Donald Trump interrompeu subitamente uma entrevista por telefone com Steve Inskeep após o jornalista da National Public Radio (NPR) o ter pressionado acerca das inúmeras incoerências no seu discurso sobre as eleições de 2020.

Um ano após as eleições presidenciais que colocaram o democrata Joe Biden na Casa Branca, Trump continua a insistir que houve fraude eleitoral e que o número de votos foi superior ao de eleitores estados como o Arizona ou Pensilvânia. Para o ex-Presidente dos Estados Unidos da América, só assim se explica a vitória de Biden, na qual “ninguém acredita”.

“Acha que o Biden teve 80 milhões de votos?”, perguntou a Inskeep. “É que eu não acredito”, disse. “Como é que ele, que falou em vários locais sem que ninguém o ouvisse, de repente tem 80 milhões de votos? Ninguém acredita nisso, Steve. Ninguém acredita”, insistiu.

Foi imediatamente após a divulgação dos resultados eleitorais que Trump denunciou a existência de uma alegada fraude eleitoral, sem porém apresentar quaisquer provas que sustentassem as suas declarações. As acusações levaram a averiguações por parte do Departamento da Justiça, que a 2 de dezembro, cerca de um mês após a votação, anunciou não ter encontrado quaisquer indícios de manipulação dos resultados, que deram a vitória a Biden, que teve o maior número de votos de sempre numa eleição presidencial (mais de 81 milhões).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

No entanto, Trump continuou a falar numa fraude, divulgando um dia depois um vídeo em que dizia ter sido “roubado” e que tinha havido uma “ação orquestrada” para o afastar da Casa Branca. Na entrevista à NPR, o ex-Presidente não chegou a falar numa conspiração, mas voltou a defender que houve manipulação, só assim se explicando o número de votos de Biden. Questionado sobre se considera uma desvantagem para os republicanos que se continue a falar da eleição, Trump disse que não, que pensa ser fundamental que o tema continue a ser discutido para que a situação não se repita.

“As pessoas não têm ideia de quão importante este assunto é”, afirmou, defendendo que se os membros do seu partido forem “espertos” continuarão a apoiá-lo, como Kari Lake tem feito. Lake é candidata ao governo do estado do Arizona em 2022 e apoiante de Donald Trump.

“As pessoas não querem que isto aconteça outra vez. E a única maneira de impedir que aconteça outra vez é resolver o problema da eleição manipulada de 2020”, afirmou Trump pouco antes de desligar o telefone, sem sugerir de que maneira “o problema” poderá ser resolvido.

Apesar da curta entrevista, houve ainda tempo para abordar a pandemia. Defendendo que outros tratamentos deviam ser tornados acessíveis, o ex-Presidente, numa clara mudança de tom, disse recomendar que se tomasse a vacina contra a Covid-19. “Recomendo que se tomem [as vacinas], mas acho que deve ser uma escolha individual. (…) Muitas pessoas as recomendam. E se algumas pessoas não as querem tomar, não devem ter de as tomar. Não devem ser mandatárias, como se costuma dizer. E acho que isso é muito importante”, disse, admitindo que se sente “muito confortável” ao tomá-las e que não teve qualquer efeito secundário.