,35 casos por 100 mil habitantes e foram detetados 170 doentes com gripe. Só um destes casos estava nos cuidados intensivos, embora houvesse seis em enfermaria (este ano, não havia nenhum na mesma semana)

Na semana de 27 de dezembro a 2 de janeiro (semana 52), a taxa de incidência de infeção respiratória aguda (IRA) — que inclui os casos de gripe, mas de outras doenças respiratórias agudas também — foi de 59,9 por 100 mil habitantes, refere o INSA, alertando igualmente que a população sob observação (15.037) foi também menor do que em anos anteriores.

Os valores de vigilância clínica da gripe foram apurados através da rede médicos-sentinela, um sistema de informação constituído por médicos de medicina geral e familiar do continente e das regiões autónomas.

No que se refere à vigilância laboratorial, que permite a identificação de vários vírus respiratórios, o boletim do INSA indica que, no âmbito do Programa Nacional de Vigilância da Gripe, na época 2021/2022, “foram analisados 265 casos de IRA/SG, tendo sido detetado um caso positivo para o vírus da gripe do tipo B na semana 49/2021“.

Desde o início da época de vigilância (semana 40/2021), foram detetados outros vírus respiratórios em 88 casos de IRA/SG: 43 rinovírus (hRV), 22 vírus respiratório sincicial (RSV), 11 coronavírus (hCoV); dois parainfluenza (PIV), dois metapneumovirus (hMPV), três enterovírus (hEV) e cinco infeções mistas.

O boletim do INSA indica igualmente que a mortalidade por todas as causas está “dentro do esperado para esta época do ano“.

Europa ainda está no início da epidemia de gripe, diz INSA

A vacinação contra a gripe arrancou em Portugal no final de setembro, mais cedo do que o habitual devido à pandemia de Covid-19, estando já vacinadas mais de 2,4 milhões de pessoas, segundo os últimos dados da Direção-Geral da Saúde.

Sobre a situação europeia, o boletim do INSA indica que na semana 50/2021 se observou “uma tendência crescente na atividade gripal na Europa, com predomínio do vírus da gripe do subtipo A(H3)”. Cinco países (Israel, Arménia, Suécia, Rússia, Moldávia) apresentaram uma taxa de deteção laboratorial do vírus da gripe acima de 10 % e na globalidade de amostras testadas foi registada uma taxa de 9,5 % de positividade para o vírus da gripe.

“Consequentemente, dado que na semana 49/2021 já havia sido observada uma taxa de deteção laboratorial acima de 10%, considera-se que a região europeia se encontra no início de atividade epidémica de Influenza”, acrescenta.

De entre 1.136 amostras sentinela testadas, 108 (9,5 %) foram positivas para o vírus da gripe (107 amostras positivas para o vírus da gripe do tipo A e uma amostra positiva para o tipo B). Das 80 amostras do vírus da gripe do tipo A subtipadas, todas foram do tipo A(H3).

Nos sistemas de vigilância de base hospitalar foram confirmados laboratorialmente, em unidades de cuidados intensivos (UCI), 75 casos de gripe do tipo A e quatro do tipo B. De entre 26 amostras do vírus da gripe do tipo A subtipadas, 30,8 % eram do tipo A(H1)e 69,2 % do tipo A(H3), adianta o boletim.