A estreia de Neemias Queta da NBA tinha sido resultado de uma conjugação de vários fatores que incluíam não só lesões mas também um surto de Covid-19 que chegou ao próprio treinador. Agora, a estreia a marcar na NBA foi fruto de uma conjugação quase cósmica. Das ausências de Richaun Holmes, Tristan Thompson e Damian Jones ao jogo menos conseguido de Alex Len, das próprias características que o encontro frente aos Cleveland Cavaliers foi ganhando à entrada decidida na partida. Neemias fez o quarto encontro na principal liga de basquetebol norte-americana para fazer mais do que tinha conseguido nos primeiros três. E fez. Em minutos (24.05), em pontos (11), em lançamentos (quatro em sete, com 75% de eficácia na linha de lance livre), em ressaltos (cinco, como na estreia com os Memphis Grizzlies), no salto positivo quando esteve em campo (mais oito, o melhor da equipa). A noite de 10 de janeiro de 2022 foi o momento de afirmação.

Os primeiros na NBA. Neemias Queta marcou 11 pontos aos Cleveland Cavaliers

Apesar da derrota frente aos Cavaliers por 109-108, a quinta consecutiva e com um lançamento falhado em cima da buzina, o português foi a boa notícia saída de uma noite que voltou a ter Tyrese Haliburton como o melhor marcador da equipa (21 pontos com oito assistências), a ponto de ter acabado com mais alguns segundos do que o poste que iniciou a partida, o ucraniano Alex Len – que terminou apenas com quatro pontos e dez ressaltos, seis deles ofensivos, em 23.55 minutos –, jogando em alturas mais críticas da partida com dois momentos altos: o lançamento que deu os primeiros pontos na NBA antes de uma corrida para tentar evitar de imediato o ataque contrário e um alley-oop após assistência de De’Aaron Fox.

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“Senti-me bem em campo. Senti que consegui ajudar a equipa na defesa, nos ressaltos e que fui uma presença em campo. Fiz o que tinha de fazer. Acho que fizemos um bom jogo, foi pena não termos conseguido vencer”, começou por dizer Neemias Queta na conferência de imprensa após o encontro frente aos Cavaliers.

“Antes do jogo o treinador disse-me para estar preparado porque eu ia entrar cedo mas eu já sentia que estava preparado há algum tempo. Todas as partidas são sempre um desafio novo na NBA. Nos últimos dois jogos tive oportunidades para marcar mas a bola não entrou. Hoje senti-me mais tranquilo. No fim do dia isto é apenas basquetebol, algo que fiz durante toda a minha vida e sinto-me confortável. Sabia que quando a oportunidade surgisse eu ia aproveitar”, acrescentou o poste português, um dos elementos mais falados após a partida e com recordação de algumas frases que tinha destacado antes: “Houve uma altura na universidade em que estive quase dois anos sem ir a casa e ver a minha família. Existe sempre um sacrifício que se tem de fazer mas que acaba por ser pago por jogar na NBA e marcar presença nesta liga”.

“Fiquei muito entusiasmado por ele. Obviamente que sabemos que ele é um preferido na liga e no seu país. Fizemos boas jogadas, tivemos bons momentos na defesa. Fez um jogo muito bom em termos gerais e tem estado muito bem na G League, por isso não foi grande surpresa porque sabemos o que ele vale”, elogiou também Tyrese Haliburton na conferência a propósito do encontro de Neemias Queta, que nos encontros que fez esta semana pelos Stockton Kings mostrou também que atravessa um grande momento.

Já antes, em vésperas de Natal, Neemias Queta tinha falado ao site oficial dos Sacramento Kings sobre as primeiras experiências na NBA, recordando também o trajeto que fez do Vale da Amoreira até aos EUA.

“É uma grande honra. Não há nada que nos seja oferecido, temos de fazer por merecer. Sinto que foi algo que procurei desde comecei a jogar basquetebol e foi um grande feito alcançado. Estou muito contente com o que está a passar e só quero levar a minha carreira o mais longe possível”, referiu, antes de contar que no início ainda arriscava mais o futebol tendo Cristiano Ronaldo como ídolo em vez de LeBron James e que foi algo positivo nesse momento andar em equipas do escalão acima do seu: “Serviu para amadurecer rápido”.

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“Não era propriamente um protetor do aro, por assim dizer. Precisava de desenvolver o meu corpo, de ficar mais forte e de ser capaz de me mexer melhor em campo. Com o tempo comecei a perceber que com o meu tamanho podia ter outra presença no jogo interior e senti que era aquilo que mais tinha de desenvolver. Até aos 16 ou 17 anos jogava como um hobbie, nunca pensei que fosse algo para fazer vida. Com a ajuda dos meus treinadores, com a influência que tiveram em mim, consegui mudar a minha mentalidade. Foi nessa fase que me foquei a 100% no basquetebol”, acrescentou, falando também da experiência nos Utah State Aggies antes de se colocar no draft da NBA e ser escolhido na segunda ronda pelos Sacramento Kings.